domingo, 19 de agosto de 2007

CORUJA

Juarez Nogueira


Basta olhar: filhote de coruja é bicho danado de feio. Mas não adianta: mãe, pai coruja não vê a feiúra do bicho.

Por isso, conta a fábula que um dia a coruja procurou a águia para fazer um combinado: que ela não comesse seus filhotes. Disse a coruja:

– Se vires uns passarinhos muito lindos em um ninho, de biquinhos bem feitos, não os coma porque estes são os meus filhinhos!

A águia prometeu que não os comeria. Saiu voando e encontrou, num oco de árvore, um ninho. Comeu todos eles. Quando a coruja chegou, viu que lhe tinham comido os filhos. Injuriada, foi ter com a águia.

– Ó águia, como és falsa! Prometeste não comer meus filhinhos e mal viro as costas mataste todos!

E a águia:

– Ora, os únicos filhotes que encontrei eram uns pássaros pequenos que estavam num ninho, todos depenados, sem bico, com os olhos tapados, de tão feios quase indigestos. Comi-os, pois tu me disseste, ó coruja, que teus filhotes eram lindinhos e tão bem feitos. Não podiam ser esses.

– Eram esses mesmos, disse a coruja.

– Pois então queixa-te de ti, que é quem me enganaste com a tua cegueira.

Olha, Altino, para os pais, os filhos são sempre lindos e perfeitos. Imagine para os avós, para quem, dizem os antigos, neto é filho com açúcar.

Eu vou no senso comum da fábula, Altino, para lhe dizer do susto, do incômodo, do inconveniente para um pai, mãe, avô ou avó ao ver a foto de seu filhote estampada em manchete e ter que reconhecer: “Olha aí, olha aí, é o meu guri.”

Sabe, Altino, deve ser doloroso ter que recapitular a [falta de] educação da cria, frente a um episódio que poderia, deveria ser como a cirurgia que devolve a visão.

E vem você, Altino, pousar de águia em oco de corujas...

Juarez Nogueira é escritor mineiro, autor do "Manual de Sobrevivência na Redação" e "O Menino Alquimista".

2 comentários:

Anônimo disse...

A coruja é linda,não maltratem o animalzinho que nada fez para merecer tal comparação. Sociedade protetora dos animais, alerta!

Anônimo disse...

Meu amado Juarez, vê-se que de corujas você entende tudo!
Um beijo e saudades.
Leila Jalul