quinta-feira, 17 de agosto de 2006

CHEGOU A HORA

Chegou a hora certa para que o Ministério Público e os órgãos ambientais do Acre façam valer a decisão de que as queimadas serão permitidas no Estado apenas a partir de outubro. Os satélites (veja aqui) detectaram ontem 931 focos de queima no Brasil, sendo os mais destacados os estados do Mato Grosso, com 305 focos, Rondônia (248), Pará (155) e Amazonas (126). No Acre, onde até o começo da semana não havia queima captada pelos satálites, já aparecem 14 focos.

Em julho, numa iniciativa considerada heróica, o Ministério Público decidiu agir para tentar evitar os danos da seca do ano passado. Recomendou formalmente às autoridades ambientais estaduais e federais, que “não expeçam Autorizações de Queima Controlada, bem como o licenciamento ambiental para conversão de áreas de floresta, na parte leste do Estado, até que sejam concluídos os trabalhos relativos à sistematização das informações acerca das áreas queimadas no Estado do Acre, sua abrangência, impactos e riscos”.

Está quase insuportável viver no Acre com tanto calor. Hoje, por exemplo, o dia amanheceu parcialmente nublado, a temperatura é de 36°C, mas a sensação é de 40°C. Existe promessa de chuva, mas só passei a acreditar na previsão da metereologia após uma aranha-caranguejeira aparecer na parede da varanda de minha casa.

"Por volta das 14 horas de ontem, os termômetros marcavam a temperatura de 36 graus Celsius na capital, com a sensação de 38 graus. A umidade relativa do ar estava em 41%, ao passo que o Índice Ultravioleta (IUV) chegava à categoria 11, considerada extrema pelos meteorologistas", relata Renata Brasileiro, do jornal Página 20, na reportagem sobre os dias mais quentes do ano.

Aliás, a coluna Poronga, do mesmo jornal, tenta chamar a atenção das autoridades ao informar que o município de Capixaba, a menos de 100 quilômetros de Rio Branco, está sob fumaça. "Nas propriedades vizinhas, as queimadas estão intensas. Esse é um alerta aos órgãos ambientais", diz a nota.

A decisão do MPE permite que pequenos agricultores de subsistência de Acrelândia, Rio Branco, Sena Madureira, Epitaciolândia, Brasiléia, Capixaba, Senador Guiomard, Porto Acre, Plácido de Castro e Assis Brasil recebam licenciamento para realizar queimadas somente a partir do mês de outubro, quando geralmente já tem começado a chover na região.

Fazendeiros estão proibidos de queimar pastagens, como fazem tradicionalmente. Segundo o pesquisador Evandro Ferreira, do Inpa no Acre, considerando que o preço da arroba de carne vale cerca de R$ 35,00, contra R$ 45,00 ou R$ 50,00 do ano passado, é de se esperar que a maioria deles sequer derrube novas áreas de florestas, como tradicionalmente faziam, pelo menos até o preço da carne se recuperar.

Ferreira, que chegou ontem da reserva extrativista Cazumbá-Iracema, conta que a crise do mercado da carne também se abateu no local. Lá, o animal adulto está sendo vendido a R$ 250,00, ou cerca de R$ 25,00 a arroba.

- Na reserva extrativista os seringueiros têm que vender o gado todo porque o pasto já foi para o pau com a seca. Se tivesse tempo, iria escrever algo para postar no blog - disse. Ele escreve no blog Ambiente Acreano.

Com ou sem aranha-caranguejeira e chuva, o desafio está posto. Chegou a hora.

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