quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

CABOCHÁ

Leila Jalul

Cada terra com seu fuso, cada povo com seu uso. Cada doido com sua mania. Disso eu sei. Minha mania era por banheiros, conhecer banheiros, com seus azulejos, pias de mármore, espelhos de cristal.

Quando pequena, se me colocassem em xeque entre Paris e um banheiro bonito, daria preferência ao banheiro. Um banheiro iluminado tinha mais magia que a cidade luz. Eu lá sabia onde estava Paris. Meu negócio eram os banheiros.

Os mais bonitos eram os com porte de toucador. Enchiam os olhos, davam orgasmos. Menina também tem êxtase. O meu era ver aquelas toalhas brancas, bicos de crochê, sabonetes Phebo, pretinhos, lisinhos, que espalhavam a pureza legítima dos aromas do Pará: patchouli, priprioca... Banheiros, berços de ninfas, paraíso das messalinas.

Agora, confesso a tara. Doida, doida mesmo eu ficava, era quando via aqueles vidros ofuscantes de Fleurs de Rocailles, Nuit de Noel, L’amant da Coty, Promessa, da Mirurgya, Madeira do Oriente, com aquele pauzinho dentro, Accua de Cologne Regina, com direito a catedral de Colônia impressa no rótulo, vidros de Água Velva etc.

O que tinha dentro deles, pouco importava. Não me agradavam no sentido do nariz. Eram fortes. Causavam ânsias indesejadas. Esperava, pacientemente, cada um deles ficar vazio para tê-los colecionados e expostos na minha penteadeira imaginária.

Me vali, não por uma única vez, de uma fórmula secreta para ajudar a esvaziá-los. Sem remorsos. Porém, minha alegria maior nunca foi atingida.

Lutei inutilmente, arquitetei mil e umas muitas malandragens para exibir aquele vidro que, além da forma, pela forma, além do continente pelo continente, além do conteúdo pelo conteúdo, tinha o mais belo nome que meus ouvidos já experimentaram ouvir: Cabochá!

Hum! Meus olhos deram voltas inteiras nas órbitas, mas o Cabochá nunca consegui...

Leila Jalul é cronista colaboradora do blog. Agora ouça a interpretação de Michelle por Stephane Grappelli e Baden Powell, do álbum La grande reunion.

6 comentários:

Anônimo disse...

Fleurs de Rocailles, quase alcanço o som da pronúncia e o cheiro do perfume que minha mãe mais gostava e mandava vir de Manaus - boom da zona franca nos anos 70. Minha mãe era e é um personagem desse cenário que vc foi buscar. Tudo é cheiroso e cuidadoso nela. Ah! Se eu soubesse desse seu desejo pelo vidro do Cabochá, teria guardado um de lá pra cá. Teria cheiro de perfume, de mãe, de infância...

Anônimo disse...

Querido Altino,
Maldades a parte o que andam dizendo em Brasília é que o Acre não pode ter dois ministros e dois do PT com a precisão da tal ampla base de apoio. Um tem cargo eletivo, ajudaria no Senado, coisa que o suplente né...O outro tem cargo só até ali. Depois fica no vácuo. A história nem é tão passado assim, e basta quem é porta voz da fritura. An tigamente dizia-se que em política não pinga-se o "i" nem corta-se o "T". Antigamente meu bem..antigamente. Beijo.Mara.

Anônimo disse...

Altino;

O texto dessa moça que assina Leila Jalul são uma delícia. Você, que a conhece, deveria incebntivá-la a escrever um livro de crônicas. Seria por certo s a b o r o s o...
Abraços aos dois...
Tião Maia.

Anônimo disse...

é os textos, eu sei... estou correndo e isso é terrível para quem escreve...

Anônimo disse...

Realmente Leila Jalul é fantástica. Sabe prender a atenção com maestria.

Anônimo disse...

Marcos Diniz, vc tá me chamando de enfeitiçadora de cobra? Peraí, menino Maros, quem sabe eu ainda chego lá! Devo dizer para vc e para o menino Tião Maia que a gente ainda tem muito tempo para pensar em livro. Deixem a narrativa fluir sem pressa.... É melhor.
Só tenho 58 anos de vida inútil.
Vamos esperar o adolescer.
Um beijo grande
Leila