segunda-feira, 15 de outubro de 2007

ACRE É MANCHETE NA FOLHA

Professor de SP ganha 39% menos que do AC



Ranking dos salários de docentes da rede estadual em início de carreira traz SP, que tem o maior Orçamento entre os Estados, em 8º lugar

Se for levado em conta o custo de vida, a diferença entre São Paulo e Acre, que lidera a lista de melhores salários, aumenta para 60%

Daniela Tófoli

Os professores em início de carreira da rede estadual paulista recebem salário 39% menor do que os do Acre. Enquanto um docente com formação superior e piso inicial de São Paulo ganha R$ 8,05 por hora, o colega acreano recebe R$ 13,16. Se levado em conta que o custo de vida lá é menor, a diferença aumenta para 60%.


O ranking dos salários do país mostra que o Acre lidera a lista dos Estados que pagam melhor seus professores em início de carreira, seguido por Roraima, Tocantins, Alagoas e Mato Grosso. São Paulo vem em oitavo lugar, apesar de ter o maior Orçamento do país. Pernambuco tem o pior salário.

A remuneração acreana, porém, ainda não é a ideal para especialistas. "O baixo salário dos docentes é uma questão histórica no país. Basta ver o de outros países da América Latina, como Chile e Argentina, que são maiores", afirma Célio da Cunha, assessor especial da Unesco no Brasil. Para ele, o salário baixo é uma das explicações para a má qualidade do ensino. "Um salário justo motiva os professores."

O salário um pouco melhor no Acre começa a dar resultado. Prova disso pode ser a análise do Saeb (exame do MEC que avalia estudantes), divulgada em fevereiro. Na comparação entre 2003 e 2005, o Acre foi onde as médias dos alunos de 4ª série mais evoluíram. Em português, houve aumento de 13,8 pontos (de 156,2 para 170). Já São Paulo melhorou 1,1 ponto (de 176,8 para 177,9).

"Um docente bem pago trabalha melhor, sem dúvida", diz a professora da Faculdade de Educação da USP Lisandre Maria Castello Branco. Para ela, os governos continuam mais preocupados em melhorar a estrutura das escolas do que em investir no docente.

No Acre, os professores se organizaram para pressionar o governo, que criou um plano de carreira. "Houve também uma reorganização que tirou docentes de funções burocráticas e os colocou na sala de aula, permitindo melhor uso dos recursos", diz Mark Clark Assem de Carvalho, da Universidade Federal do Acre.

A maioria é formada no Estado e não há falta de docentes. Mas eles reclamam de salas lotadas.

Em São Paulo, a situação se agrava se levado em conta o custo de vida. Um professor que trabalha 120 horas por mês (30 por semana) tem salário de R$ 966 e consegue comprar 4,9 cestas básicas. Já o do Acre recebe R$ 1.580 e compra 12,6. Ou seja, a diferença do salário/ poder de compra chega a 60%.

Para comparação, a reportagem considerou a cesta básica de setembro. A paulista tinha 13 itens e custava R$ 194,34. A do Acre -com um item a mais, a carne de frango-, R$ 124,47.

A secretária de Educação da gestão José Serra (PSDB), Maria Helena Guimarães de Castro, não deu entrevista sobre o assunto. Sua assessoria pediu que fosse procurada a Secretaria de Gestão, responsável pelos salários dos docentes. Esta também não se pronunciou.

A única explicação dada pela Educação foi a de que, em São Paulo, os professores já iniciam a carreira recebendo gratificações. Mas no Acre, assim como em boa parte dos Estados, também é assim. Para calcular os salários por Estado, nenhuma gratificação foi contabilizada, pois a maioria pode ser cancelada e não é incorporada no cálculo da aposentadoria.

O levantamento considerou o piso inicial de um professor estadual com licenciatura plena (ensino superior). Conforme a CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), 25% dos docentes do país estão em início de carreira. Em São Paulo, segundo a secretaria, são 26%.

Os salários foram fornecidos pela CNTE, e a reportagem procurou todos os Estados para checar as informações. Dezessete retornaram o contato. Quatro tinham dados diferentes (BA, PE, PR e SP), que foram corrigidos para o cálculo.

Daniela Tófoli é repórter da Folha de S. Paulo

8 comentários:

Anônimo disse...

É bom ver a divulgação da melhoria salarial que os professores do Acre tiveram nos últimos anos. Mas essa matéria, capa da Folha de São Paulo, deixa visível um certo manto de preconceito com regiões como a nossa. Se a situação fosse inversa, ou seja, se os professores de São Paulo ganhassem mais que os colegas acreanos, jamais isso seria matéria de capa da Folha de São Paulo. A situação inversa é vista por eles como algo, talvez, "surpreendente" que merece uma ampla discussão, como os professores do Acre podem ganhar mais que os colegas de São Paulo??!!.

Hélio Silva
Professor - Rio Branco - AC

Anônimo disse...

Essa manchete enche o peito de cada acreano:de orgulho.


Ponto para o Governo do Acre que paga melhores salários para os professores seguido por outros estados menos ricos que São Paulo e Pernambuco. É evidente que o ensino público precisa melhorar sempre, mas se tem um salário justo para professores já é um estímulo e uma garantia que vai melhorar, senão os estudantes preferem tentar uma carreira na área jurídica,pois bater cabeça ensinando( crianças principalmente) não é fácil, mal pagos então, nem se fala! Acho que o estado tem quem intervir também nas escolas privadas que exploram os professores de educação infantil, pagando salários miseráveis e ainda por cima fazem os mestres investirem seus parcos recursos nas festinhas dedicadas às crianças, um saláio baixo desvaloriza e humilha quem se dedica ao ensino, além de colocar em risco a relação professor x aluno, pois um educador mal pago beira a esquizofrenia/loucura.Avança Brasil!

Anônimo disse...

Essa noticia é boa mesmo é para o Binho que daqui pra frente vai poder esfregar o jornal nas ventas de qualquer professor metido a lider da categoria. Pelo menos mais uns três anos de sossego estão garantidos, né Edeni?

Anônimo disse...

Ventos do norte movendo moinhos!?

São Paulo que corra atrás do prejuizo. O preconceito é fato, pois os habitantes do sul sempre se acharam superiores aos habitantes do norte e nordeste, o eixo Rio x São Paulo então...

Anônimo disse...

Ventos do norte movendo moinhos!?

São Paulo que corra atrás do prejuizo. O preconceito é fato, pois os habitantes do sul sempre se acharam superiores aos habitantes do norte e nordeste, o eixo Rio x São Paulo então...

Anônimo disse...

algumas coisas são visíveis na matéria da Folha: O Acre tem uma política de Estado mais inteligente e mais justa com os Professores;Apesar de ser um estado pobre, percebe-se que o PIB não é tudo na vida.Finalmente,as políticas só tem sentidos e forem contínuas ou, usando um jargão da moda, sustentáveis.Foi o que fez o Professor Binho Marques ao longo de 8 anos.Agora é ver os frutos.

Anônimo disse...

O Hélio silva levantou uma forma interessante de ler a notícia na FSP. O assunto é notícia, exatamente, pelo fato do Acre pagar mais.

Anônimo disse...

concordo com as inteligentes colocações do prof. Hélio Silva. interpreto as colocações da FSP exatamente da forma que analisa. No entanto, resta afirmar que a rádio Jovem Pan, de São Paulo, no jornal da manhã, destacou os resultados dessa política nos resultados da avaliação do MEC.