sábado, 18 de novembro de 2006

ARQUEOLOGIA DO ACRE

Mário Lima

O blog tem me ensinado o quanto é antropofágico o mundo das notícias. As notícias novas vão devorando as mais antigas e seguem num ritmo inexorável e inalterável, como os instrumentos de percussão de Ravel, em Bolero. Nada demais se nos postássemos numa perspectiva de quem acompanha a passagem do tempo. Apenas diríamos, é assim mesmo, as novas ocupam os lugares dos mais antigos e repetem o andamento da própria vida. Mas não dá para deixar de lembrar Paulo Freire, não dá para aceitar como fatalidade. Nossas ações e atitudes podem quebrar a seqüência e, teimosamente, repetir, ou fazer ecoar, reverberar, o que deve ser entendido como tema importante. Assim, fazem os operadores da informação. Vamos nós também agir assim.

Nesse momento, o ponto de partida é identificar um interlocutor. Parece que podemos apelar para alguns interlocutores bem posicionados nas estruturas do poder e de relações do poder, no Acre. Por algumas referências que surgiram em matérias anteriores escritas pelo Altino Machado e por mensagens que circularam, poderemos nos dirigir a procuradora Patrícia Rego, ao deputado Moisés Diniz, ao jornalista Antonio Alves.

Ao deputado cabe lembrar, que a situação no sítio arqueológico acreano, como documentado pelo Altino Machado, numa matéria que incluiu fotografias, é de destruição pura e simples. Um trator está promovendo a destruição daquilo que a ação natural, como que fazendo vista grossa, deixou preservado, possivelmente, por centenas de anos. Ou seja, é preciso urgência na deflagração de algumas medidas. Além disso, há muito trabalho a vista.

Não sou especialista da área do direito, mas acredito que a defesa do interesse público define ou pelo menos pertence ao campo de ação da procuradora Patrícia Rego. Entendo que hoje constitui interesse da comunidade acreana a manutenção, preservação do sítio arqueológico acreano e a garantia de que ali se processem todos os estudos e pesquisas que levem ao pleno conhecimento dos conteúdos que podem constituir o sítio.

Pelo que podemos deduzir das matérias e mensagens trocadas no blog, há falta de coordenação de ações, em que pese o reconhecimento da importância da preservação e do estudo do sítio. Temos visto a forma como o Antonio Alves transita nas esferas de governo e a sua proximidade ao governo petista, atual e eleito. Assim, poderia ser solicitado a ele assumir o encaminhamento de medidas que possam gerar uma estrutura de segurança em torno do sítio, articulando instituições do poder público, tais como esferas do executivo – nesse caso, não apenas da secretaria da Educação, mas áreas de interlocução institucional como o gabinete Civil -, esferas do Poder Legislativo, onde já se conta com o interesse do deputado Diniz. Entretanto, há que se mobilizar as representações na Câmara e no Senado em virtude da necessidade do desencadeamento de medidas próprias da esfera federal. O Ministério da Cultura precisa ser imediatamente acionado, visando a adoção de medidas de reconhecimento do sítio arqueológico acreano e o acionamento de mecanismos que garantam os recursos necessários à série de ações diretas sobre o sítio.

Esse conjunto de ações deve visar a criação e o fortalecimento de um núcleo que se encarregue dos estudos e pesquisas sobre o sítio acreano. Um ponto fundamental é que esse núcleo seja caracterizado pela estabilidade e permanência. Assim, seria recomendável que a Universidade Federal do Acre seja envolvida para que se encarregue das atividades operacionais. Ali já existem conhecimentos acumulados, pessoal qualificado num núcleo com experiência suficiente para se responsabilizar pelo sítio acreano. Evidente que haverá necessidade de ampliar os quadros locais de especialistas e para isso os esforços de levantamento de recursos deverá envolver o maior número possível de forças estaduais junto a entidades e organismos que possam garantir o financiamento dessa empreitada.

A programação urgente de medidas é o ponto essencial. Não podemos deixar que possíveis marcas da nossa história sejam, pura e simplesmente, transformadas em poeira, em resíduos fertilizadores.

Mário Lima é professor de economia da PUC-SP.

4 comentários:

Anônimo disse...

Parece-me que o Professor Lima está muito distante da chamada ética moral e profissional no momento que "decide" rebaixar a patente do Altino e ainda a do Deputado Diniz. Querido Professor Lima, todos somos "cabeças pensantes" sem muita necessidade de transitar pelo poder. "Penso, logo existo" é fundamental.
Obs. O Bolero de Joseph Maurice Ravel, Doutor Honoris Causa de Oxford, é maravilhoso e perdura em nossos ouvidos desde 1928.

Anônimo disse...

Não se trata de rebaixar, mas de reconhecer que as pessoas indicadas podem e estão envolvidas nesse esforço de evitar que o Sítio Arqueológico Acreano seja destruido. Até agora, pelo que se sabe, nada há de efetivo para garantir a preservação dos elementos que compõe a face mais visível do sítio. É necessário garantir um diálogo fácil e capaz de gerar resultados imediatos para desencadear medidas de preservação e a mobilização de recursos materiais, humanos e financeiros para cobertura de ações de estudo e pesquisas. Como falar em rebaixamento se estou reconhecendo nessas pessoas posição social que as habilita a assumir papéis destacados nessa mobilização? E nisso nada há de amoral porque se trata de uso de suas posições em benefício social e não recomendações de uso pessoal e privado de posições muito menos de tráfico de influências. A visibilidade social do Altino é indiscutível, assim como a do deputado Diniz, um representante do povo acreano a quem, salvo melhor juízo, interessa o levantamento dos conteúdos históricos e sociais do sítio. A minha referência ao Antonio Alves refere-se, apenas, ao fato dele ser um assessor muito próximo, pelo que sei, tanto do atual governador quanto do governador eleito. Não fiz qualquer comparação entre ele e os demais.

Como cabeça pensante, senhor Andreolli, pense. Não creio que exista em meu texto qualquer atitude desrespeitosa relativamente as pessoas indicadas ou que haja falta de moralidade em minhas atitudes profissionais.

Anônimo disse...

Gostei da entrevista do Zelito Viana. Concordo que a criação de um ministério da cultura só empobreceu o cinema brasileiro e nivelou, para baixo, a cultura em geral.

Anônimo disse...

Não é de hoje a tentativa de sensibilizar e conscientizer o poder público e a sociedade acreana/brasileira da importância desses sítios arqueológicos.
Apesar de muito divulgados na mídia acreana e nacional, pouquíssimas (pra não dizer nenhuma) medidas foram tomadas.
O Acre ainda não despertou para o tesouro (histórico, cultural, social, turístico e ambiental) que existe no quintal de casa.
No mais, ficamos torcendo para que em breve, seja formado um grupo, envolvendo representantes do poder público, da sociedade civil organizada, da iniciativa privada, pesquisadores, jornalistas, etc. para discutir, pesquisar e sugerir medidas para a preservação dos geoglifos e como o Estado irá proceder nos próximos anos para que isso aconteça.
Que a discussão saudável continue!
Abraços,