terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

JOSÉ AUGUSTO FONTES

TARDE QUE SE AFOGA NO RIO ACRE



Um balãozinho enfeita o vento e percorre o céu, já quase possuído pela noite, que vem tirando o dourado das águas do rio. O balãozinho é azul e o céu não é cinzento. A tarde vai caindo na água e algum pensamento se afoga distante. A própria tarde se afoga no Rio Acre, acostumado já com tanto entardecer, com toda a paisagem próxima e com viagens para longe, para onde vai também afogar-se, incessantemente. Segue para um fim, mas não pára de seguir.

Uma canoinha pinta um banzeiro no rio e as bordas roçam mais longe, areia, capim e até concreto. A canoinha vai passando e levando o barulho que já cortou a tarde e agora penetra a noite. O sol caiu na água e afogou-se no rio, abraçado com a tarde. Tudo vai, tardes passam, noites voltam, e o rio não pára de passar, estando no mesmo lugar, aqui e mais adiante. Quem sabe a canoinha, que sobe na contramão do rio, descubra a origem desse incessante seguir.

Enquanto viajo algum pensamento fisgo a lua, no visgo do olhar nascente, e a trago para perto, clareando o sentimento que não salta da boca da noite. A noite é para calar. O dourado ficou escuro e já é possível dizê-lo prateado. O balãozinho perdeu-se em outro azul. Meu pensamento afogou-se no verde das matas ao redor, no olhar que me navega. As águas refletem perto o distante céu estrelado. A cada instante, são novas águas. A cada instante, é preciso seguir.

Texto do livro "Páginas da Amazônia - Proseando na Floresa", do escritor e poeta José Augusto Fontes.

6 comentários:

Anônimo disse...

Grande Altino! Valeu!
Grato pela ajuda na divulgação, tanto do livro quanto da nossa temática amazônica. O que o livro pretende é exatamente revelar com carinho o nosso jeito de ser, aqui nesta imensidão verde e agradável, como a sombra de uma grande samaúma. Um abraço.
Em breve, te envio a capa do livro.
Saudações.
José Augusto Fontes

Saramar disse...

Altino, isso não é pura poesia?
Lindo demais...acho que me tornei aquele balão, pairando assim meio solta nestas lindas e poéticas frases.

Adorei.

beijo

Anônimo disse...

Estamos esperando a chegada do livro. Queremos ter as crônicas do poeta acreano e ver as fotos referidas em seu blog. Já lemos os textos do José Augusto Fontes aos domingos e agora queremos ter o livro com as crônicas. Peço que informe qual o e-mail dele e onde podemos comprar.

ALTINO MACHADO disse...

Pelo visto voice nao leu tudo, pois não sabe onde o livro pode ser encontrado.

Anônimo disse...

Caro Altino, ufa! Finalmente o livro chegou e já está nas livrarias de Rio Branco, ao preço de 40 reais. Não consegui (e nem vou mais pedir) apoio de nenhuma entidade pública. As tantas 'fundações' têm cultura muito própria e os seus políticos ordenam apoios específicos demais. Vou caminhar sozinho. Mas preciso reconhecer o grande incentivo que vc me deu e apresento meus agradecimentos sinceros. Abaixo, um trecho do livro, que já foi publicado no Jornal do Brasil, pelo Armando Nogueira:

"A poesia deste rio é lenta como um balseiro, simples como um seringueiro, enorme como a Amazônia. A poesia deste rio pode estar na sombra da samaúma refletida em suas águas, na longa castanheira em seus arredores. A poesia deste rio é misteriosa e agradável como as águas que o separam das margens, que só se encontram no prazer de atravessá-lo, desde o tempo das catraias, de nadar em suas águas quando menino, de olhá-lo com carinho de adulto. É uma poesia para gastar e renovar, penetrante, como as águas que passam enquanto o rio fica, como ficamos nós, neste leito de amor com ele, para bem adiante da poesia. E da prosa que tiramos dele".


Preciso de um endereço para enviar o seu livro.
Um abraço.
José Augusto Fontes

gabi disse...

concerteza concordo com vocês meu pai é um ótimo escritor talvez eu peça para ele investir em poemas ou livros infantis