segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

PROJETO HEVEA SECANTE

Walmir Lopes

Beirando o final da década de 80, tomamos conhecimento, eu e meu irmão Wanderillo, por sinal homônimo do Frei Peregrino, que na Malásia se testava uma faca elétrica com o objetivo de aumentar a produtividade no corte da seringa.


A ferramenta, além de diminuir o tempo de corte, atingia exclusivamente o local onde se situam os vasos lactíferos, evitando assim maiores danos à árvore, pois a faca manual, guiada unicamente pela perícia do seringueiro, vez ou outra atingia indevidamente o lenho, formando-se aí uma quelóide. Tal cicatriz, dependendo do tamanho, inviabilizava outros cortes no mesmo local.

A soma dessas duas variáveis - velocidade e precisão no corte - determinava a melhoria da produtividade e o aumento significativo da vida útil da Hevea Brasiliensis. Aí nascia um sonho.

De posse de informações anteriormente colhidas in loco sobre as técnicas de corte da seringa, aliadas às outras conseguidas através de livros técnicos, iniciamos um projeto, que previamente denominamos “Projeto Hevea Secante”, de uma faca elétrica nacional. O adjetivo secante é um vocábulo que deriva do latim, significando “que corta uma superfície”.

Da idéia para o desenho foi um pulo, corporificado dois meses após, na forma de um protótipo artesanal. A primeira vítima escolhida para os testes iniciais, foi uma frondosa mangueira de nosso quintal, companheira de juventude, que quase deu a vida pelo projeto, perdendo logo de início um metro quadrado de casca.

Sobreviveu, porém, vindo a falecer anos depois, abatida pela motosserra impiedosa de um bombeiro. Após os testes iniciais na amiga mangueira, formalizamos uma solicitação à diretoria do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que nos permitiu realizar mais alguns testes numa seringueira residente ali, sob o olhar atento de um técnico florestal que zelava pela integridade física de sua tutelada.

Aprovada em todos os testes preliminares, levamos nossa engenhoca ao departamento regional da Superintendência da Borracha (Sudhevea), no Rio, que providenciou de imediato minha ida a Paragominas (PA), a fim de realizarmos os testes definitivos em campo, sendo aprovada com louvor em caráter unânime pelos técnicos e seringueiros presentes.

De volta ao Rio de Janeiro, patenteamos o invento e pusemos mãos à obra para iniciar a produção em série, patrocinada pela Sudhevea. Quando menos esperávamos, o governo federal enterra a Sudhevea e com ela nosso sonho.

A Superintendência da Borracha era uma autarquia, criada em janeiro de 1967, vinculada ao Ministério da Indústria e do Comércio, para executar a Política Econômica da Borracha no páis. Foi extinta em fevereiro de 1989.

2 comentários:

Anônimo disse...

Altino,
Há muito não lia o seu blog, embora a Brenda sempre comentasse suas publicações, e hoje resolvi "tirar o atraso" e dar uma boa espiada. Estou gratamente surpresa com a quantidade de boas informações, coisa difícil de acontecer com a frequência que observei aqui. Parabéns. Para meu próprio bem, assumo o compromisso de aparecer com mais assiduidade.
Abraço.
Krisba

Anônimo disse...

Menina! Que bom saber disso. Eu pensava que você lia todo dia, em voz alta, para Brenda. Beijo