quarta-feira, 28 de junho de 2006

ACREANA NA NORUEGA

Maria Lunde

Hoje estava num dia bem chato. Não consegui encontrar nada que me distraísse. Estava numa saudade que não explicava. De repente, me peguei procurando os contatos no Skype. Quando busquei os nomes de todos do Acre, o primeiro nome que encontrei foi Altino Machado.

Achei o nome familiar e resolvi conferir o perfil. Não estava a procura de um namorado, pois sou casada. Procurava por alguém que pudesse me contar tudo que anda acontecendo no Acre, pois sou de Cruzeiro do Sul e moro na Noruega.

Tem dias que a saudade dói e fico pensando nos amigos, na comida, no sol, em tudo. Olho para trás e não acredito que vim parar aqui, onde a temperatura faz 20 graus abaixo de zero e as pessoas almoçam às 17 horas.

Parece mentira, mas na Europa tem sol à noite inteira. Quando cheguei aqui, não queria dormir, pois não havia noite. O sol só baixa um pouquinho e, às 4 horas da manhã, está tudo claro novamente.

No inverno, a neve só é divertida no primeiro dia. Depois é deprimente. O amanhecer acontece às 9 horas e, às 16 horas, está tudo escuro. Foi uma mudança muito radical. O mais radical para mim foi o idioma. Aqui todos falam inglês, crianças e adultos, sem exceção. Necessitava de tradutor para tudo.


Agora já me viro, falo tudo errado, mas todo mundo entende. Estou me acostumando, tenho amigas brasileiras que também são casadas com noruegueses, e acabamos nos considerando como uma família.

Na escola, estudo com muitas pessoas de outros países, muitas delas refugiadas do Afeganistão, do Irã, da Somália - é aquele povo muçulmano, que usa um monte de pano e a gente só vê os olhos. Esses refugiados são também pessoas do Chile, da China, da Tailândia e de Angola.

Aqui as pessoas são tão frias quanto o país. Nao existe aquele calor humano que os brasileiros têm. É muito, muito diferente. Os noruegueses são pessoas muito individualistas e não são prestativos como a gente brasileira. Também são muito positivos, no sentido de não abrir exceção para eles. Não tem aquilo que conhecemos como “jeitinho brasileiro”

Para eles, o que importa é que a pessoa trabalhe. Todo profissional aqui é bem pago. Um médico tem um salário igual ao de uma faxineira, pois ambos recebem por hora. Existe preconceito contra os refugiados, pois a maioria são pessoas totalmente acomodadas, que recebem dinheiro do Estado e freqüentam a escola porque é obrigação. A maioria não quer nada mesmo com a vida.

Quando estava no Brasil, achava que refugiados eram pobres coitados. Agora entendo que é um bando de vagabundo. Os noruegueses odeiam eles. Custam muito caro para o Estado.

Mas voltando a falar de onde comecei, da saudade, lembra? Pois é, quando vi o endereço de sua pagina, parecia que era uma grande mentira porque seu conteúdo me fez relembrar tudo do Acre. E até fiquei com raiva de mim ao constatar que morei aí a minha vida inteira e não tive acesso aos seus textos.

Nao acreditava que no Acre existisse uma pessoa como você, com tanta bagagem. Mas é melhor tarde do que nunca. Espero que você tenha o reconhecimento que você realmente merece.

Fiquei muito feliz de ter encontrado tanta coisa sobre a minha terra, escrita por um conterrâneo, que eu achava que não existia. Fiquei mesmo muito contente e me perdi em cada frase. Cada linha escrita por você expressa muita segurança e originalidade.

Do fundo do coração, meus parabéns.

10 comentários:

Anônimo disse...

Pôxa vida que coisa, ela precisou ir embora pra ter acesso as coisas boas da própria terra. Esse mundo tá doido mas aumentaram as chances das pessoas adquirirem cultura e conhecimento. Desde o mais perto até o mais distante na rede.Me ocorre aquela nossa discussão sobre blog ou site. A vantagem dos blogs é que eles são mais pessoais sendo assim falam mais às pessoas, às emoções, e tal... bacana E como as pessoas se manifestam, dizem, escrevem, gritam, choram pela net.

Anônimo disse...

Altino, adorei o post. É interessante observar o quanto os acreanos amam esta terra mágica e o quanto sofrem ao deixá-lo, mesmo para ir ali pertinho. Imagine essa menina, tao distante.

E, você, a impressão que tenho, é que é um anjo da guarda, mandando por meio do blog, carinhos aos seus conterrâneos e àqueles que aprenderam a amar o Acre, por seu intermédio.
Parabéns.

