quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

A MISSÃO

Leila Jalul

Uma das coisas mais difíceis na vida é dizer um sonoro não aos insistentes. Imagino como deve ser a vida de políticos em momentos de formação de gabinete, secretariado e ministério.

O pior mesmo são aqueles sujeitos que não pedem, mas exigem. Méritos discutíveis, bolsos sem fundos, mas estão sempre ali, na fila dos desesperados pelo poder. Coisa feia.

Aqui, na vida desta cronista (?), tem acontecido coisa parecida. Outro dia, por exaustão, dispensei uns clientes da Freguesia do Ó. Mas eles voltam, sem escolher hora, pedem, alguns exigem, outros ficam visivelmente decepcionados.

Não querem entender que muitos são os candidatos e poucos serão os eleitos. Que já não pertencem mais a esta circunscrição.


Aqui pra vocês, ó!

Pois bem, deixa eu dizer do Antonio Cabeludo. É o mais apressadinho. Passou quase dez minutos para me revelar seu nome.

Avisado que sua mãe estava morrendo, resolveu calçar os sapatos, amarrar os cadarços, abotoar a camisa, pentear os cabelos, passar um desodorante, esculhambar a mulher e tomar um copo d’água. Ainda deu um tempinho de tomar um gole de cana no primeiro boteco. Depois correu até onde estava a distinta senhora. Já tinha falecido fazia meia hora. Inconsolado, jogando a culpa nos malditos sapatos, nunca mais fez uso deles.

Ao lado dele, maluco beleza, Seu Luisão. Ele não me contou, mas acho que foi Rei Momo.

Este era um fazedor de piadas nem sempre de boa qualidade e pureza. Pois bem, num desses planos econômicos (no tempo do Território Federal do Acre já havia isso), recebeu uma bolada boa. Meteu a grana num saco plástico, amarrou bem amarrado no pé direito e saía arrastando aquele troço pela cidade inteira. Perguntado sobre a doideira, respondeu:

- Sempre corri atrás de dinheiro. Agora, meu filho, ele é que tem que correr atrás de mim!

Alguém riu?

Olho mais adiante e vejo um sujeito com cara de sacana. Foi um comedor inveterado. Se duvidasse, comia pai, comia a mãe, comia a filha, comia toda a família e a família dos outros. Desse eu não falo. Já disse uma vez que isso aqui não é o Diário da Bruna Surfistinha. E ponto final. Paciência tem limites!

Novamente tive de dispensar velhos conhecidos. Expliquei que a tela do computador é pequena e não tem espaço para todos. Eles se foram. Alguns convencidos, outros, nem tanto.

Leila Jalul é cronista acreana.

4 comentários:

Anônimo disse...

Olá Altino!

Me Chamo Fábio, só monitor de um telecentro da capital, o telecentro da estação, aquele que voçê visitou outro dia. Venho atravéz deste dizer que desde aquele dia que conheci seu blog, não paro mas de visita-lo todos os dias..muitas informações, novidades e noticias esclusivas voçê publica..

Parabéns pela iniciativa!

Resp,

Fábio Storch

fabiostorch_1@hotmail.com

Anônimo disse...

Leila, o Luisão era mesmo Rei Momo. Com ele aprendi a arrancar, diante de crianças arregaladas, metade do polegar. Era um truque que ele executava com perfeição. Meu pai me levava pra cortar o cabelo no Priquito da Madame, depois passava no Beco do Mijo, onde, invariavelmente, encontrava o Luisão pra tomar uma dose. E outros tipos que, com saudade e prazer, vou aos poucos encontrando nas tuas crônicas. Taca ficha!

Anônimo disse...

"Avisado que sua mãe estava morrendo, resolveu calçar os sapatos, amarrar os cadarços, abotoar a camisa, pentear os cabelos, passar um desodorante, esculhambar a mulher e tomar um copo d’água. Ainda deu um tempinho de tomar um gole de cana no primeiro boteco. Depois correu até onde estava a distinta senhora. Já tinha falecido fazia meia hora. Inconsolado, jogando a culpa nos malditos sapatos, nunca mais fez uso deles."

Este parágrafo é brilhante !!!
Parabéns

Anônimo disse...

Sérgio, esqueci de dizer que ainda deu uma mijadinha!
Pelo brilhante, obrigada!