sábado, 2 de junho de 2007

NA ROTA DA CIÊNCIA


Estou em Cruzeiro do Sul, a segunda maior cidade do Acre, de 70 mil habitantes, onde nasci, banhada pelo Rio Juruá e famosa por abrigar barões que multiplicam fortunas nessa região do extremo-oeste brasileiro, que é uma das rotas mais movimentadas do tráfico internacional de cocaína. A cidade será palco, de domingo a quinta-feira, de mais uma Reunião Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

A reunião terá como referência o conhecimento científico acumulado sobre a região do Alto Juruá, ajudando a traçar um programa científico com prioridades de pesquisa e formas de engajamento e colaboração com a população local. A pauta inclui, ainda, os projetos de políticas que incidem diretamente na região.

A prospecção de petróleo, a estrada para o Peru e de forma geral a geopolítica em que a região se insere tendem a ser os temas dominantes. A reunião em Cruzeiro do Sul é preparatória para a 59º encontro anual da SBPC, que acontecerá de 8 a 13 de julho em Belém (PA), tendo como tema "Amazônia: Desafio Nacional".

Em dezembro, aconteceu em Cruzeiro do Sul outra Reunião Regional da SBPC para discutir o projeto da Universidade da Floresta do Alto Juruá. O encontro de três dias reuniu lideranças indígenas de quatro etnias, de seringueiros, pequenos agricultores e ribeirinhos, com pesquisadores das universidades federais do Acre, Viçosa, da Unicamp e UnB. O projeto tem sustentação no tripé extensão, pesquisa e ensino.



Índios, seringueiros e pesquisadores vêm discutindo a criação de uma entidade para unir o conhecimento tradicional ao conhecimento científico com a idéia de manter a floresta em pé a partir da exploração sustentável de suas riquezas. O presidente da SBPC, Ennio Candotti, tem manifestado inquietude em relação à região. Durante a última reunião, Candotti disse que "os conhecimentos tradicionais estão ameaçados", ao defender a necessidade de que precisam ser preservados.

Karen Adami Rodrigues, da comissao organizadora, disse que estudiosos e pesquisadores de todo o Brasil participarão do evento para debater a cooperação orgânica entre o conhecimento e práticas científicas com o conhecimento tradicional, tendo como foco o manejo e o monitoramento da biodiversidade amazônica.

- O estudo de gênero, representações, identidade, memória, educação e linguagens, são linhas temáticas apresentadas e discutidas em mini-cursos, mesas redondas e palestras como forma de se pautar uma educação tecida pelas teorias biorregionais. A medicina tradicional nesta região exerce uma prática apreendida no viver, o que proporciona relações diretas com a natureza, principalmente com os vegetais da floresta - assinalou Karen Adami.

Segundo a pesquisadora, o progresso científico num lugar onde existe um forte saber tradicional aplicado à saúde significa para alguns um choque de conceitos, mas na realidade se traduz em melhoria dos serviços em saúde, diagnóstico, qualidade de vida, bem como desenvolvimento e proteção da população.

- Neste cenário, pesquisadores locais, nacionais e internacionais e os movimentos sociais do Acre, especialmente da região do Alto Juruá, sinalizarão para um novo marco de cooperação entre atores locais e setores técnicos científicos. O que buscamos é a sustentabilidade dos povos da floresta através do monitoramento das mudanças sócio-ecológicas, culturais e climáticas regionais.



Programação

DOMINGO
16h00: Abertura oficial do Evento e Recepção dos Palestrantes (Auditório do Museu Memorial José Augusto).
17h00: Mesa Redonda: Políticas públicas no Alto Juruá (Auditório do Museu Memorial José Augusto).
20h00: Lançamento do Livro “O Alto Juruá Acreano: história, povo e natureza” (Auditório do Museu Memorial José Augusto).

SEGUNDA
07h30-09h00: Inscrições e Entrega de Material (Ufac).
07h30-11h30: Minicurso: Educação escolar Indígena - Uma introdução (Ufac).
08h80-12h00: Palestra: Educação, diversidade sociocultural e cidadania (Centro Diocesano).
09h30-12h30: Mesa Redonda: Mudanças Climáticas e a Amazônia - Papéis e Efeitos (Centro de Retiros).
14h00-15h30: Palestra: A biometeorologia e o desafio das mudanças climáticas e seus impactos na agricultura; Palestra: A biologia molecular como estratégia para o estudo de mecanismos moleculares associados a doenças - Estudo do desenvolvimento de Glomerulesclerose (Centro de Retiros).
14h00-17h00: Palestra: A Teoria das Representações Sociais Aplicadas a Educação (Centro Diocesano).
14h00-18h00: Minicurso: Manejo Florestal; Minicurso: Desenvolvimento Sustentável no Acre - Realidade e Perspectivas (Centro de Retiros).
16h00-18h00: Palestra: Uso da biodiversidade amazônica para o desenvolvimento de fármacos; Palestra: Atenção à Saúde da Mulher - Avanços e Desafios (Centro de Retiros).
16h00-21h30: Mostra de filmes: Povos do Tinton René (54 min); Yawa – A história do Povo Yawanawá (55 min); No tempo das chuvas (38 min); A carne é fraca (60min); Grande barra (60min); Manã Bai – A história do meu pai (15 min); Shmõtsi (42 min), (Cine Romeu).
18h30-21h30: Palestra: O Estudo da Literatura na Era da Globalização (Ufac).

Um comentário:

Marcelo Jardim disse...

To bem animado para participar tbm do evento, mas há q se avançar bastante em alguns pontos, se não percebam:

´´O que buscamos é a sustentabilidade dos povos da floresta através do monitoramento das mudanças sócio-ecológicas, culturais e climáticas regionais.``

Só monitorar não basta, e está implícito a idéia de q isso não era feito. Talvez não cientificamente, mas intelectuais de PESO já pensavam e retratavam o Juruá a mais de cem anos. E mais recentemente a UNICAMP vem fazendo isso (ao menos na parte sócio) a pelo menos dez.

Enfim, vamo nós!!!!