Beijos

Anônimo disse...

Bem, não quero parecer um chato, mas acho que a garota deve urgentemente passar uma temporada por estas terras, acho que ela deve estar congelando tal qual o noruegueses de que tanto reclama. Ela pode acreditar que no Acre tem gente pensante e com "alguma bagagem", mas nem todas passeiam pelos blogs. E também que os refugiados, vagabundos e odiosos, apenar cobram dos europeus uma dívida secular, pois geralmente vêm de países estuprados pelos loirinhos.
Viva os refugiados! E que comam muito queijo e bebam vinho a custa dos governos do velho mundo.

Anônimo disse...

Altino, sem julgar a moça mas entendo o que ela quis dizer. Eu me auto-denomino exilada do Acre e estou aqui no Brasil e morro de saudades do Acre, então imagino a solidão e a falta do sorriso alegre e despreendido do povo acreano e a falta do calor de 40º que as vezes quem esta distante sente falta. Até as coisas que quando moravámos no Acre pareciam ruins, quando estamos longe temos saudades, o calor excessivo, os piuns e mucuins, o inegualável cheiro de terra molhada após uma daquelas chuvas de verão ai no Acre.
É claro que existe um choque cultural quando saimos de onde estamos e vamos para um outro local, terra, eu senti isso duas vezes, a primeira quando sai do Paraná e fui para o Acre e a segunda quando sai do Acre e vim para o Espírito Santo. Posso dizer que vivi, vi e vivo três mundos e culturas diferentes, dentro do Brasil, imagina a moça na Noruega entre tantas gentes de outros paises do mundo (outras culturas) e da própria Noruéga dentro de uma cultura fria e individualista.
Eu uma vez escrevi que a sensação que a gente tem é mais o menos assim estar em um lugar e não sentir o chão. Chamo isso de saudade? Não sei! Mas é isso que eu acho dos que saem e deixam a nossa "terrinha tão calorosa". Um abraço a todos amigos que ai deixei. Quem sabe um dia eu retorne. Parabéns pelas matérias no blog e pelas fotos que sempre são perfeitas.
Salve São Pedro!!! Boa Noite.

Anônimo disse...

Querida Maria,
Legal que agora voce podera ficar mais pertinho de Cruzeiro do Sul via o Altino. Ja estou faz tempo, estando distante do Acre a varios anos morando na terra do Tio San. Tambem nao quero ser chato com voce, mas apenas fazer um comentario rapido sobre sua visao dos refugiados, o que me parece ser mais um “Brainwasher” do Noruegueses com voce.
Ja que a saudade e tanta e voce ja descobriu que os Noruegueses sao frios, porque nao tentar se aproximar um pouco dos refugiados – com certesa estes povos diversos que voce menciona sente a saudade de seus lugares assim como voce, alem da possibilidade de um grande aprendizado cultural com eles. O que me parece ser o que falta para “aquecer” mais sua vida distante. Se afaste mais dos loirinhos e nao faca conclusoes prematuras e absurdas (desculpa o adjetivo) sobre tais povos, classificando-os como “vagabundos”. Take care and open your mind.

Anônimo disse...

Sabem queridos amigos, quando falei assim dos refugiados,não falei todos mais falei uma grande maioria e falei do que conheco,conheco pessoas que moram aqui há 7 anos e nao falam o idioma e vão p escola todos os dias pois se faltarem a escola é descontado no dinheiro,reclamam porque tem pouco dinheiro e levam um padrão de vida muito melhor que os proprios noruegueses,se tem alguem que pensa que quem vem párar aqui sao os pobres, estao enganados,pois os que chegam aqui sao os que tinham uma boa renda pois até que o Estado se responsabilize por eles precisam gastar muito,os pobres não tem condicões de virem.Tem muitos deles que chegam aqui e a única profissão que tem é se drogar e se alcolizar,mais recebem do Estado o sustento p tudo que precisam,vale resaltar que nao são todos mais uma boa maioria.Conheco um caso que revolta as pessoas aqui,um refugiado chegou aqui aprontou está na cadeia por causa de tráfico de droga eo Estado não manda de volta p seu País,o que não entendem por qual motivo se tolera um inútil a este ponto que apenas custa dineiro p o´País,porém agora comecaram a ser negados pedidos de permenência,comecaram a voltar sem sucesso.Talvez alguén consiga lembrar do grande problema que teve há alguns meses atrás por causa da caricatura do Mohamede que os jornais da Dinamarca e da Noruega publicaram,pediram guerra e foi noticiado em todo o mundo,nao sao todos mais uma maioria sao pessoas que não tem respeito por ninguem e p eles tanto faz viver na guerra ou não são acostumados a brigarem.Falando assim parece que sou racista? mas quando vc está perto vendo e convivendo é dificil abracar.Uma vez mais não são todos,porém uma boa maioria.Um abraco

Anônimo disse...

