quinta-feira, 8 de março de 2007

O MERCADO DA EDUCAÇÃO

A educação, que deveria ser um direito, um bem público assegurado pelo Estado, realmente passou a ser tratada como uma mercadoria qualquer, seguindo a lógica do mercado.

Nos últimos cinco anos, acompanhamos o surgimento e consolidação de duas grandes empresas educacionais no Acre: FIRB/FAAO e Uninorte. A forma de atuação dessas empresas confirma o aprofundamento da mercantilização da educação no país, que agora avança pelo Norte brasileiro.

Recentemente inaugurada sua nova sede, a FIRB/FAAO lançou como novidade a terceirização do seu serviço de estacionamento. Assim, além do pagamento da mensalidade, que hoje varia de R$ 400,00 a R$ 800,00, dependendo do curso, os alunos precisam pagar mais R$ 40,00 pelo serviço de estacionamento.

A FIRB pode pagar a folha de pessoal apenas com o dinheiro do estacionamento, já que os professores são remunerados em R$ 11,00 a hora-aula, garantindo grande margem de lucros aos proprietários da empresa.

Da mesma forma, a Uninorte, como todas as empresas do ramo educacional, vem buscando ampliar sua margem de lucro. Demissões, contratos temporários, rebaixamento salarial dos trabalhadores (que neste mês chegou a 25%), aumento do número de alunos por sala, redução da carga-horária em sala de aula e introdução de novas tecnologias educacionais são algumas das novidades em curso na maior instituição de ensino superior do Estado

A Uninorte reúne cerca de 5 mil alunos e tem como mantenedores os empresários Ricardo Leite, França Gurgel e Grupo UNIC. As cotas administradas pela empresária França Gurgel, da loja Agroboi, envolvem as cotas de outros dois empresários acreanos que preferem o anonimato. As famílias Leite e Gurgel são de grandes proprietários que, a partir da década de 70, fizeram fortuna com a atividade pecuária e com os consequentes danos socioambientais ao Acre.

Pois bem, num contexto de mercantilização da educação e precarização do trabalho de professores e funcionários, a introdução de novas tecnologias de informação na educação (aulas não-presenciais, adotando-se o sistema virtual), possibilita ganhos em grande escala no setor privado. Trata-se de uma fatia entre as mais lucrativas do mercado, à medida que os investimentos são baixos e o grande número de alunos diluem os custos.

Definitivamente o ensino privado deflagra uma corrida de gigantes rumo a uma maior concentração de estudantes e possibilidade de ganhos de escala. A tendência é um acentuado movimento de fusões e aquisições de empresas educacionais, o que pode causar a diminuição do número de instituições de ensino superior (IES), o crescimento das IES de grande porte e o surgimento das holdings educacionais - conjunto de instituições controladas pela mesma mantenedora.

O crescimento das grandes empresas educacionais atesta esse processo. O formato de holding educacional está sendo aplicado no Grupo Educacional UNIC, que possui cinco instituições, distribuídas em Cuiabá, Salvador, Macapá, Porto Velho e a Uninorte, em Rio Branco.

Trata-se de um tema que a imprensa acreana passa ao largo, embora o setor esteja a movimentar muitos milhões anualmente. Essa breve nota é uma tentativa de resposta às indagações do estudante que escreveu ao blog e pediu anonimato sob o argumento de temer represália. Leia:

"Caro Altino,

como é difícil a vida financeira de estudante que paga seu próprio estudo na universidade particular Uninorte. Escrevo isso porque a referida instituição simplesmente diminuiu a carga horária dos cursos. Antes, entrávamos às 18h40 e saíamos para o intervalo às 20h20. Retornávamos para a sala às 20h30, ou seja, tínhamos 10 minutos de intervalo e ficávamos estudando até às 22h10.

Isso mudou a partir de hoje, mas para pior. Agora entramos às 19 horas, vamos para o intervalo às 20h15, e retornamos para as salas às 20h35. O intervalo agora é de 20 minutos e o dia letivo termina às 21h50, ou seja, são 50 minutos a menos por dia e 12 horas aulas a menos por disciplina. Antes eram 72 horas aula e hoje são 60 horas aulas.

