segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

A ESCOLHA DE CHICO MENDES














Gustavo Faleiros


Com 976 mil hectares e 16 anos de vida, a Reserva Extrativista Chico Mendes, situada no leste do Acre, não vive exatamente do jeito que seu idealizador imaginou. Em vez de sobreviverem sustentavelmente dos recursos da floresta, os moradores ainda vivem o dilema entre a subsistência e a conservação da natureza. Na realidade, as duas mil famílias que vivem na primeira reserva extrativista do Brasil ainda não conseguiram dar o exemplo, e continuam a desmatá-la pouco a pouco, a cada ano.

De acordo com Francisco Kennedy de Souza, pesquisador da Universidade Federal do Acre (UFAC), desde 2002 a pecuária representa 30% dos ganhos das famílias. Antes disso, não superava os 13%. Mas os moradores dizem que graças à valorização da castanha e do látex – e à providencial queda no preço da arroba do boi em 2005 -- eles estão deixando os rebanhos de lado. Além do mais, eles estão ansiosos pela permissão de iniciarem outra modalidade de exploração da floresta: a madeireira.

Esses são os mais recentes capítulos da conturbada trajetória da Reserva Extrativista Chico Mendes. Durante os anos 80, na pequena cidade de Xapuri, trabalhadores rurais organizaram-se em torno do líder sindical que, depois de seu assassinato em 1988, tornou-se sinônimo de defesa do meio ambiente em todo mundo. Eles defendiam que a floresta em pé era seu meio de vida, portanto não queriam vê-la transformada em pasto. Com a morte de Chico Mendes, a luta dos seringueiros tomou vulto e nasceu a primeira reserva extrativista do Brasil; e do mundo, pois até aquele momento não existia esta categoria de unidade de conservação. Desde então já se criaram outras 50 reservas em todo país.

O idealismo pereceu

Nessas quase duas décadas de vida da reserva, pesquisas revelaram que, ao procurarem melhor renda, muitos extrativistas abraçaram os ideais de seus antigos inimigos pecuaristas. Ou seja, ano após ano, observou-se o crescimento de gado dentro da reserva. De acordo com levantamento de Kennedy de Souza, em 1995, cerca de 40% das famílias possuíam gado. No ínicio dos anos 2000, esse percentual já havia subido para 62%.

Isso levou a um aumento do desmatamento da reserva. O próprio Ibama, responsável pela fiscalização da Chico Mendes, reconhece isso. “Eu sobrevoei a reserva e fiquei apavorado com o que vi”, relata Anselmo Forneck, o superindente do Ibama no Acre. Porém, ele é o primeiro a relativizar sua surpresa. Conta que o órgão federal está terminando um levantamento que indica que “apenas” 4,2% da unidade de conservação estão desmatados. Não devia causar surpresa a quem elaborou o plano de uso da Chico Mendes, uma vez que ele admite que até 10% de seus quase 1 milhão de hectares sejam derrubados, e que cada extrativista possa dedicar 5% de sua propriedade à criação de gado. Para alguns, nem isso foi suficiente. “Há pessoas que já extrapolaram, e muito, os 5% para pastos”, diz Ana Euler, coordenadora de projetos comunitários da WWF-Brasil.

A reportagem completa de Gustavo Faleiro está diponível no site O Eco.

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