sábado, 2 de fevereiro de 2008

DEIXA A TABOCA RACHÁ

José Carlos dos Reis Meirelles

A expressão muito usada na Amazônia deve ter se originado, desconfio eu, de duas ou três situações. Uma é que no verão quando o tempo é seco e o sol de meio dia esquenta os canos de taboca na mata, vez por outra uma racha com um barulho parecido com um tiro chocho. Outra é que a gente usa cano de taboca verde pra cozinhar na mata. Cozinha peixe, carne, qualquer coisa. Coloque tudo dentro do cano, entupa a boca com folha de sororoca, bem entupida e coloque em pé ao lado do fogo. Vá virando de 15 em 15 minutos. Quando ela rachar, o que tiver dentro ta cozido e mole, acredite. Lembre-se de não colocar água, nem na carne, nem no peixe. Cozinha com a água deles mesmo. Até arroz dá pra fazer assim! E por fim, no tempo de tocar fogo em roçado onde tem taboca. Aí é um tiroteio louco, provocado pelo aumento de pressão no interior dos canos sem rachaduras que espocam como rojões.

A expressão é usada pra tudo que é situação.

Tô com uma ressaca danada, tão brigando ali na esquina, o barco vai alagar, o pé de pau ao lado da casa caiu em cima dela, a casa tá pegando fogo, o diabo do burro derribou a carga e danou-se de varadouro a fora, o Binidito ta namorando a mulé do Chico da Dina, a peste da canoa rachou na hora de abrir, a alagação aterrou todo o roçado de macaxeira, o forno tava quente demais e a farinha queimou, as galinha entrô no cercado da horta.

Esta noite o gato levou o galo piroco, dei uma topada numa raiz que arrancou a unha do dedo mindinho, num é que o Bitónho robô a fia do Zé Prego, o home tá valente que só surucucu choca, a onça comeu meu capadinho china, num é que as peste das capivara quase acaba com o milho do tacanal, a formiga de roça pelou as frutera, os menino arriaru tudu de sezão, diacho daquele tatu rabo chato gordo assado me deu uma caganera de chicote, dei um lance com a tarrafa novinha e cobri onze piranha caju, botaru quebrante nos meu capote novo e morreu tudinho.

Rastejei uma anta onti das 7 da manha inté as duas da tarde e a 16 bateu catolé, a paca corto a linha da armadilha, deu barata paulista na palha da casa, goro os óvu tudinho da galinha arrupiada, os pato brabo acertaru no fejão manteguinha, o produto interrrrno bruto vai ter uma rrrredução de dois pontos percentuais, bala perdida mata criança de três anos, ministra pede demissão por mau uso de cartão corporativo, integrantes de quadrilha que fraudava previdência conseguem hábeas corpus e aguardarão o processo em liberdade, juram que não vão fugir.

A crise do mercado imobiliário americano derruba as bolsas no mundo, morre a cachorrinha de estimação da socialite Zilda Prado Lins, Edson Lobão assume o Ministério de Minas e Energia, quando nada o primeiro nome lembra o inventor da lâmpada elétrica, tem a ver, índios tupiniquim interditam a linha do bondinho do pão de açúcar, Presidente Lula diz que desmatamento na Amazônia não é culpa do agronegócio e o governador Blairo Maggi diz que a culpa é das ONGS e dos índios, sem-terra invadem a casa do presidente Sarney na praia do Calhau em São Luis, índios Guajajara trocam 200 quilos de maconha por diamante de 10 quilates com os Cinta Larga, presidente Lula acerca de seu recorde de viagens para o exterior: Cobra que não anda não engole sapo, oposição: a que anda muito pega pau, o pajé tomou cipó demais e rezou a mordida de cobra do Kaí com reza pra curuba, coitado, morreu, Atxú, cadê minhas penas de papo de tucano? Menino jogou na brasa do moquém.

Ta na casa do sem jeito? Então deixa a taboca rachá.

Um comentário:

morenocris disse...

rsrs

Caramba, sou fã número desse cara! É muito bom! Que achado em Altino? O blog com ele tem o nível elevado! Que bom.

Beijos.
Bom domingo.

Obs. Vou consertar o meu comentário no outro texto dele.

:)