Com isso, imagina-se que as mensalidades devam diminuir, afinal estamos tendo menos tempo nas salas de aulas e gerando menos gastos. Porém, para surpresa geral, o valor da mensalidade simplesmente fez foi aumentar. Vale ressaltar que corre o boato que, com a disponibilidade do portal do aluno, pagaremos ainda mais um taxa para a instituição, além de que os professores tiveram uma grande redução nos seus salários. E então eu pergunto: esse aumento é certo? Será que voce pode publicar em seu blog?"

7 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Altino,

Parabens, pela coragem, ousadia de escrever sobre um assunto tão importante.
Por acreditar que a Educação é a unica que mudará nosso País, fico muito triste por presenciar a falta de respeito com os alunos e com nossos mestres(professores). A qualidade de ensino caiu e muito por causa da visão capitalista.
Eu presencio todas as noites e sei que muitos academicos estão formando sem saber como será o mercado la fora, sem preparação alguma, pois nas instituições superiores o lema é "tu finge que aprende e eu finjo que ensino".

Mais uma vez parabens.

Anônimo disse...

O DCE de cada instituição particular acreana - se é que têem um DEC - deveriam se articular e verificar juridicamente se eles tem a obrigação de pagar por serviços básicos - vide o estacionamento - recentemente conclui um curso superior na uninorte e ao longo do curso enfretamos vários descasos, se for para enumera-los o comentário vai longe e sem falar que dureante os anos de curso nunca ouvi falar de um movimento estudantil dentro da faculdade. Os estudantes tem uma ferramenta muito forte na mão que se chama DCE mas os caras que ficam a frente desses movimentos estudantis devem levantar a bandeira do descontentamento todos os dias fazendo pressão total para fazer valer seus direitos.
As faculdades particulares viram uma mina de ouro no Acre com o défict educacional sobretudo por causa do sucateamento da UFAC que ali é um emaranhado de problemas em 99% dos cursos.
Há uma gama de ações que partem das faculdades particulares que por causa da omissão do movimento estudantil faz com que cada estudante seja lesado cada vez mais na sua vida letiva.
O movimento estudantil das faculdades particulares devem surgir das cinzas e brigar pelos direitos do estudante traçando plano de ação, buscando apoio, acionando juridicamente.

Anônimo disse...

parabenizo pela coragem do autor fico muito preocupado com a angustia que deve tar sentindo esse aluno, pois igual a ele tem varios na mesma situação, pois não sabem se terão condições de continuar pagando suas respectivas mensalidades, e devo ressaltar que em 2007 quando os professores tiveram suas remuneração diminuidas eles agora simplesmente estão num "enroleixon" só, ou seja, entram nas salas de aulas e leem uma apostila e pronto e falam que quando o portal estiver pronto é que irão começar a dar materia de verdade, pois agora é só de mentirinha. ai eu pergunto o Ministério Publico pode intervir nessa situação?

Anônimo disse...

Altino,
Gostei muito das suas considerações sobre esse assunto. Fico muito chateada (para usar um termo discreto) quando os professores e funcionários da UFAC fazem greve, mas admito que eles têm razão em alguns pontos. É inadmissível que as universidades federais estejam tão abandonadas e que os investimentos do gov. federal sejam tão pequenos quando há uma demanda enorme por cursos e vagas. Alguns alunos de faculdades particulares contam com financiamentos do próprio gov. federal para pagar as mensalidades e, mesmo assim, as iniversidades federais não são priorizadas. Um outro fator ainda mais preocupante é o número de alunos dessas faculdades vistuais. Não consigo conceber uma formação de qualidade sem debates, sem contestações, sem a possibilidade de rever o aproveitamento da turma, mudar o plano de curso se necessário. Nesse caso, há uma otimização do professor que passa a dar aulas para centenas de alunos ao mesmo tempo, deixando de fora a possibilidade da contratação de outros professores, a necessidade da construção de outras instituições, contratação de pessoal de apoio, pagamento de mais impostos e garantia de direitos trabalhistas para mais pessoas e etc. Em uma revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios desse ano, a abertura de empresas de ensino à distância está entre os negócios mais lucrativos e indicados pela revista! É a comercialização da educação mesmo.

Parabéns por ter tocado nesse assunto.

Anônimo disse...

É um verdadeiro absurdo, acho eu que se Marx estivesse vivo ele iria propor uma nova forma de "mais valia" que seria a "mais valia educacional", ressaltando que nessa instituição temos alguns psedo-professores e pseudos- alunos. mais a cobrança é REAL.

