terça-feira, 14 de agosto de 2007

SÓ PIRATARIA DE POBRE É CRIME

A minha geração perde por não ter mais credibilidade, por ter levantado a bandeira do socialismo e hoje cuidar tão somente de salvar a pele

Fátima Almeida

A pirataria foi um dos modos como os ingleses se capitalizaram. A rainha concedeu um título de nobreza a um famoso pirata que interceptava os galeões espanhóis com carregamentos de ouro da América. Ninguém disse nada. Ninguém censurou a Coroa inglesa. Em seguida, toda uma ordem jurídica foi instituída para proteger os interesses dos burgueses.

A proteção à propriedade privada é o que dá sentido à existência do Estado e do seu aparato policial em toda parte onde as relações capitalistas são predominantes. Esse é o bê-a-bá da História e das demais ciências sociais que permeia todas as análises e estão em todos os livros didáticos e para-didáticos. E que já nos causa enjôo.

Ninguém agüenta mais saber que o setor jurídico é todo constituído para salvaguardar o império da lei que atende aos interesses dos poderosos e só muito raramente faz valer os textos constitucionais que enfocam os direitos humanos e do cidadão.

O desemprego deveria ser focado como um grande monstro a parir em grande parte todos os problemas sociais de que se tem notícia. No entanto, é mal percebido e, se percebido, é apenas como um mal permanente ao qual todo mundo já está acostumado. “O direito é positivo”, dizia o professor no curso de direito da universidade, ao qual cursei até o terceiro período me fazendo compreender que as leis atuam como forças de contenção à selvageria e à barbárie.

No subtexto percebi que elas também são escritas e promulgadas pelas elites, em defesa de seus próprios interesses. Agora a pirataria é alvo da ação dos guardiões da lei. Poderão se tornar prisioneiros esses infratores, rapazes e moças, pelo crime de buscar a sobrevivência. São os órfãos do Estado que é pai e padrasto.

A classe média também perde, pois caem as suas possibilidades de lazer e acesso aos bens culturais a baixo custo. Isso porque foi colocado em risco o emprego de alguns coitados que passam os dias, de segunda a sábado, de pé nas lojas vendendo os CDs e DVDs para o lucro de seus patrões.

E claro, está em risco o lucro do proprietário e do Estado, que perde em arrecadação. E a minha geração perde por não ter mais credibilidade, por ter levantado a bandeira do socialismo e hoje cuidar tão somente de salvar a pele.

Fátima Almeida é historiadora acreana

5 comentários:

Anônimo disse...

Alguns têm na vida um grande sonho e faltam a esse sonho. Outros não têm na vida nenhum sonho, e faltam a esse também.

Anônimo disse...

A SUA GERAÇÃO PROFESSORA,PELO MENOS
SONHOU.Sonhou em derrubar o muro de Berlim,sonhou com o socialismo, amou e revolucionou. A minha geração não tem mais o que salvar,nem a pele, pois o desemprego e a falta de formação em Universidades públicas ficam cada vez mais díficil.Parabéns pela sua lucidez!sobrou para a minha geração a pirataria e a polícia com seus animais adestrados.Portanto não temos pele, só o coro e o osso.

Anônimo disse...

Sou vendedor de CDs piratas e sustento minha mãe e cinco irmãos.Sou jovem tenho 22 e sonho em me formar.

Anônimo disse...

Minha amiga e colega Fátima: sempre que leu seus escritos saio refletindo sobre o conteúdo, que por sinal é muito bom. Concordo com vc. O MP só tem olhos abertos para os coitadinhos que lutam para sobreviver, já para os tubarões, a cegueira é quase total. É uma pena.

Anônimo disse...

A formação em Universidades fica cada vez mais díficil e não a falta, a falta é farta. Porém sua mensagem foi entendida e seu pensamento é uma realidade,mas o sonho é necessário, contra a força das massas não tem governo vencedor. sonhe, a causa não é só sua,tem uma multidão muito grande junto.Seja forte prá correr e se esconder das bombas.