sexta-feira, 6 de abril de 2007

FIM DA ERA DO PETRÓLEO

Juarez Nogueira

Altino,

Tenho lido em seu blog vários textos sobre a tal de prospecção de petróleo e gás no a.C.RE. Informa o Alceu Ranzi que não é novidade essa investigação, iniciada há mais de setentanos, porém, sem continuidade.

Pergunto: se os resultados fossem tão promissores, o a.C.RE já deveria estar com jazidas abertas a plenos arrotos combustíveis, não?

Mas o que me chama a atenção é que R$ 75 milhões foram destinados a esse projeto. Dá para repensar, bastante e bem, a destinação desse dispêndio, quando publicações como o Le Monde Diplomatique trombeteiam o fim da era do petróleo.

Quando George Bush – quem diria – se empenha em busca de fontes energéticas alternativas, a depreender, inclusive, de sua recente visita ao Brasil.

Quando relatórios como o do IPCC - Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, de Bruxelas, e do WWF – World Wide Fund for Nature denunciam a elevação da temperatura do planeta, para a qual a queima de combustíveis fósseis contribui sobremaneira.

Quando Jacques Chirac declara a necessidade de preparar-se para a era pós-petróleo. Dá para repensar, bem e bastante. Parece-me um indisfarçável contra-senso, dentro de uma conjuntura, digamos, mais global.

Claro que pode resultar dessa sondagem uma fonte de desenvolvimento econômico para o a.C.RE, tomara até se encontre aí alguma reserva petrolífera.

Espera-se, num eventual sucesso de uma tal empreitada, que não se reproduza a maculosa experiência de Coari, no Amazonas. Espera-se que os ganhos sejam revertidos em prosperidade social socializada de verdade, ordem e progresso, essas coisas, e não em mais privilégios de uns poucos com tanto contra um tanto sem nenhum pouco.

Digo isso porque a história do país é, desgraçadamente, pródiga de inventivas políticas malsucedidas como se seus governantes dirigissem um carro que vai adiante, mas tem os faróis apontados para trás.

É por isso que esse anunciado fim da era do petróleo me soa como mais um preditivo de mais uma crônica anunciada de um povo que, em matéria de “descobrimentos”, sempre foi espoliado e ainda assim segue, sem insurgências, desmemoriado entre as falsas glórias do passado e as enganosas promessas do presente.

Juarez Nogueira é escritor mineiro

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