Querida Maria.
Fico muito triste em le o que escreve. Pois eu penso que quando uma pessoa se decide em casar e sai do seu querido pais não deveria falar tão mau do pais a qual abriu as portas para você. Se você acha que os noruegueses são frios, então deveria voltar para o Brasil aonde deveria ter alguén que lhe esquentase melhor. Me diga uma coisa, qual é o brasileiro que lhe dar um lugar para morar, comida para comer sem pensar que você um dia não terá que paga-lo de volta? Eu penso que você deveria pensar nas oportunidades que você tem agora ai em Noruega e também em outras coisas boas que não existe aqui no Brasil. É legal a quintura, mas não é legal andar para o trabalho no sol muito quente ou pegar ônibus cheio de pessoas fedorentas. E se você tiver a sorte de ter um trabalho porque até isso é dificil. Pense Maria antes de falar bobages. O que seu marido pensa? Você falou para ele? Acho que não tem coragem, pois deveria. Se viver na Noruega é tão ruin, pois deveria pegar o primeiro avião e volta para esse lugar de loco. Gostaria eu de ter a oportunidade de ir embora daqui.

Anônimo disse...

Oi minha querida amiga,tambem fiquei triste,pois estou constatando com o que vc escreveu que não me entendeu ou então não leu direito,me interpretou muito mal,quando falo que estou com saudades não significa que estou arrependida em nenhum momento disse isso,as pessoas aqui tambem sentem que os estrangeiros são mais calorosos e em consequência disso se casam com estrangeiras,tanto homens quanto mulheres,e quando escrevi quiz demonstrar como foi legal p mim encontrar o blog e explicar o porque estou com saudades,se tivesse mudado p outra cidade com a mesma cultura não teria estranhado nada, mas em nenhum momento cheguei a me arrepender,tenho amigos daqui e que dizem que os estrangeiros são loucos pois até eles os noruegueses se deprimem no inverno e usam medicamentos p depressão,meu marido entende assim como muitos que conheco e dizem que p eles é bom casarem conosco, pois não mudam de cultura ao contrario de nós, mudamos de cultura e de uma forma radical,sinto saudades porque tenho um coracão enorme no peito,tenho saudades dai porque morei 27 anos da minha vida ai em Cruzeiro e tambem um tempo em Rio Branco tenho boas amizades e foi onde cresci,não me arrependo de ter trocado a vida do Brasil pela daqui,a saudade tem dias que está mais forte e se eu pudesse falava com todos na mesma hora,e tenho orgulho de ser brasileira apesar de tudo que acontece ai no meu País nunca esquecerei minhas origens,sou acreana e de coracão.Amo meu marido e sentir saudades é normal quando vc faz uma mudanca de bairro imagina de País,não estou infeliz nem sou obrigada a morar aqui tenho casa própria e tinha emprego na minha cidade.Espero que leia novamente o que escrevi. Um abraco

Unknown disse...

