segunda-feira, 22 de outubro de 2007

QUE LEVEM O "ÁLCOOL VERDE" PARA LONGE

Écio Rodrigues

A produção de cana-de-açúcar, associada à famigerada pecuária bovina, põe em risco a sustentabilidade na Amazônia. A despeito de sua relativa importância econômica (em face das frágeis economias locais), essas atividades dependem do desmatamento e, na maioria das vezes, da queimada, para consolidar-se. São intensivas em insumos agrícolas e, o que é pior, em terras. Ou seja, dependem de grandes áreas para ganhar economia de escala.

O balanço final, após contraporem-se seus custos e benefícios, é negativo para a sociedade. Com um agravante importante - o prejuízo é maior no âmbito global, do que no âmbito local.

Essa desigualdade de impacto configura-se num significativo detalhe que pode, em curto prazo (como nos próximos cinco anos, por exemplo), inviabilizar a instalação de tais opções produtivas na Amazônia.

Ocorre que, como os danos são menores no lugar onde a atividade está sendo realizada, e o controle dos mesmos geralmente contraria interesses (dos aliados de toda a hora), as autoridades locais tendem a abster-se quanto à criação de mecanismos de regulação e monitoramento, que sujeitem a produção a critérios mínimos de sustentabilidade.

Em vista dessa (de certa forma) omissão no âmbito local, as discussões acerca das conseqüências danosas da expansão da cana-de-açúcar e do capim, na maioria das vezes, são travadas fora da região.

Assim, as manifestações de preocupação com a (quase total) ausência de critérios objetivos e claros que minimizem os efeitos negativos ou - com mais rigor – que impeçam a instalação dessas atividades na região amazônica vêm sempre da esfera federal, ou mesmo internacional.

Exemplo recente, vindo de Brasília, reforça essa premissa. Trata-se das declarações efetuadas pelas ministras do Meio Ambiente e da Casa Civil, no sentido de que a produção de cana-de-açúcar em área de agricultura na Amazônia não será tolerada em hipótese alguma. Ou, valendo-se das objetivas palavras da Ministra da Casa Civil:

"Dizer que o governo (federal) é a favor do uso de terras da Amazônia para o plantio da cana-de-açúcar é um grande equívoco. O Brasil não precisa da Amazônia, nem de nenhuma área agricultável para produzir álcool".

De outra banda, o Ministério Público do Acre, em atitude que merece aplausos da sociedade, e indo de encontro à premissa da omissão, ousou exigir maiores cuidados ambientais para a operação da empresa contraditoriamente denominada de Álcool Verde. Diante da reação chantagista, que ameaçou a demissão de 200 empregados e a mudança do empreendimento para outro estado, a ação da Promotoria de Meio Ambiente foi, além de acertada, muito corajosa.

A despeito das manifestações de apoio à usina de álcool, o fato é que a Promotoria de Meio Ambiente não está sozinha. Ao contrário, está muito bem acompanhada, tanto em Brasília (como demonstram as declarações das ministras), quanto no mundo (como demonstram as declarações dos ganhadores do Nobel da Paz).

O mundo globalizado não vai comprar etanol oriundo da destruição do ecossistema florestal da Amazônia. Sendo assim, podem tirar o Álcool Verde daqui.

Écio Rodrigues é professor da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em manejo florestal e mestre em economia e política florestal pela Universidade Federal do Paraná e doutor em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília. Escreve no site Kaxi

17 comentários:

Anônimo disse...

O Acre é um centro de estudos.
Podem plantar cana a vontade no resto do país, criar bois a vontade.
Aqui fica reservado só para estudos.
E aqui é o meu lugar. Se insistirem chamo meus caciques e toco fogo na cana.

Anônimo disse...

"O Brasil não precisa ... de nenhuma área agricultável para produzir álcool."

Imaginem a frase, acima, dita por uma ministra. Impressionante. Uma contradição em termos.

Anônimo disse...

E o Huck?
Já vai tarde, aliás esse negócio foi uma forçada de barra sem tamanho. Remando para trás quem inventou essa estória de alcool verde, dizer que o alcool é "verde" é prá tapar o sol com peneira. Verde ficamos nós de raiva com tanta cara de pau já nem tão verdes,mas polidos ,lisos que não pegam mais nem uma mão de peroba.

Anônimo disse...

