sexta-feira, 11 de agosto de 2006

ESTADO DA FLORESTANIA

Altino,

Tenho um grande apreço pela história do Acre e do seu povo. Depois que descobri seu blog não deixo de passar por ele sempre que venho blogar. No dicionário Aurélio, que tenho no meu micro, não consta a palavra "florestania". É cunhada por você? O que significa?

Só encontrei:
florestano1
Adj. 2 g.
1. De, ou pertencente ou relativo a Floresta (PE).
S. m.
2. O natural ou habitante de Floresta.

florestano2
Adj.
S. m.
1. Florestense1.

Abraços.

Elifas Araujo


Caro Elifas: recebi hoje o estudo "Democracia Participativa no Estado da Floresta: uma análise do Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Acre", do inglês Oliver J. Henman, pesquisador de Universidade de Oxford, que trabalha no Parlamento Britânico como assessor de relações exteriores e se relaciona com vários grupos de pesquisa sobre inovação democrática.

Oliver J. Henman analisa o processo de Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Acre como exemplo de democracia participativa que fomenta a redistribuição do poder, através de uma visão de poder aberto e a construção coletiva de políticas públicas.

Pois bem, o texto tem mais de 40 páginas e o autor me informa que deve ser publicado em São Paulo atá o final do ano. Ele está vendo opções de publicar na Inglaterra também e vai fazer um resumo para publicação no
blog dele, que está desatualizado desde a última viagem que fez ao Acre.

Em resposta à sua pergunta, segue um trecho do estudo de Oliver Henman:

"Com essa perspectiva histórica, se torna possível entender que existe uma visão de democracia particular ao Acre, baseado na redistribuição de poder. Observamos o desenvolvimento heterogêneo de processos participativos, baseados na experiência de luta pela terra e vida da floresta, radicalmente diferente de um processo urbano, mas com as mesmas preocupações de empoderamento e de efeito redistributivo concreto, nesse caso, através da definição de propriedade de terra. Essa trajetória peculiar do Acre levou alguns pensadores a sugerir que se trata de outra forma de relações sociais, relações definidas pela floresta e a presença da natureza e não pela cidade. Daqui surgiu o conceito de 'florestania', que agora faz parte da visão do atual governo estadual, que se deu o nome: 'Governo da Floresta' e ao Acre: 'Estado da Florestania'.

Mas como definimos a 'florestania'? Esse termo foi desenvolvido pelo
Antonio Alves, jornalista e teórico acreano, que explicou em entrevista que a ideia de 'florestania' surgiu como alternativa à cidadania, já que cidadania depende do substantivo, cidade, então seria aplicável aos direitos dos moradores de cidades, mas a maioria da população do Acre vivem na floresta e até hoje foi formada pela experiencia de vida na floresta, por isso florestania. Esse conceito não se limita a uma ideia rígida de vida na floresta como um bioma virgem, fechado e pronto para exploracao pelos humanos, mas se baseia numa forma de vida tradicional da Amazônia, em equilíbrio com os sistemas da natureza existentes, como as estacoes temporais e os ecossistemas delicados.

Na verdade essa visão expande muito mais a definição de democracia porque leva em consideração os fatores não humanos nos eventos políticos da Amazônia. Segundo Antonio Alves, além das pessoas que moram no Acre, os administradores devem também considerar os seres vivos não humanos, o impacto das políticas públicas sobre eles e até a sua vontade para o desenvolvimento do Estado. Sem duvida, observamos que no Acre, um evento como uma enchente pode levar a uma mudança de necessidade política, porque tem um efeito direto na situação de moradia na área afetada, dessa forma um fator não humano pode levar a uma posição política. Esse conceito de 'florestania' tem um impacto indiscutível na evolução política particular ao Acre. Até podemos perceber que esse estado conseguiu criar estruturas próprias, influenciados apenas em parte pelos demais exemplos de democracia participativa, que possibilitam uma aproximação do governo à população rural com efeito de redistribuição de poder e de terra, entre os quais se encaixa o processo participativo do Zoneamento Ecológico-Econômico".

6 comentários:

Anônimo disse...

Caro Altino
Tudo muito lindo ! Tudo quase claro !
Não fosse a omissão do nome do criador
do termo "FLORESTANIA".
Prá quem não sabe, se chama "JORGE NAZARÉ" uma "NAVE LOUCA, que com certeza, apronta poucas e boas, pelos varadouros do céu. E eu,como parceiro e amigo, ainda lhe devo uma homenagem, como ja fizeram Bruxinha, Antônio manuel, Silvio Margarido, Danilo de Sacre e tantos outros.
Enfim, Jorge Nazaré era um principe, que não tinha vocação prá sapo. Sem cetro ou corôa. Sem trono, rainha. Cavalo branco, nem pensar ! Jorge cavalgava noutras, e
hoje certamente, se banha na beira de algum rio ou igarape. Proseia com os botos e iaras. Mora nas nuvens. De noite
vira estrelas,e ao amanhecer, com as juritis e jaçanãs, vôa, dá rasante.
Tal um curuminzin serelepe,sacripanta, que vai pelos barrancos em busca de melancias.
Como disse o poeta Antônio Manuel "OS
ARTISTAS NÃO MORREM" : DE TANTO QUE NOS CONFUNDEM, SE FUNDEM ETERNOS À POESIA.
"DAI A JORGE O QUE É DE JORGE"

MEU ABRAÇO AFETUOSO

Anônimo disse...

Eu não sou do Acre, mas mora aqui há mais de 15 anos. Estou estudando também a participação na florestania. O inglês tá pisando na maionese, como se diz no popular. Tá confundindo mito com realidade. A visão do "estrangeiro" é romantica. O Acre pode ser lindo, como as fotos mostram, mas não é participativo. Essa é a minha tese de doutorado que acabo de defender.

Anônimo disse...

Afonso, quero conhecer a sua tese de doutorado. Faz a gentileza de enviar para altinoma@uol.com.br. Abraço

Anônimo disse...

Afonso / interesso-me pelo que se escreve sobre o Acre. Você poderia indicar-me o nome, área e Universidade onde você apresentou a sua tese? grato. Mário

Anônimo disse...

Oi! Meu nome é Fernanda Cunha, sou estudante de Medicina Veterinária da PUC-PR e estou muito preocupada com o possível destino das nossas preciosas árvores principalmente a Copaíba, pois, o óleo desta árvore vem dando resultados muito positivos nas minhas pesquisas com emprego de fitoterápicos em animais.

Elder Gomes disse...

Boa tarde a todos e todas!

Discussão de importância ímpar! No entanto, gostaria de receber alguma indicação bibliográfica sobre o tema.