sexta-feira, 4 de agosto de 2006

RUA DA SAUDADE



Elson Martins

Altino, meu caro:

Vi que seu blog está cheio de coisa interessante para ver e ler, mas estou com pouco tempo para isso porque, a exemplo do governador Jorge Viana e do prefeito Raimundo Angelim, estou em obras. Lembra ou ouviu comentar sobre o tufão que passou sobre Rio Branco dois sábados atrás?

Pois bem, ou "marrapaz", como nós acreanos preferimos:

O vento quase derruba minha velha casa da rua da Saudade, esquina com a travessa do Morro, aqui na vizinhança do Clube Juventus. O muro da parte de trás caiu inteiro, duas telhas daquelas de amianto de quatro metros foram desparafusadas e ficaram batendo, aterrorizando a gente, enquanto três capotes voavam feito pipa caindo de “facada” sobre as outras telhas.

Imagino que você vai estranhar como um muro inteiro pode cair assim, com um vento forte, mas não do tipo arrasa-cidade que quebra tudo nos EUA e na América Central...Eu também estranhei.

Entretanto, descobri, 25 anos depois, que esse muro construído pelo velho mestre de obras e "cientista político" Martins Bruzugu, em 1981, não tinha ferragem nenhuma sustentando as colunas. Era só massa e tijolo e podia ter caído antes, sem vento mesmo.

Mas eu te falei que estou em obras...Contratei dois vizinhos experientes – seu Orlando e seu Armando -, ex-seringueiros do rio Iaco, que com um pouco de cimento, areia e ferro, aproveitaram os tijolos não quebrados inteiramente e levantaram de novo o muro.

Com os cacos, ou seja, o que não deu para remendar, decidimos nós três dar uma forcinha ao prefeito Angelim e melhorar a situação dos cem metros da rua da Saudade que dá acesso à avenida Getúlio Vargas. Dá dó, durante o inverno, ver mulheres e homens idosos, crianças, mulheres grávidas derrapando nesse trecho.

Não sei se você lembra (já lhe contei mais de uma vez) que isso resultou de uma maldição lançada por um secretário de obras do Flaviano Melo, quando este era prefeito. Naquela época, por volta de 1985, eu escrevia a coluna “Gazetinhas” que hoje é marca registrada do Silvio Martinello, e andei cutucando os brios do gajo “estrangeiro”- digo, do Brasil boa vida lá de baixo - e o gajo que estava entijolando os bairros sentenciou:

- Esse trecho é pra ficar com lama para sempre.

Não é que a praga pegou? Que eu lembre, passaram quase uma dezena de prefeitos e secretários depois deles, mas nenhum, - nem o Jorge Viana - enxergou mais esse trecho de rua tão central, tão ecológico. Há pouco tempo, uma vizinha sugeriu que a gente fechasse o trecho e o transformasse numa horta coletiva.

Não foi por falta de organização popular, não, que fomos abandonados. Eu mesmo ajudei a criar a associação de moradores, faz muitos anos, entortamos a coluna de tanta reunião entre nós e com os homens do poder, mas nada demoveu a condenação de “merdinha”.

Bom, eu só queria que você fizesse o registro em seu blog de nossa obra porque agora nem organização temos mais no bairro. Outro dia, caí na besteira de reclamar com o secretário de obras do Estado, o meu amigo Eduardo Vieira, gente boa de verdade, e ele me deu uma resposta que quase me mata de vergonha:

- Cadê a organização de vocês? Vão lá e proponham ao Angelim...

Eu não tive tempo nem saco para contar essa história antiga e perversa ao meu amigo da corte. Um abraço.

Elson Martins é jornalista acreano e colaborador deste blog. Como o acesso a blogs é bloqueado nos computadores da prefeitura de Rio Branco, vou encaminhar o drama dos moradores da Rua da Saudade ao e-mail do prefeito Raimundo Angelim. Daqui uns dias Elson nos relata o resultado do apelo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Prefeito, taí o desafio! Desenterra a cabeça de burro da Rua da Saudade !!!

Anônimo disse...

Altino, confesso que me dá uma raiva enorme ao ler essas coisas. Como pode um politicozinho qualquer e de passagem condenar os cidadãos que o sustentam por birra???
Muito boa a idéia do seu amigo de contar a história aqui no blog. Agora, veremos se o prefeito eleito para cuidar da cidade, realmente pensa nela.
Boa sorte ao Elson e a todos os moradores da Rua da Saudade.

Beijos