sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

DISCIPLINA E UTOPIA

Elson Martins

Ao retornar, em 1975, de um exílio voluntário que me manteve desde 1958 fora do Acre, conheci o Arnóbio Marques de Almeida pai. Eu precisava de uma casa para morar com minha família em Rio Branco, e ele tinha algumas para alugar. Foi o Walter Gomes da Silva, chefe de oficina do jornal O Rio Branco que nos apresentou. E nos demos bem, desde então. No fim dos anos 70, ele tornou-se um dos poucos anunciantes do jornal Varadouro, que eu e mais um grupo de jornalistas e militantes fizemos circular desagradando às elites locais.


Como o Arnóbio Marques de Almeida Júnior completou 44 anos outro dia, àquela época teria 13, o número que agora o colocou no posto de governador. Mais para o fim dos anos 70 ou começo dos 80, eu o vi algumas vezes, passando pelo bar Girau - ponto de encontro de tribos diversas - agarrado à sua namoradinha (hoje primeira dama) Simony D'Avila. Fiquei sabendo, então, que era ele o grafiteiro autor de algumas frases e desenhos poéticos e criativos que apareciam em muros da cidade. Eu passei a observá-lo com a cautela de quem soma na idade quase duas gerações antes dele.

Creio que nossa aproximação, lenta, se deu através da Simony que se tornou repórter de O Rio Branco. Nos anos 88/90, como diretor da TV Aldeia, tive o privilégio de contar com uma equipe formada por Antônio Alves, Altino Machado, Aníbal Diniz e Simony – todos da turma do Binho. As informações sobre ele, portanto, se ampliaram gerando admiração mútua.

Quando, na campanha eleitoral de 1990, Jorge Viana foi lançado candidato a governador, sentamos na mesma mesa de discussão. Mas eu me exilei novamente, de 1991 a 2003, para ajudar um velho parceiro de lutas – o então prefeito e depois governador do Amapá João Alberto Capiberibe - a montar seu programa de Desenvolvimento Sustentável. Minha trincheira foi a Folha do Amapá, que montei e se tornou o melhor jornal do Estado. De Macapá, acompanhei a eleição do Jorge Viana para a Prefeitura de Rio Branco e para o governo da floresta, bem com a escalada de seu determinado e obstinado secretário de Educação.

Mesmo à distância, assumi a direção do jornal O Acre – um modelo de bom jornalismo - que circulou em Rio Branco entre 1997 e 1998, e que, infelizmente, se perdeu ao ser transformado num “release” no aumentativo do governo Jorge Viana.

Em 2003 voltei animado para cá, disposto a fazer o melhor que sei pelo movimento acreano que nasceu em meio da floresta e chegou ao poder com muita força popular. Ao arregaçar as mangas, porém, senti que era menos qualificado do que supunha, e que o novo Acre exigia pessoas “especializadas” para continuar avançando.

Em 1983, após passar duas semanas na União Soviética como convidado da agência oficial Novosti, chegando a visitar Moscou e Leningrado, além dos paises bálticos Estônia e Lituânia, meu guia e tradutor Igor indagou o que mais me impressionara em tudo que conheci no mundo de Lênin: respondi que me agradara muito a disciplina.

Então é isso: por covardia ou sabedoria, eu me tornei um súdito disciplinado sabendo, por experiência própria, que amizade e poder não combinam. Pode parecer contraditório, mas é exatamente isso que me leva a confiar no pragmatismo mesclado de boas utopias do Binho Marques. E, ao meu modo, pretendo ajuda-lo sem arredar o pé.

Elson Martins é jornalista acreano

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