terça-feira, 23 de janeiro de 2007

O TEMA DA REDAÇÃO É...

Edson Carneiro

Ainda não tenho a mania de abreviar as palavras na web e não sei se isso é bom ou não. Ao ler os jornais de domingo, deparei com o artigo da Leila Jalul reproduzido de seu blog, e fiz uma viagem no tempo, e põe tempo nisso. Já vou chegando aos 60 e estou preocupado, não com a vida nem com a morte (o futuro a Deus pertence), mas em deixar alguns escritos de fatos passados em nossa Rio Branco. Os tais fatos, se não forem escritos e publicados, certamente nossa memória ficará mais curta ou menos extensa, como queira.

Hoje [ontem], falei com a Lígia, irmã da Leila, na Justiça do Trabalho. Ela me disse do teu blog, onde constam muitos artigos que ela tem lido e recomendado a amigos dos velhos tempos. Não tenho quase disponibilidade de tempo para surfar (é esse o termo?) na web, mesmo porque, creio, que lixo não é para ser tocado e nem remexido. No entanto, quando se trata de coisas de meu Estado do Acre, me sinto apaixonado, tendo em vista que várias vezes tive oportunidade de lograr aprovação por conhecer um pouco a história do Acre - aquele Acre exigido nas escolas de 1º e 2º graus.

Passo a relatar uma delas, mesmo sem ter sabido acessar o blog, site, sei lá o quê, que a Ligia me disse, mas sei que se responderes esse e-mail, com certeza deixarei de ser analfabeto em procurá-lo.

Em 1970, fui procurado por um amigo, o Jordan, durante um final de semana em que nos encontramos para fazer serenatas para algumas moças, dentre elas, a Olga, filha do fotógrafo Américo Mello. Ele me perguntou quanto eu ganhava como datilógrafo na Secretaria de Educação do Estado. Respondi que era o salário mínimo, e ele me disse que eu fosse à Fundação SESP, onde trabalhava, pois haveria um concurso para datilógrafo e o pagamento era bem maior que no Estado.

Fiz minha inscrição, mas não levava muita fé, tendo em vista que era para cargo público federal e até há bem pouco tempo sempre se falou aqui em Rio Branco, que todo concurso, era jogo de cartas marcadas, pistolão etc. - aquele velho papo que todos bem conhecemos.

Marcado o dia do inicio das provas, no sábado de Carnaval, então fiquei lendo, pela enésima vez, "Um Caudilho Contra o Imperialismo", pois não sabia qual seria a matéria, além do fato de sentir que a escolha daquele dia por si só anularia muitos candidatos que certamente se entregariam aos prazeres da folia em detrimento de um retiro forçado, se não para estudar, pelo menos para se manter sóbrio com o pensamento livre, física e mentalmente.

Chegou a prova de conhecimentos gerais, achei que fui bem, mesmo sem saber o resultado. Em seguida, a de matemática, e mesmo sem ser apaixonado por Pitágoras, senti que estava indo bem. Na de português (ultima flor do lácio inculta e bela), tive certeza que estava bem colocado. Houve uma pausa para o almoço. Veio o psicoteste, fui mal, tendo em vista que usei todo o tempo previsto para sua realização, enquanto quase todos os outros, cerca de trinta candidatos, não gastaram nem um quinto do tempo.

Então chegou a tão temida prova de redação. Manhã de um domingo de Carnaval, quase meio dia, o aplicador da prova, um antigo funcionário da FSESP, após chamar os nomes dos que lograram êxito nas provas de sábado, pedindo aos reprovados desculpas por qualquer coisa, nos acomodou, cerca de vinte candidatos, com boa distância uns dos outros. Fazendo um grande suspense, começou a falar que o tema da redação era do conhecimento de todos os que ali estavam, tendo em vista que o povo do Acre era um povo vibrante, alegre. E usou tantos adjetivos e fez tanto suspense que uma amiga minha, da qual ainda lembro o nome, e não o declino por motivos óbvios, se levantou e disse:

- O tema é Carnaval!.

- Não! - replicou o aplicador. - O tema é...

Silêncio sepulcral na sala, todos tensos como se fossem iniciar uma corrida de velocidade, podia-se ouvir o zumbido de uma mosca.

- O tema é Revolução Acreana!

Aquilo foi como um tapa na cara da maioria. Aquela amiga fechou a cara, se encolheu na cadeira, e eu, que, por sorte, passara aqueles dias relendo o livro “Um Caudilho Contra o Imperialismo”, via as letras daquele livro vindo à minha mente e a caneta as reproduzindo por quase cinco páginas de papel almaço pautado.

Sim, era só uma vaga. E eu a conquistei com louvor, segundo comentário dos engenheiros e outros funcionários vindos de Manaus e Belém que aqui trabalhavam. Obtive nota bem acima dos demais candidatos, especialmente na prova de redação. Fiquei ali na FSESP, onde depois passou a ser a Sanacre, até meados de 1971, quando fui para Brasília e fui trabalhar no Itamaraty, mas isso é outra história.

Edson Carneiro é advogado acreano.

4 comentários:

Anônimo disse...

Altino, esse é um menino bom! Irmão de Ivone, Emerson, Edvaldo, Elisinha, João, Tereza e mais um monte, esse menino tem coisa pra contar. Aliás, esse menino tem futuro, se resolver escrever os causos.
Esteja entre os bons, menino Edson e serás um deles.
Um beijo

Anônimo disse...

Leila, que coisa bôa ! Ter você,o Juarez
o Walmir,a Fátima,o Elson, o Toinho e agora o meu nobre amigo Édson Carneiro. Que outros apareçam e mostrem as suas caras e seus
escritos. Peça ao Edson que conte alguns causos passados e bebidos aqui no Rio de Janeiro. Violões, serenatas, Roberval,eu
Rôney,Ilha do governador etc. SÓ prá lhe
lhe refrescar a memória.

Beijo procês todos!!!!!!

Anônimo disse...

Edson,
Gostei da tua estréia e te achei um excelente contador de causos...aprovado, adelante!!!
Beijão no coração

Anônimo disse...

Oi Leila grato pelas boas palavras, estou começando e quero tomar gosto.Li (creio) que é a Ligia, obrigado a você também, nossa história é essa aí que se escreve o que se viveu, e em nossa ótica. Sérgio, claro que lembro aquelas noites na Praia da Bica (Ilha do Governador)cantando para aquelas filhas do marinheiro (que só vivia viajando)eu, você, Roberval, Roney (onde anda ele?)pois é, qualquer dia desses vou alinhavar algumas daquelas histórias de 1969(pi,pi,ri,ri,pi,pi,ri,pi) Oh he is to you Mrs. Robinson, Jesus loves more than you know, era assim o começo da letra (Simon e Garfunkel)? faz tanto tempo abraços meu e-mail é: iderlandia@yahoo.com.br - será um prazer receber notícias