quinta-feira, 17 de abril de 2008

SÓ A PESQUISA PODE DAR RESULTADOS

Fátima Almeida

É ilusão acreditar que as pessoas que chegam ao poder no Acre, através de eleições, o façam sem uma base econômica. Aqui não se vence eleições por menos de R$ 150 mil e só quem pode bancar isso são os pecuaristas e os empreiteiros, o que dá no mesmo, pois estes servem também àqueles. Além do mais, existe o megaprojeto de embelezamento das capitais na Amazônia pobre para atender aos interesses das megaempreiteiras com extremo rigor sobre as populações carentes que moram em áreas alagadas, não podem sair de casa quando chove, não têm sistema de esgoto, e quando conseguem montar um pequeno negócio no centro são enxotados de volta para a periferia que já explodiu há muito tempo.

Na semana passada encontrei um jovem casal que veio de Tarauacá para “tomar de conta” de uma colônia, para onde conduziam, na cabeça, um sacolão, através de um ramal imprestável com três meninos cujos braços pareciam palitos.

- Vim pra cá por conta de melhoria na saúde, porque meus três filhos têm essa tal de hepatite, e lá é mais difícil de tratar. Fui eu que passei para eles mas, eu num sabia” - disse a mulher, sem nenhum dente na boca, que não sabe o que é jornal muito menos blog. Enquanto isso, a Embrapa dá início à inseminação artificial, conforme ouvi dizer.

Em Manaus, pelo menos existe o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que faz pesquisas voltadas para o sócioambiental. Aqui no Acre não tem sequer um núcleo do Inpa cujo ministério, o da Ciência e Tecnologia, apresenta mais resultados que o Ministério do Meio Ambiente, que é um mero aporte burocrático, com tremendo desgaste para a Marina Silva.

A pecuária no Acre está à frente de todos os demais setores da economia, pois compreenderam que não é mais possível fazer coisa alguma sem aporte científico. Os organismos de meio ambiente, desde a gestão do ex-governador Flaviano, é passagem de pesquisadores que logo se mandam para ser consultores do BID. Mas isso é compreensível porque ninguém, em sã consciência, vai desafiar grupos tão poderosos isolados em meio à uma massa de analfabetos e pequenos grupos de intelectuais de classe média altamente personalistas.

O que ainda podemos esperar é que pessoas como Perpétua Almeida, Henrique Afonso e outros deputados corram atrás do prejuízo e pressionem o Governo Federal para trazer o Inpa que, em parceria com a Universidade Federal do Acre, como ocorre em Manaus, dê impulso às pesquisas de cunho sócioambiental. Sinceramente, acho que está na hora de abandonar de vez esse personalismo generalizado que não traz nenhum resultado. Só a pesquisa pode trazer resultados.

Fátima Almeida é historiadora

5 comentários:

Unknown disse...

Cara Fátima,
Concordo plenamente que as pesquisas podem trazer excelentes resultados. Entretanto, deve-se ressaltar que as pesquisas serão inócuas se não se transformarem em políticas públicas, uma vez que há uma grande distância entre as descobertas dos resultados científicos e sua implementação prática. O tempo e os vieses políticos nem sempre coadunam-se com os interesses da sociedade.

Válber Lima disse...

Altino, esse sim é um artigo consistente. Importante para o debate político-econômico do Acre hoje. Nada a ver com esse papo de dilema de Medéia.

Saudades do Acre disse...

A professora Fátima afirma que "Aqui no Acre não tem sequer um núcleo do Inpa" (e eu acredito). Mas o INPA afirma o contrário no endereço abaixo:

http://www.inpa.gov.br/sobre/historico2.php

Pelo visto, tal núcleo já existe de direito.
Resta identificar e anular as forças ocultas que impedem sua implementação de fato.

Unknown disse...

A professora Fátima vai no alvo, certeira: o sistema é capaz de gerar manipulações incríveis para garantir a sua reprodução. Diz praticar a democracia. Não dá nem para falar que se trata de uma invenção burguesa, afinal, vem lá dos gregos, de uma fase anterior a invenção da civilização ocidental dos cristãos. E ainda se alega, hoje, que, agora, é um sistema que melhorou porque faz todos votarem - torna todos iguais - o que não acontecia entre os gregos. Mas, quem vota em quem e por que vota? As coerções estruturais ficam bem dissimuladas. E todos acreditam-se livres no exercicio de votar. E assim la na va. Política, cultura, economia e tudo mais é adptado às necessidades reprodutivas do capital. Cria, como nenhum outro sistema na história foi capaz, mecanismos e estruturas dissimuladores que deslocam para pontos inacessíveis as raízes das suas leis de movimento. A professora Fátima capta, na particularidade acreana, um fato interessantissimo: as lideranças populares ou, pelo menos, nascidas nos embates da luta popular, para alcançar o poder são envolvidas pelo mecanismo eleitoral. Na aparência, o mecanismo eleitoral é o processo pelo qual o povo escolhe suas representações. Logo, raiz da organização da democracia burguesa. Mas, segundo a tese da professora, pelo menos no caso acreano, esse processo se converte numa estrutura de cooptação, capaz de gerar uma interversão. É exatamente ao longo do processo eleitoral que se promove a cooptação das lideranças pelos interesses reprodutivos da classe dominante. Isso ocorre quando o processo eleitoral se converte numa estrutura tocada, pesadamente, pelo dinheiro. Vale aí o monopólio de classe, o monopólio fundamental do sistema, o monopólio sobre a riqueza social que é um monopólio exercido pela classe burguesa. Essa cooptação é explicitada para quem dela participa, através dos acordos, conchavos, acertos, partilhas, etc.

...para piorar, mesmo depois de manter-se no poder, lideranças apoiam em rics campanhas de propaganda criando a falsa impressão de que ainda laboram nos espaços da luta pelas transformações. Lula continua, até agora, ocupando o lugar num palanque e a oposição ... bem a oposição,,,

Unknown disse...

Tem uma passagem do meu comentário que deve ser lido "la nave va"...