Caro Altino,
O primeiro artigo do Écio neste Blog (23/07/07)fala que “De Rio Branco a Assis Brasil, o novo dilema ambiental, triste, diga-se, encontra-se em plantar cana ou capim”. Agora, após qualificar a “famigerada pecuária bovina”, coloca informações preciosas ao apontar que “...os danos são menores no lugar onde a atividade está sendo realizada”, para dar sustentação à neo-teoria que “...o prejuízo é maior no âmbito global”.
Interessante também quando o especialista em Manejo Florestal investe contra atividades que “...dependem de grandes áreas para ganhar economia de escala” e que não sejam “...intensivas em..., o que é pior, em terras”. È da cana-de-açúcar mesmo que ele tá falando?
Só pra lembrar e diminuir o nervosismo em torno do debate: a indústria, instalada há mais de 20 anos aqui no nosso Acre- ocupará no auge de sua produção, uma área não superior a 30.000 ha. Isso mesmo: 0,18% da área total do estado.
É muito? Zero-vírgula-dezoito-por cento??
Não demora e alguém vai propor rasgar o Zoneamento Ecológico Econômico, sem terem lido uma linha sobre a aptidão de nossas terras.
Mauro Ribeiro

Anônimo disse...

Alguem me responda se souber.

Porque os doutores em "Ecologia" não conseguem viver dela? Tem que ser professores, politicos, empregados para poder ganhar dinheiro?

Alguem conhece alguem que colocou o que a teoria diz em pratica e consegue viver disso? Sem um salario do governo ou da iniciativa privada?

Obrigado pela resposta.

Anônimo disse...

Mais uma empresa de fachada. Quer dizer que os ricos daqui não tinham cascalho para integralizar o capital?
Uma perguntinha: o Banco do Brasil recebeu aquela bolada emprestada para o antigo proprietário da Alcobrás?

Anônimo disse...

Caro Mestre em economia e política florestal, Doutor em desenvolvimento sustentável:
Com tanta bagagem e conhecimento, poderia V. Excia. mostrar algum projeto sustentável para garantir o desenvolvimento do estado, ou a exemplo de muitos que vivem fora da nossa terra, portanto despreocupados com a geração de emprego e renda só deseja o status quo, de que o Acre serve tão somente para reserva florestal e galhofas do tipo "acreano é preguiçoso" etc...?

Anônimo disse...

Caros anônimos (o antepenúltimo e o último), só mesmo a incapacidade de compreender conceitos como comunidade e democracia geram as visões deturpadas q lemos em vossas propostas maniqueístas. Os projetos sustentáveis, para um estado, país ou casa, não saem de mentes brilhantes de gabinete para serem impostas autoritariamente, como vocês gostariam. O cinismo de vossas palavras é o espelho da pobreza mental de quem só sabe se espreguiçar parante a sociedade injusta. É uma das piores coisas em q poderiam investir vossos tempos, meus caros. Eu sei, desaprendemos a ter participação na vida pública, devido à ditadura e à ignorância, mas isso é preciso ser reconstruído. Por favor, não caiam na sedução de ficar apenas em cima do muro, atirando em quem tenta fazer algo, OK?

Anônimo disse...

O Mauro Ribeiro além de português é fazendeiro, adora um cascalho, deve tá bufando de raiva de ver uma possibilidade a mais de defender um dinheirinho se indo...

Anônimo disse...

È, ninguém liga muito mesmo prá essas galhofas, também dizem tanto que português é burro, e os portugas tão nem aí.Bobagem, importante é não perder a meta.

Anônimo disse...

Que levem pra longe pessoas com o pensamento atrasado igual o desse tal professor ai... ja que voces gostam tanto de mata.. que tal ir viver com os indios na reserva do xingu, la nao tem progresso, la nao tem conforto nem agressao ao meio ambiente? porque voces nao vao pra la e deixem a amazonia produzir, deixem o acre para aqueles que querem ver o seu crescimento?

Anônimo disse...

O raciocínio do Mauro Ribeiro é de um simplismo exagerado. Isso quando consideramos de que se trata de um agrônomo com mestrado (ou seja, alguém com precoupações científicas) e para um ocupante de uma secretaria de Estado - neste caso é responsável pelo desenho de políticas públicas. Em primeiro lugar ele limita suas estatísticas a uma única empresa (que ele chama de indústria, inadequadamente). Depois, fala de que a tal indústria está "instalada" há mais de vinte anos. Será que está instalada? Aqui não é mais as estatísticas do Mauro que estão capengas é a visão dele do que significa "instalada". Como especialista que ele é, deveria lembrar que, quando calcula sua área a ser ocupada, esquece que sua estatística ficaria melhor se ele descontasse, antes, todas as áreas inadequadas para agricultura, todas as áreas que se referem aos mananciais de água (aqui, é preciso lembrá-lo que nesse caso a água não se mede por volume, mas, por área mesmo. Os lagos, por exemplo.) Deverá, também, descontar todas as áreas que, atualmente, atendem aos plantios de alimentos. E como ele é um planejador governamental, deveria incluir, também, nos descontos, as necessidades de áreas que possam ser necessárias para acompanhar o crecimento das necessidades da produção de alimentos. Quando ele terminar todas as reduções possíveis e necessárias o que vai incluir todas as áreas urbanas, etc., etc., os 0,18% dele serão muito mais.

