ELITE DAS VAIDADES

Fátima Almeida

Altino:

Em junho do ano passado, sete jovens de uma escola particular de Rio Branco, criaram no Orkut uma comunidade de ódio à diretora, e alguns, inadvertidamente, escreveram coisas pouco honrosas, no estilo das pixações em banheiros de escola. Foram expulsos os sete. As mães passaram por uma verdadeira via sacra, no Conselho Estadual de Educação, Procon e Ministério Público.

Não conseguiram apoio nenhum, embora a resolução do Conselho e a LDB apresentam com clareza que não se pode mais expulsar alunos, pois fica subentendido que é uma mera transferência do problema para outra escola. E mais: que questões desse tipo devam ser tratadas pedagogicamente, ou seja, que os menores realizem uma aprendizagem com o fato, que a punição seja acompanhada de palestras, trabalhos comunitários e coisas desse tipo.

O próprio regulamento da escola não trazia nenhum dispositivo que apontasse para uma solução tão drástica. Foram expulsos sem apelação, ao arrepio da lei, como se fala, e com o consentimento ou "vistas grossas" do Conselho Estadual de Educação, do Conselho Tutelar e do Ministério Público.

O governo precisaria criar uma ouvidoria para acompanhar casos como esse e muitos outros.

Como você disse, a imprensa local ficou tão atrelada e perdeu o foco no leitor e deixou de cumprir sua função social, que é informar, denunciar e apoiar o cidadão. Parece mais uma vitrine para exposição dos políticos e das pessoas influentes de modo geral.

Quanto à correspondência que você recebeu do Ministério Público, é preciso que fique alerta sobre alguns detalhes que parecem sem importância. O Moisés Alencastro é muito amigo da família Mubárac, que ascendou socialmente durante o governo Jorge Kalume.

Aliás, ele, o Moisés, teria ido para o Ministério Público a convite da Gisele Mubárac. A irmã dela, Sônia, escreveu no seu blog, há dois dias, muito contrariada com a foto publicada do Maromba porque é muito amiga da tia do rapaz, a Daniela Zanini, que por sua vez tem em seu círculo de amizades pessoas que atuam também no Ministério Público.

Veja bem, se você tivesse publicado fotografia de um jovem em condições similares, mas oriundo de camadas baixas da sociedade, nada iria acontecer. Dificilmente o Estado se ocuparia em mover ação contra a família do rapaz até porque não houve depredação e sim mera atitude desrespeitosa. Mas você acabou entrando em colisão com representantes da elite local colocadas em postos estratégicos.

E pelo que vejo, querem levar às últimas consequências, ou seja, fazer valer sua força, seus privilégios, suas prerrogativas de classe.

O fato de que o rapaz ostentou foto em Orkut, sentado literalmente sobre monumento representante do nosso patrimônio cultural, foi eclipsado. O fato sumiu, desapareceu.

Agora entra em cena a fogueira das vaidades. Você vai precisar de um bom advogado e acredito que isso não vai faltar porque Rio Branco cresceu muito e aqui não tem mais tanta gente atrelada e subserviente como antigamente.

◙ Fátima, deu para perceber que, sem querer, mexi num vespeiro. Lembra da "Quadrilha", de Carlos Drummond de Andrade?

"João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história".

Já comi toucinho com mais cabelo. Espero que prevaleça o bom senso, pois não quero me sentir forçado a uma paródia infame do poema de Drummond.