terça-feira, 10 de julho de 2007

A FILOSOFIA DO ZÉ BORBOLETA

Leila Jalul

Seu José é meu pintor de paredes preferido. Também é jardineiro e tem mãos de ouro. É bom dizer que tem um gosto variado do meu quando faz o mix de petúnias com onze horas. Mas tudo que planta brota e brota com gosto.

Hoje, reclamando da minha vida, pelo fato de um técnico em informática ter perdido meus arquivos recentes, descobri que, além desses predicados, Zé Borboleta é filósofo.

Pedi ao Zé que enfrentasse o homem e pedisse que me devolvesse o material engolido onde constava, além de meus três livros, as fotos dos meus quadros (mais de 200), resultados de três exposições, incluindo as da primeira, cujos quadros são poemados. Eu chorava, lamentava, resmungava e, o Zé, trepado na escada, pintando as telhas, me sai com essa:

- Dona Leila, sei que sou pequeno, magro, não estudei, mas, se a senhora quiser, vou lá nesse homem e trago ele aqui.

- Mas seu Zé, o homem é mais gordo que o senhor, mais forte que o senhor, mais estudado que o senhor. Ele pode querer engrossar e, talvez, quem sabe, até soltar os cachorros contra o senhor.

Seu Zé calou-se por alguns minutos. Depois me diz:

- Dona Leila, se a senhora quiser, vou lá. Fique a senhora sabendo que, o homem, quando erra, não tem razão. O homem, quando erra, não tem força.

As palavras dele me tiraram o argumento. Pode haver controvérsias, é vero, pensei. Bem que a filosofia do Zé poderia ter aplicação. Assim fosse, O Renan e muitos outros não estariam onde estão. Assim fosse, teria aqui o meu arquivo completinho, cheio de fotos dos meus netos, meus quadros, meus poemas, meus livros, meus baús de textos, e os endereços dos meus amigos.

Não vou desistir. O Zé vai atrás do homem sem razão e sem forças, vai marcar presença na porta da casa onde ele se esconde. Quem sabe a filosofia do Zé não o convence?

De minha parte, senti firmeza.

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