Vamos ainda insistir da posição do Mauro como planejador governamental. Evidentemente que ele tem reponsabilidade direta na condução dos negócios acreanos. Mas ele trabalha numa entidade que é parte inte4grante de uma República Federativa. Sabe o que isso singifica, caro Mauro, que os interesses nacionais se efetivam a partir das ações federadas - isso inclui, inclusive os governos municipais. A questão ambiental tem uma marca que não pode ser esquecida: ela nã é uma ocorrência local, ou ainda, não se pode individualizar os efeitos dos danos causados no meio ambiente. Ou seja, simplificando, o enfrentamento da ameaça ambiental deve ser uma ação global, hoje, envolvendo as nações do mundo inteiro. E, Mauro, a ameaça ambiental é uma realidade. Leia os relatórios mais recentes da IPCC ou o relatório do economista inglês N. Stern.

Quando o Écio fala nas relações entre global e local, lembre-se do caráter cumulativo dos resultados das ações humanas sobre o meio ambiente. Talvez, você seja dos que acreditam que mais algumas pastagens e mais alguns "lavouras" de cana em nada repercutirá em termos de meio ambiente. Avance mais em seu raciocínio e encontrará razão para entender essa idéia de efeito cumulativo e, mesmo, reação em cadeia. Lembra da história da emissão de cfc? Pois então? Deve lembrar que a emissão CFC deflagra um processo que cessar pura e simplesmente a emissão não signfica resolver o problema.

O relatório da promotora que recomendou o cancelamento da autorização tem uma série de questões que você deveria ler, Mauro. São questões pertinentes.

Anônimo disse...

Sr. Maurício Bittencourt:
Que autoridade V. Excia está investida para condenar a opinião de pessoas qualificando-as como cínicas e maniqueístas? Essa sua filosofia barata não traz resultado prático nenhum para a discussão. Vá esperando sentando a revolução da sustentabilidade sair neste estado, mas antes vá contabilizando o aumento da miséria e da violência , fruto da falta de opção de emprego e geração de renda.

Anônimo disse...

E o Ibama???? não opnna nesta confusão por que??? para não criar caso com o Governo. É mais fácil justificar que o licenciamento é responsabilidade do IMAC e ficar rindo de fora da desgraça dos outros. Como Mão Santa nas plenárias do Senado: o Anselmooooooooooooo bota a cara de fora pra bater.

Anônimo disse...

Agora Sr. Mauro vc está sendo ´vítima" do seu proprio veneno!!!! Lembra de quando vc entrava nos editoriais da imprensa local pra "meter o pau" no governo do Jorge (o mesmo que vc ia deixar quitutes no seu gabinete...) só pq estava "esquecido" para os cargos comissionados (quem sabe o mesmo q vc ocupa hoje?! mesmo contrariando os 99% dos funcionarios da seap). Umpergunta para o binho: Governador, pq antes do senhor nomear um secretario não faz uma enquete na secretaria pra ver no nivel de satisfação?
Mas tdo bem!!!! O mauro sabe os caminhos das pedras!!!
Qto a alcool verde, todos nos sabemos do seru interesse em ativar a "coitada da alcoobras", minha gente a fazenda dele fica a poucos kilometros da alcool verde... a mesma fazenda que o incra deveria investigar sobre o acumulo de lotes que o mesmo tem, va lá incra!!!!!
bom, como disseram ele é portugues e adora dinheiro e perseguir pessoas!!! Dúvidas? faça uma visita na rua do aviário, predio sa seap... fiquem tranquilo, o mauro nunca ta lá!!!!!

Uma frase que explica bem o sr. mauro: "Façam o que eu falo, mas não façam o que faço"!!!

Obrigado Altino pela oportunidade!!!

Anônimo disse...

O Mauro é um sujeito trabalhador. Esse anônimo aí deve ser um daqueles funcionários que nunca fizeram nada pelo Acre e que agora tà sendo obrigado a dar as caras pela secretaria. Conheço o Mauro e sei da sua boa fé. Os covardes ficam atacando porque sempre ganharam sem trabalhar. Tem mais é que demitir esse tipo de funcionário. Devem estar com saudade do tempo dos FANTASMAS...!!!

Anônimo disse...

O Mauro é trabalhador e quem o conhece não poderia negar. Mas as suas posições políticas e a visão que tem sobre desenvolvimento regional são lastimáveis.