Anônimo disse...

Prezado Altino,
de muito me admira um repórter de profissão relatar fatos como o desta matéria sem trazer contextos reais em torno da educação superior no país.

De fato, muito se discute no cenário nacional o tema da mercantilização da educação. Porém, deve-se considerar que o Ministério da Educação possui políticas adequadas (e funcionais) à regulação do ensino privado. Afinal, já que o governo não tem condições de cumprir com sua função (dar educação de qualidade) procura aliados (os empresários).

Muito me admira, um jornalista de profissão efetuar mensões pessoais quando se trata de um caso como este. Deve-se considerar que o Acre vive uma nova Era. As instituições de ensino superior particulares (incluindo na lista citada por você o Iesacre, Sinal, Max, Facinter dentre outras - inclusive do interior) que hoje funcionam em nosso estado vem suprir uma carência grande deixada pelo governo na UFAC (esta sim, abandona pela corja petista. Começando pelo Magn. Reitor).

Muito me admira, de um jornalista tão informado como você não estar atento às utilizações de novas tecnologias na educação, permitindo que o individuo torna-se antenado para as ferramentas do mercado. Cometendo a monstruosidade de criticar seu uso na educação. E em relação a isso, o proprio MEC tem legislacao especifica.

Escrevo-lhe neste momento da biblioteca de uma das mantidas da UNIC, em Salvador (a maior). Precisas ver o que é uma universidade.. uma estrutura que abriga cursos de várias áreas. Gente interessada, biblioteca com acervos do mundo inteiro, quadras de esportes, estacionamento (gratuito), enfim, um local agradavel para o aprendizado (P.S.: Estou aqui como visitante. Tenho acesso à toda estrutura como um aluno regular). Fico neste momento imaginando quanta fonte de renda uma instituição como esta mantém.. quantos sonhos a mesma alimenta.

A grande diferença que encontrei de nossa capital, é que vi muito mais gente sentando na cadeira e estudando de fato. Muita gente buscando o conhecimento. Muita gente sabendo o que lhes espera la fora. Por isso que aqui vim.. e em breve voltarei para colaborar com o desenvolvimento de meu Acre.

Infelizmente, o que não me admira em cidadoes como você é a cultura seringalista do "ta ruim mas ta bom". Acorde.. o ACRE é outro!

Abraços,
Luiz Matos
Lzomatos@gmail.com

Anônimo disse...

Em tempo, gostaria de fazer minhas considerações sobre este post. Já conversei com o Altino a respeito e agora arranjei um tempo pra comentar.

Sobre esta questão de diminuição da carga horária, dos salários dos professores, etc., tudo se traduz em uma simples conta de soma, que ao final, resulta em contenção de despesas pelas faculdades particulares.

É que durante o ano, mesmo nos meses de férias, as instituições mantém o contrato e o pagamento dos professores. Assim, pagam entre 3 e 4 meses (DEZ/JAN/FEV/JUL) mesmo que os professores não dêem aula. Os salários desses meses é baseado no salário (carga horária mensal) do ano letivo.

Com isso, as instituições resolveram diminuir a carga horária mensal, porém estenderam o ano letivo por alguns dias (o semestre letivo q antes começava em março e terminava no final de junho, agora começa na metade de fevereiro e termina na metade de julho), mantendo assim a mesma carga horária total. Dessa forma, nos meses de férias as faculdades só precisam pagar as 3 h/aula que o professor lecionou durante todo o ano/semestre.

Ao final, dependendo do tamanho da instituição, número de cursos e professores, isto representa uma economia significativa nas contas da mesma.

E mais uma vez, quem paga o pato é o aluno (pagam mais e ficam mais meses em aula) e o professor (que recebe menos e trabalha mais).

Mas como sabemos que as instituições de ensino particulares são antes de mais nada, empresas, o que impera é a lei do mercado, do capital, do ganho. O ensino na maioria (pra não dizer totalidade) fica em segundo plano.

Hj no Brasil, dois grandes negócios pra se ganhar dinheiro sem erro, são: faculdades e igrejas/seitas.

Abraços,

P.S. Luiz Matos, respeito, mas não entendi as críticas em seu comentário.