quarta-feira, 1 de novembro de 2006

PRO PAI DO TXAI JÚNIOR

Tashka Yawanawa

Olá Txai Terri Coruja de Aquino!

Coruja por duas razões: a primeira, porque se tornou pai deste bebê yawanawá, que nasceu em setembro, bem no dia do seu aniversário de 60 anos de idade; a segunda, porque costuma escrever ao Blog do Altino por volta das 4 horas da manhã.

Você mandou sinal de fumaça e captei a mensagem. Atendendo ao seu convite, deixo aqui um papo de índio, nada intelectualizado. Acho que você e o Alexandre Goulart fazem parte da tribo dos "xibi kuku" e lhes desejo boa sorte. Devo avisar que sou um apaixonado e defensor desta causa, tanto quanto Fidel Castro pela Ilha de Cuba ou Hugo Chaves pela Venezuela.

Então vamos ao que interessa. É justiça que os cientistas e pesquisadores tradicionais recebam pagamento ao repassarem os seus conhecimentos. Tenho dito com frequência que, excetuando você e Marcelo Iglesias, tenho pavor de antropólogos, pois eles costumam se apoderar dos conhecimentos tradicionais.

Já faz tanto tempo que nós, os índios, estamos cansados de tanto roubo de nossos conhecimentos por parte de “pesquisadores” que passam por nossas comunidades fazendo muitas perguntas aos nossos velhos e pajés. Esses "pesquisadores" se formam, ganham título de mestrado ou doutorado e se tornam “experts” em assuntos indígenas.

São convidados para dar palestras em seminários e nunca convidam os verdadeiros donos do conhecimento. O que ganhamos com isto? Mas eles ganham bolsas e escrevem livros que nunca chegam às nossas comunidades. E, o que é pior, nunca trazem nenhum benefício para os verdadeiros conhecedores e suas respectivas comunidades.

Em seu livro intitulado “Biopiracy – The plunder of Nature and Knowledge”, Vandana Shiva, conta que a biopirataria dos recursos naturais e dos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas vem acontecendo há 500 anos. Segundo ela, depois de Columbo, a nova versão exploratória ocorre através dos acordos de patentes e propriedades intelectuais (IPRs – sigla usada em inglês).

Fico feliz que o Txai Terri Aquino esteja sugerindo uma alternativa para resolver este problema, que é o valor do reconhecimento daqueles que verdadeiramente são os guardiões da sabedoria milenar de nossos povos indígenas.

Nossos velhos e pajés realmente precisam ser tratados da mesma forma como são tratados os intelectuais graduados, como os antropólogos de Harvard. E sendo assim, têm o mesmo direito de receber pagamento por suas revelações e livros escritos a partir do conhecimento do qual são detentores.

Tashka Yawanawa é coordenador da Organização Yawanawa. Ele tirou a foto do bebê e eu tirei a foto dele com Vandana Shiva.

10 comentários:

Anônimo disse...

Txai Terri vc não me conhece pessoalamente,mas sou uma admiradora do incrível trabalho que vc desenvolve junto aos indígenas e como vc netrgou a sua vida a isso.Parábens seu filho é lindo!Que tenha muita paz.

Anônimo disse...

Altino, a Folha on-line de hoje informa que o Jorge Viana é um dos cotados para assumir a presidente do PT nacional. Será que ele vai encarar esse abacaxi?

Anônimo disse...

Caros Txais:

Acabo de receber a visita do Tashka e comentávamos: é fundamental que os próprios indígenas se manifestem sobre estas e todas as outras questões que lhes dizem respeito,pois nada substitui a legitimidade da fala "nativa". Embora - como diria Clifford Gertz, "somos todos nativos"...(isso ele aplicou para outro contexto, mas gosto desta frase).

Desde o início manifestei plena concordância com o necessário repúdio à formas "bucaneiras" (usando expressão de Mário) de apropriação de conhecimentos. No meu caso em particular, aprendiz que sou neste ambiente complexo, compreendi desde cedo com o Professor Mauro Almeida e a Professora Manuela a respeitar e valorizar os conhecimentos tradicionais. A experiência da "Enciclopédia da Floresta" foi um marco neste debate! E minhas experiências com formação de projetos indígenas, nas quais os indígenas SÃO PROTAGONISTAS DE SEUS PRÓPRIOS DESTINOS, apenas reforçou este princípio.

O ponto positivo está no fato de questão tão relevante como esta, tratada por pessoas esclarecidas (e culturalmente diferenciadas), vir à tona no blog do Altino.

Toda esta discussão surgiu com minha "provocação" ao fato de que "índios e seringueiros não aparecem na foto" quando se fala do Acre. Taí prova contundente de que "outros Acres" existem.

PS. Tashka: você poderia nos dar uma aula de como ser um bom "xibi kuku"? Abraços fraternos. Alexandre Goulart

Anônimo disse...

Que criança linda!Terry,você merece toda a felicidade do novo e a sabedoria dos velhos.Parabéns pelos seus sessenta anos de experiência e pelo novo marco na sua vida.Viva o povo yawanawa!Silene Farias,da tribo AKIRI.

Anônimo disse...

Parabens ao Terri por mais um rebento. Que lhe renove as forcas e as esperancas e continue essa maravilhosa luta. Parabens ao Tashka pelo belo texto exprimindo a opressao cientifica.

Anônimo disse...

Tudo bem, até estou interessado em participar da conversa. Mas para um bom entendimento, necessito de uma tradução rápida dessa coisa de "xibi kuku". É de comer?

Anônimo disse...

Toinho, esse blog é coisa séria. Não posso traduzir literalmente o nome da tribo "xibi kuku". O prato preferido desse povo é chupar manga.

Anônimo disse...

Tá, encontrei com o Terri no almoço e ele me deu a tradução. Um incentivo para entrar na conversa. Mas só depois do Dia de Finados.

Anônimo disse...

Que essa linda criança, Terri, te renove o amor pela vida e os teus compromissos sociais.

Anônimo disse...

Terri é um exemplo para muita gente. Inclusive para antropólogos que amam o que fazem e respeitam os povos indígenas e seus conhecimentos. Parabéns por esta linda criança, Terri!

Tashka é um líder indígena cheio de energia que colocará este bando de piratas na linha! Isso aí, Tashka, imponha as leis que defendem o seu povo!

Abraços,
Eliane

p.s.: Alexandre,
Cliford Geertz faleceu anteontem, 31 de outubro, no hospital da Universidade da Pensilvania com 80 anos de idade.