quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

UMA VIAGEM AO ACRE



Nietta Lindemberg Monte

Antes de iniciar essa crônica, digo que me sinto honrada em reabrir o Papo, em 2007, a convite de seus editores. Na derradeira semana de janeiro, descobri a nova capital do país, sob os efeitos globais da Amazônia de Galvez, que reconquista pela segunda vez o Acre para o Brasil.

Minha viagem de descobrimento tem inicio no centro nevrálgico da cidade, onde pousei corpo e alma, envolvida pela energia luminosa e quente da cena urbana. Constato mudanças na paisagem e no lazer, mesmo aos 40 graus do começo da tarde. Com o silêncio dos que miram, encontro beleza na modernidade urbanística acoplada à tradição.

Se eu hesitara passear por um igarapé de dejetos às margens do Canal da Maternidade, na beira do rio Acre respiro longevidade e história: em suas margens, um harmonioso conjunto de casas multiformes libera o antigo anonimato de suas fachadas, antes envelhecidas pelo tempo, hoje pintadas de cores vivas e pastéis nos trazem de volta o Brasil de Portinari.

Nos bares, botecos e bistrôs, revive-se o prazer de um breboti com refresco; entro no novo mercado velho na caça da saudosa saltenha (integração boliviana-acreana) e das alquimias tropicais dos sucos regionais.

Em seguida atravesso a ponte nova para receber o toque de arte na pracinha mural de Babi Franca. São belas lembranças da infância de muitos dos acreanos que, como ele, meninos em lua cheia, sonham pipas no céu azul, jacarés, tracajás, nuvens e pássaros. Banquinhos e lampiões nas calçadas oferecem tempo para a contemplação da beleza cênica criada pelos artistas da cidade. Ah, a volta das humanas calçadas ...

Observo, sentada entre gigantes personagens sem nome, outras cenas do cotidiano: moradores de batelões ancorados no cais saltam para o banho nas águas morenas do Acre, o rio em reboliço; jovens se atiram em piruetas da ponte rumo ao espaço e depois são levados efusivamente pela corrente das águas.

Há alvoroço e adrenalina nesse esporte popular e radical, especialmente animado pelas cheias do inverno amazônico. Mas, o maior destaque é aguardado com a noite, quando a ponte futurista acende suas emissões de azul néon sobre o leitoso rio Acre.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que foto bela! que texto gostoso.