terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

UMA HISTÓRIA SEM HERÓIS

Antonio Alves

No início do mandato do Jorge Viana propus que a relação do governo com a imprensa fosse “técnica e comercial”, pautada na remuneração de serviços efetivamente prestados, independente da opinião ou alinhamento político de empresas e jornalistas. Jorge me disse, claramente: “Você quer tratar como se imprensa fosse comunicação, mas imprensa no Acre é política; vou tratar como política”. Acho que ele estava certo. Mas acho que eu estava mais certo ainda.

A presença do Washington Aquino na direção da Difusora, emissora estatal, fazia parte do mesmo sistema político que inclui as emissoras privadas, seus principais programas, assim como os jornais e seus colunistas. A demissão do Washington, portanto, não tem nada a ver com a liberdade de expressão, é uma decisão política.

Washington usava a mesma tática que o resto da imprensa usa: poupar o governador e descer a lenha nos secretários e assessores. Assim, pode-se permanecer alinhado ao governo e, ao mesmo tempo, manter a imagem de defensor do povo. Só que o Binho não acha que o governo seja uma frente política, tem a ilusão de que é uma equipe na qual todos se respeitam e colaboram entre si. Para ele, a direção da Difusora, a direção do sistema penitenciário, ou da saúde, ou da educação, todos tem direitos diferentes em seu campo de trabalho mas deveres comuns como parte do mesmo governo. Assim, o jornalista da Difusora pode discordar, por exemplo, das decisões de uma diretoria da Secretaria de Educação. Pode até criticar publicamente, mas não deve fazer campanha pra derrubar, ou seja, não deve tentar fazer do aparelho do Estado o espaço para disputas políticas.

Acho essa visão do Binho um tanto administrativa, até mesmo burocrática, além de estar assentada numa ilusão. Quer ele queira, quer não, o governo é um campo de disputa política que, infelizmente, tem “p” minúsculo. É uma disputa mesquinha e fratricida. A esperança do atual governador, de manter uma equipe afinada, é incompatível com o sistema político montado pelo governador anterior. Imagine os abacaxis que a assessoria política do governo tem que descascar nas rádios de Sena Madureira e Tarauacá, principalmente nesse ano de eleições municipais. É impossível ter paz. Esse tipo de arranca-rabo acontece o tempo todo e tende a ficar ainda mais brabo na medida em que se aproxima o dia da posse do próximo governador.

De qualquer forma, se não conseguir fazer uma mudança no sistema Difusora, tornando-o mais informativo-cultural e menos politiqueiro, o governo pode agora, pelo menos, fazer algumas pequenas mudanças na linguagem e no formato dos programas. Todo mundo sabe que o Washington, assim como vários outros apresentadores de rádio e televisão, não conseguem simplesmente criticar: gostam mesmo é de espinafrar, sentar o pau, esculhambar com bastante sarcasmo, avacalhar mesmo. Os políticos e governantes morrem de medo. O Binho, parece que não.

Quanto à nota do sindicato, ora, é pura formalidade.

O jornalista Antonio Alves é da assessoria do governador Binho Marques (PT). Escreve também no blog O Espírito da Coisa.

6 comentários:

morenocris disse...

Não acho que a nota seja "pura formalidade". Perdão, Toinho. O sindicato está cumprindo com a sua função. Agora, jornalismo chapa branca é duro de doer. Mas, quando queremos mudanças, elas têm que ser pra valer, desde o início. Acho que fragilizou o governo. Olhe para o PT. Qual a diferença? Perdoa-me. Faltou jogo de cintura e articulação na comunicação.
Ai. Ás vezes me meto em coisas que não sou chamada, mas...terei que pagar por elas!

Ainda vai um beijo?

Outro pra vc Altino.

Antonio Alves disse...

Cris, vai por mim, que conheço a área. Não apenas a nota, mas o próprio sindicato é pura formalidade. Além do jornalismo chapa pranca, por aqui, tinha também o chapa marrom, mas agora embranqueceu.

Saudades do Acre disse...

Toda discordância ou crítica aberta, mesmo partindo de um componente do aparelho estatal contra outro, é um pleito democraticamente válido. O que pode invalidá-lo, e parece ter sido este o caso, é o exagero. Essa palavrinha mágica que costuma invalidar tudo que não tangencie o bom senso e a razão. Às vezes, nos arroubos de empolgação motivados por amor aos holofotes, por objetivos polítiqueiros ou pretensa pressuposição de blindagem, transformamos o que deveria ser uma crítica saudável com objetivos bem definidos, numa avacalhação insalubre com objetivos difusos e razões inconfessáveis que em nada contribuem para a melhoria do aparelho do Estado. Se o governador Binho quer as engrenagens de sua máquina girando em sincronia administrativa, políticagens à parte, agiu bem. Como não sou político, sou povão, aplaudo a idéia. Se uma engrenagem quebrou, troca. E manda a engrenagem quebrada pra uma retífica. De preferência em Mossoró.

Unknown disse...

Toinho, poderias ter dito para a Cris : "conheço a ária e não apenas a nota".

morenocris disse...

Acredito em você, Toinho. Retiro o que disse. Mas foi bom para debater, não foi? Olha, eu acho que você esqueceu alguma coisa para mim.

Mas eu mando pra vc: um beijo!

Outro para o Altino.

morenocris disse...

Ah, Altino, você gostou do meu perfil? Tem sugestão?

Beijocas.