segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

REVOLUÇÃO ACREANA

Apontamentos de Plácido de Castro em álbum ilustrado

Elson Martins

O escritor, poeta e advogado Océlio Medeiros, 96, que nasceu em Xapuri e é neto de Benedicto Monteiro - um dos coronéis da Revolução Acreana de 1903 -, acaba de organizar um livro com os apontamentos de guerra feitos por Plácido de Castro, agora ilustrados a bico de pena e tinta nanquim pelo coronel do Exército Luciano da Silveira.

O livro terá o formato de álbum, contendo mais de 200 “pranchas” feitas pelo militar, que se apaixonou pelo tema e há mais de ano pesquisa sobre a vida de Plácido de Castro, desde seu ingresso no Colégio Militar de São Gabriel, no Rio Grande do Sul. Por ser militar da ativa, o coronel Luciano tem acesso facilitado aos arquivos do Centro de Documentação do Exército.

Com a ajuda de um terceiro entusiasta do projeto editorial - o editor Magalhães, de Brasília -, Océlio está bancando a primeira edição de mil exemplares que será impressa no começo deste ano. Mas ele acredita, pela importância da obra, que novas edições poderão ser financiadas pelo governo do Estado ou pelo Ministério da Educação para distribuição nas escolas e bibliotecas públicas.

Os apontamentos de Plácido de Castro sobre a Revolução Acreana que comandou foram feitas em outubro de 1905, durante uma viagem de sete dias de Boca do Acre a Manaus, no navio “Rio Branco”. Na ocasião aconteceu, casualmente, o encontro histórico com o escritor Euclides da Cunha, autor de “Os Sertões”, que retornava de uma expedição ao alto Purus para demarcação de fronteiras.

Atendendo pedido de Euclides da Cunha, que queria saber sobre os acontecimentos recentes da conquista do Acre, Plácido escreveu os apontamentos a lápis, mantendo ainda longas conversas com o escritor, inclusive sobre a extração da borracha e seu ciclo produtivo.

Ao chegar ao Rio, Euclides da Cunha publicou na revista Kosmos (em janeiro de 1906) um longo artigo com o título “Entre os Seringais”, sem, contudo, referir-se à conversa que mantivera com Plácido de Castro. No ano seguinte, em 27 de março de 1907, Plácido de Castro, na condição de prefeito de Rio Branco, enviou longo relatório ao Ministro da Justiça, no qual se queixa do artigo de Euclides da Cunha. Estabeleceu-se então uma breve intriga entre as duas figuras famosas do país.

Somente em 1930, os “apontamentos” do herói do Acre foram publicados na íntegra, como parte do livro “O Estado Independente do Acre”, escrito pelo irmão de Plácido, Genesco de Castro. O livro teve circulação dificultada, supostamente devido às acusações feitas por Genesco contra os assassinos do irmão, que, de certa forma, continuavam no poder no Acre. Uma segunda edição do livro foi impressa em 2002, na gráfica do Senado, por iniciativa do senador Tião Viana.

Pode-se dizer, então, que os apontamentos de Plácido de Castro ganham a divulgação que merecem somente agora - 100 anos depois de serem escritos e revisados pelo comandante da Revolução Acreana -, com a publicação do álbum organizado por Océlio Medeiros e o coronel Luciano da Silveira, com lançamento previsto para fevereiro próximo.

"Escritor maldito"

Como Genesco de Castro - e por razões semelhantes -, Océlio Medeiros (foto) foi considerado “escritor maldito” pelos que conduziam a política acreana no passado. Formado em Pedagogia em Belém (e posteriormente em Direito, no Rio de Janeiro), exerceu ainda na juventude o cargo de diretor do Departamento de Educação do Ex-Território do Acre, no começo dos anos quarenta do século XX.

Sua personalidade irrequieta voltada para as artes e para a boemia, com forte atração por assuntos polêmicos, logo passou a incomodar o poder instituído no Ex-Território. Daí para que o envolvessem num inquérito policial e o deportassem foi um passo.

Supostamente por vingança, Océlio escreveu o livro “Represa”, descrevendo a sociedade de Rio Branco com seus vícios e destemperos. Chamou a cidade de “igapó de almas”. Embora diga tratar-se de ficção, o livro publicado em 1942 pela editora Irmãos Pongetti, do Rio de Janeiro, teve sua circulação proibida no Acre, por descrever, com boa dosagem de escracho, personagens facilmente reconhecidos na capital acreana.

Hoje, aos 96 anos de idade, o escritor trabalha de forma incansável (e inimaginável na sua idade) na publicação de uma dúzia de livros de prosa, artigos e poemas que viviam engavetados há quarenta ou mais anos. Alguns, que mostram poemas pornográficos, deverão sair neste começo de ano. E está prevista, também para logo, a reedição do livro “Represa”.

Océlio mora atualmente em Brasília, como aposentado. Brilhante advogado criminalista, foi professor universitário e deputado federal pelo Estado do Pará. Como escritor, poeta e historiador, continua na ativa.

O jornalista Elson Martins escreve a coluna semanal Almanacre no jornal Página 20.

Um comentário:

Anônimo disse...

Engraçado é que a ilustração do Plácido está a cara do Alexandre Borges, ou será que é a caracterização do personagem que ficou a cara do Plácido? O fato é que foi muito feliz a escolha do ator. Elson! Se vc fosse contar a um pedaço da história do Amapá assim em grande estilo, qual vc contaria?