terça-feira, 5 de dezembro de 2006

VIVER SABENDO

Giampaolo Coruzzi

O Brasil não é um país, é um continente. Lá tudo é grande, imenso. Quando estou no Pacoti acontece que até os meus pensamentos se engrandecem, sobrepondo um ao outro, levando meu olhar lá em cima, onde é fácil ver uma pipa desafiar o céu, ébria de luz. A cidade que mal dista uns 30 quilômetros é o sonho de muitos que, do interior árido, tem força e coragem de ir à procura de sorte.

Lá, bem longe da Itália, se entrelaçam vicissitudes de pobreza extrema, mas tudo é vivido com dignidade e com aquela espontânea alegria que esconde fome e sofrimentos.

O emprego escasseia; uns poucos arranjam algo digno e remunerado. Tudo passa, também o tempo, mas sem pressa. Tem sempre tempo nas miseráveis barracas de periferia; tempo para viver e tempo para morrer. E tem até tempo para esperar ainda o trem da felicidade.

A cidade cresce a cada dia, multiplicando os sonhos, os enganos e os seus filhos. As crianças dão na vista por quantidade e por extraordinária alegria. Como as do Pacoti, também as crianças das favelas ficam correndo atrás de uma bola ou empinando pipas. Talvez elas corram apenas atrás dos sonhos.

O sonho de Rafael não era tão difícil a realizar-se na minha opinião; foi difícil demais na opinião dele durante quatro anos. O tempo necessário para vencer a vergonha e convidar-me pra sua casa. Compreensível já que a casa dele tem apenas um quarto do tamanho de uma cama, sem janelas, e com a louça encostada no banheiro para ganhar espaço.

Como é possível viver assim? Como vou poder eu viver doravante sabendo disso? Ainda espantosamente em crise, só a lembrança de seus sorrisos obstinados, ajuda o meu coração a ter paz.

2 comentários:

Anônimo disse...

Não conheço o mundo, só um pedaço do Brasil - Acre, São Paulo, Minas e Rio.

Mas queria saber se é só aqui, que, o povo, mesmo na miséria –sofrendo com a falta de emprego, saúde – ainda preserva a dignidade, a solidariedade e por que não a espontaneidade. Pois com um sorriso, um abraço e um belo almoço com comidas típicas para uma ‘forasteira’ conhecer o que há de bom no pedacinho do extremo oeste da região norte tem a oferecer. =p

Pois bem, o tempo que passei no Acre precisei de ajuda – não de dinheiro, mas de calor humano, risada e abraços. E pude constar que mesmo sendo uma ‘estranha no ninho’ obtive tudo isso. Posso dizer, que preservo boas amizades e historias. Por exemplo, nunca vou esquecer de uma senhora que me parou na praça central, olhou nos meus olhos e perguntou se queria um abraço. Chorei muito depois (veja, estava pouco tempo na cidade - dois meses e sentido falta da família em SP).
Essa espontaneidade me deu forças pra continuar na cidade...
Enfim, queria saber se é só no Brasil que tem esse lance, na qual procuro uma palavra que posso expressar claramente o que senti com aquele abraço daquela senhora, da qual esqueci de perguntar o nome. Foi tão surreal...
Fantástico!

Abraços e sorte,
- só aqui pra matar a saudade dessa cidade/estado, que já considero como minha segunda casa.

Anônimo disse...

Barbara, ainda nao conheço o Acre mas jà viajei muito.
Posso afirmar que alem no Brasil, tambem na Africa voce pode encontrar muita dignidade e solidaridade....