Moro na Noruega também. Sou ilusionista profissional há 15 anos e gostaria de expor meu ponto de vista.
O primeiro ano foi muito difícil aqui, pois o bloqueio idiomático era algo que me incomodava.
Falo 4 idiomas, mas mesmo me comunicando em inglês, não podia ler jornais ou ter acesso ao dia-a-dia de uma sociedade nova para mim. Isso me entristecia, mas não desisti. Aprendi o norueguês com muita dedicacão e li o que podia em português sobre a história e cultura da Noruega.
Devo confessar que esta é uma sociedade maravilhosa, super-organizada e tolerante.
Hoje trabalho como ilusionista aqui em cruzeiros e tenho minha empresa de entretenimento. Sou muito querido e bem tratado pelos noruegueses que chamados de frios pela minha amiga aí de cima que deve estar confundindo o sentido da palavra...
Os noruegueses não são frios como ela diz. Eu diria que eles são mais desconfiados, não são como o povo do tipo que se dizem seu amigo depois de uma noite de festa...
Acho isso super compreensível uma vez que um amigo noruegues, dificilmente irá lhe trair ou passar a perna. As pessoas aqui são super-honestas, e seus amigos, gostam de você de verdade sem interesses. Não tenho também que reclamar sobre individualismo, pois não vejo isso em nenhum aspecto da sociedade norueguesa. Vejo sim, um respeito a individualidade imenso, que comeca de pais para filhos, ainda na infância. Isso me impressiona, e me faz entender porque são tão avancados como sociedade.
O que vejo muito mais aqui, são imigrantes que vivem anos no seu círculo de amizade entre também imigrantes e passam a vida criticando a sociedade do país que escolheram construir uma vida e família. Brasileiros que vivem depreciando a cultura, história e até a comida dos noruegueses, propagando uma falsa impressão degenerada e generalizada.
Quem dera nosso país de origem, fosse tão organizado e evoluido, tão honesto e transparente.
Sou brasileiro, amo meu país. Vivo na Noruega e tenho obrigacão de me adaptar da melhor forma aqui, e acho que isso é que é legal. Saber o que é bom no Brasil e sentir saudades, mas saber apreciar o que há de bom aonde vive, sem criticar, comparar ou preconceitualizar.
O inverno é frio mesmo, isso eu tenho que concordar, mas pra isso inventaram um montão de esportes e atividades de inverno, que devo admitir são deliciosas e divertidas.
A natureza daqui, só fala mal quem não viajou pelo país, mas posso dizer que passei pelos alguns dos lugares mais fantásticos e impressionantes de minha vida quando viajei pela costa norueguesa. É uma beleza mágica, de tirar o fôlego! Quem não acredita, dá uma busca no google imagens por Ålesund, Geiranger, Trollveggen, Trollstigen...
Fala mal quem quer, mas eu me sinto bem feliz aqui, com as pessoas, com o governo, com as oportunidades, com toda a experiência de vida e até com o clima!
beijão à todos!
Guilherme Curty
www.magicurty.com

Unknown disse...

Moro na Noruega também. Sou ilusionista profissional há 15 anos e gostaria de expor meu ponto de vista.
O primeiro ano foi muito difícil aqui, pois o bloqueio idiomático era algo que me incomodava.
Falo 4 idiomas, mas mesmo me comunicando em inglês, não podia ler jornais ou ter acesso ao dia-a-dia de uma sociedade nova para mim. Isso me entristecia, mas não desisti. Aprendi o norueguês com muita dedicacão e li o que podia em português sobre a história e cultura da Noruega.
Devo confessar que esta é uma sociedade maravilhosa, super-organizada e tolerante.
Hoje trabalho como ilusionista aqui em cruzeiros e tenho minha empresa de entretenimento. Sou muito querido e bem tratado pelos noruegueses que chamados de frios pela minha amiga aí de cima que deve estar confundindo o sentido da palavra...
Os noruegueses não são frios como ela diz. Eu diria que eles são mais desconfiados, não são como o povo do tipo que se dizem seu amigo depois de uma noite de festa...
Acho isso super compreensível uma vez que um amigo noruegues, dificilmente irá lhe trair ou passar a perna. As pessoas aqui são super-honestas, e seus amigos, gostam de você de verdade sem interesses. Não tenho também que reclamar sobre individualismo, pois não vejo isso em nenhum aspecto da sociedade norueguesa. Vejo sim, um respeito a individualidade imenso, que comeca de pais para filhos, ainda na infância. Isso me impressiona, e me faz entender porque são tão avancados como sociedade.
O que vejo muito mais aqui, são imigrantes que vivem anos no seu círculo de amizade entre também imigrantes e passam a vida criticando a sociedade do país que escolheram construir uma vida e família. Brasileiros que vivem depreciando a cultura, história e até a comida dos noruegueses, propagando uma falsa impressão degenerada e generalizada.
Quem dera nosso país de origem, fosse tão organizado e evoluido, tão honesto e transparente.
Sou brasileiro, amo meu país. Vivo na Noruega e tenho obrigacão de me adaptar da melhor forma aqui, e acho que isso é que é legal. Saber o que é bom no Brasil e sentir saudades, mas saber apreciar o que há de bom aonde vive, sem criticar, comparar ou preconceitualizar.
O inverno é frio mesmo, isso eu tenho que concordar, mas pra isso inventaram um montão de esportes e atividades de inverno, que devo admitir são deliciosas e divertidas.
A natureza daqui, só fala mal quem não viajou pelo país, mas posso dizer que passei pelos alguns dos lugares mais fantásticos e impressionantes de minha vida quando viajei pela costa norueguesa. É uma beleza mágica, de tirar o fôlego! Quem não acredita, dá uma busca no google imagens por Ålesund, Geiranger, Trollveggen, Trollstigen...
Fala mal quem quer, mas eu me sinto bem feliz aqui, com as pessoas, com o governo, com as oportunidades, com toda a experiência de vida e até com o clima!
beijão à todos!
Guilherme Curty
www.magicurty.com