sábado, 16 de fevereiro de 2008

HISTÓRIA DE HOMENS E ONÇAS

José Carlos dos Reis Meirelles

Taken-ru, pai de Taken. Os caapor (literalmente habitantes da mata) quando têm o primeiro filho homem mudam de nome e passam a se denominar com o nome do filho mais o sufixo ru, que quer dizer pai de.

Nascido e criado nas matas das cabeceiras do rio Turiassú, sem conhecer o homem branco, pelo menos amigavelmente, pois no tempo de avá-piarruté (homem novo), andou flechando uns que ousavam subir o Turiassú acima do igarapé Mundi-canguera-i-rendá (igarapé da caveira do Mundi) batizado erradamente no mapa como igarapé do Rola. Ou outros que andavam desavisados pela linha de telégrafo que atravessava suas terras no rumo do rio Gurupi.

Guerreiro respeitado de poucas palavras no dia a dia. Na conversa ritual dos ava-eté, homens de verdade, era ouvido com atenção, na roda de guerreiros de cócoras, falando o nheén-antã (fala dura, forte) e contando suas façanhas.

Os caapor descobriram um tesouro no alto dos postes da linha de telégrafo que ligava o Maranhão ao Pará. Os parafusos dos isoladores dos fios, de meia polegada de diâmetro e com 25 centímetros de comprimento, eram arrancados do alto dos postes, levados ao fogo, batidos e transformados em uma lâmina de 20 centímetros, pontiaguda, amolada dos dois lados, que era encastoada em uma fina haste de maçaranduba ou pau-brasil.

Furavam um coquinho de tucumã oco e passavam a haste de madeira por dentro dele e depois, pacientemente, faziam pequenos orifícios em sua casca escura. Depois disso esta ponta era encaixada na haste da flecha. Empenadas com rabo de arara e enfeitadas com pequenas penas de papo de tucano estas flechas são obras de arte letais E sonoras! Quando atiradas, os furos do tucumã dão um apito fino e repicado.

- Firiririririri!

Esse apito foi o último som que brancos invasores, índios inimigos, antas, veados, queixadas e, principalmente, onças ouviram, antes de serem trespassados e caírem mortos.

Estas flechas são impulsionadas por um arco de pau d'arco, corda de croata, braços fortes e treinados, desde pequenos, no ofício de flechar. Os dentes caninos das onças mortas iam para o colar que o caçador exibia com orgulho e aumentava ao longo da vida. As cabeças dos inimigos valentes viravam caixa de ressonância de flautas.

Taken-ru possuía um colar com mais de 40 dentes e algumas cabeças de inimigos quando viu assustado um rapaz negro entrando em sua aldeia. Com as mãos para cima, apontando para um moquém de carne de taiahú (queixada). Teria 20 anos, não mais. De arma levava uma faquinha na cintura, enfiada num calção de mescla listrada.

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