segunda-feira, 20 de agosto de 2007

JOEL: UM REPÓRTER NO CÉU

Ribamar Bessa Freire

Embora os jornais nunca falem no assunto, existem salas especiais destinadas à imprensa, tanto no céu como no inferno. Nosso correspondente no Além constatou que jornalista puxa-saco, venal, subserviente ou tíbio, que nem fede nem cheira, vai mesmo pro inferno. Não é o caso de Joel Silveira, 88 anos, falecido na última quarta-feira, em seu apartamento em Copacabana, Rio de Janeiro. Ele foi direto pro céu, porque amou e odiou intensamente, inteligentemente, seletivamente, e nunca se vendeu. Por isso, o capiroto rejeitou esse sergipano cabra-da-peste que, em plena ditadura militar, botou a polícia pra correr, numa situação que o degas aqui viveu.


Foi assim. Dois agentes do DOPS invadiram a redação do jornal O Paiz. Um deles gordo, que nem rato de galpão, relinchou: - "Quem é Ribamar Bessa?" De repente, todas as máquinas de escrever pararam. Fez-se um silêncio intenso, ensurdecedor. Encagaçado, com cara de égua-velha, eu já ia me entregar. Fui salvo por Joel Silveira, diretor de redação, que saiu de sua sala cuspindo fogo. Com os dedos polegares enfiados nas tiras do suspensório, rasgou o verbo: "Cadê a ordem judicial? Não tem? Então, fora! FOOORA!! Chispa daqui!!! – dizia, desembainhando peixeira imaginária.

Os meganhas, com o rabo entre as pernas, se picaram, mas ameaçaram voltar com uma intimação escrita. Joel, então, me chamou? – "Quanto é que você ganha?" Coitado de mim! Com vinte anos de idade, ganhava o piso salarial, se não me engano, uma merreca de 400 mil cruzeiros. - "A partir de hoje, você ganha o dobro. Não quero vê-lo em duas semanas. Desapareça daqui". Dessa forma, ele premiava matéria publicada no dia anterior naquele jornal polêmico, que acabava de ressuscitar. Antes de revelar aqui o conteúdo da matéria, vale a pena falar do jornal.

Ribamar Bessa Freire é colunista do Diário do Amazonas. Leia a crônica completa em "Taqui pra ti", o site dele.

Um comentário:

cabocla disse...

José Ribamar Bessa é um cara porreta demais! Ele é jornalista, historiador, grande conhecedor da antropologia lingüística sabe respeitar o sentido das palavras e também sabe sacudi-las para brincar com suas sutilezas, assim como sabe ser satírico. Com Bessa as palavras não sofrem censuras e auto-censuras. Com Bessa a liberdade de expressão ganha letras maiúsculas. Alias parece que a Amazônia é fértil na reprodução de espécie rara...Quem sabe que outros Bessas, outros Altinos, outros Lucio Flavio surgirão para ocupar todas as redações dos jornais fazendo emergir um novo jornalismo imparcial, criativo que despertem na moçada a vontade de ler no lugar de destruir os símbolos representativos da cultura amazônica. Não é verdade Maromba Junior ?
O Bessa na sua crônica relembra seus 20 anos para perpetuar a memória dos grandes que honraram o jornalismo, Joel era um deles que tinha culhões e não se deixou intimidar com ditadura militar para defender a liberdade das palavras.Ele representava a coragem e ética do que era o patrão dos jornais da época que soube defender a livre expressão e independência do jornalismo. Uma bela crônica em homenagem ao o Joel Silveira e ao grande jornalismo que parece que sumiu. Meu amigo companheiro, meu mano querido,, obrigada pela bela crônica. Que Joel repouse em paz no Paiz que se foi com ele. Não devemos esquecer, que as mais belas historias se escrevem com as palavras da própria historia.