sábado, 27 de outubro de 2007

CONTATO NA SELVA

Felipe Milanez

Em uma área depredada por queimadas, a Funai encontra o que acredita serem os últimos índios de uma tribo massacrada na década de 80

No ano de desmatamentos e queimadas recordes na Amazônia, a Funai resgatou em agosto dois índios isolados no meio de uma área tomada pela extração ilegal de madeira, na região mais violenta do Brasil. Falantes da língua tupi kawahib, chamados de piripkuras, são os últimos sobreviventes de massacres perpetrados ao longo dos últimos 20 anos. Nunca haviam feito contato tão próximo com sertanistas da fundação. Viviam escondidos, à espreita do movimento de madeireiros, e com freqüência recolhiam os restos deixados pelos brancos: facões, machados, pedaços de pano e espingardas (que não sabiam como usar). Ao contrário do resto de seu povo, os índios, que atendem pelos nomes de Tucan, com cerca de 50 anos, e Mande-I, com mais ou menos 35, conseguiram desenvolver estratégias de sobrevivência extremamente sofisticadas para uma vida sem contato em uma floresta em vias de destruição.

“Olha, o que eu vou dizer para o senhor foi o que eu ditei para escreverem no relatório”, explica Jair Candor. Analfabeto, o filho de seringueiros, assistente dos sertanistas locais, narra um dos maiores feitos das últimas décadas do indigenismo brasileiro. “Só achei eles porque estavam rindo alto e conversando”, diz. Na floresta, não se vê com os olhos, mas com os ouvidos. Os índios estavam distraídos e alegres, por isso foram encontrados. Dois dias antes, Tucan e Mande-I tinham conseguido caçar um porco-do-mato, o vestígio que mais animou Candor na expedição: pedaços de porco assando no moquém em um pequeno “tapiri” (a forma mais elementar de uma aldeia). Pelas marcas na terra, os dois ficaram horas deitados no chão a fazer a digestão do assado. Quando Candor chegou, a fogueira ainda estava acesa.

Leia a íntegra da reportagem na edição da revista National Geographic Brasil.

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