Fátima Almeida
Desde o Renascimento que o relógio e demais instrumentos de medição foram o suporte da tendência geral à racionalização do tempo e do espaço. Sem eles a ciência moderna não teria acontecido e nem a revolução industrial. Desde então a ciência esteve a serviço de uma classe que se apropria pela força dos recursos humanos e ambientais de vastos territórios. E de Estados autoritários como a China, que está destruindo o Tibet, com o consentimento de todos os malditos que lideram a economia de mercado no mundo.
O caráter excludente do sistema produz sempre marginalização e desemprego em progressão geométrica que leva à cocaína e derivados, ao álcool, do uísque à cachaça, à violência que atinge a todas as classes como num conto de Alan Poe. Sendo que o império da mídia, pra completar, veio abolir as fronteiras naturais do dia e da noite. São 24 horas no ar. Trabalha-se mais, vive-se menos.
Daí, o estresse generalizado. A síndrome do pânico é uma reação da sensibilidade a essa impossibilidade geral de viver em paz e segurança. A internet deixa nos pais a inquietação latente de não ter mais controle sobre as aquisições intelectuais e morais feitas por seus filhos; as TVs abertas e fechadas constituem o único canal de comunicação para as pessoas, em separado, destruindo as possibilidades de convivência e as realizações coletivas fora da lógica de mercado.
Pessoas viraram ilhas. As propagandas impelem ao consumismo para a queima de combustíveis, sendo que ninguém vai a lugar nenhum, numa ridícula imitação do estilo norte-americano patrocinada pela mídia. E um governo que muda as regras do jogo a toda hora, totalmente avesso à democracia grega, onde as leis eram preservadas a todo custo devido à convicção de que não é possível alterar e mudar dispositivos legais sem mais nem menos sem incorrer no risco de gerar uma instabilidade geral. Perde-se a saúde coletiva que deveria ser a razão de existir de todo Estado.
A mudança de fuso horário é apenas a ponta do iceberg. O progresso manifesto nas realizações científico-tecnológicas, como um Titanic, imponente, grandioso, empolgante, leva a todos para o fundo mesmo porque todos desejam estar nele, todos almejam ficar plugados às cenas da TV que é o seu paraíso. Não fosse assim, senado nenhum teria poder para mudar fuso horário.
Pelo menos nós aqui no Acre temos os mais belos Out-doors que já se viu, com imagens dos nossos indígenas em sua existência absorta a essa aceleração enlouquecida do tempo. Fotografias belíssimas, contraponto à toda essa loucura que invadiu o nosso velho Acre. Quanto ao grupo de teatro 4° Fuso, do Jorge Carlos, agora virou de fato, peça de Museu.
◙ Fátima Almeida é historiadora.
2 comentários:
Ó bruaca, faça-me o favor de adiantar uma horinha no teu relógio!
Quem pode, manda. Quem não pode, aumenta a hora de nada acontecer.
Prepara teu voto pro Diniz. Afinal ele descobriu o segredo e o mistério dos mapas e a fórmula da pólvora.
Larga de ser besta!
Acha a outra ponta do iceberg e vem pradadonde estou.Aqui são exatamente 14.50. E todo o mundo acorda feliz!
"...belos Out-doors ..., com imagens dos nossos indígenas."
Pelo que vemos, o que restará dêles.
Postar um comentário