sexta-feira, 17 de março de 2006

PRÉ-HISTÓRIA DA AMAZÔNIA

A população de São Paulo tem a oportunidade, desde janeiro até abril, de visitar a exposição "Dinos na Oca", que traz informações científicas sobre a evolução geológica do planeta Terra e a vida desses animais que, mesmo extintos há 65 milhões de anos, instigam tantos questionamentos até hoje. Uma das peças mais interessantes em exposição é o crânio e mandíbula do Purussaurus brasiliensis, o maior crocodilo que já viveu na Terra, encontrado no Acre em 1986, considerado um dos maiores predadores de todos os tempos, maior até que o Tyrannosaurus rex.

Embora o Acre faça parte do roteiro de uma renomada lista de pesquisadores da paleontologia, jamais a iniciativa privada e o poder público se sensibilizaram com as sugestões para a criação de um espaço adequado para a exposição de nossas mais de cinco mil peças fósseis, muitas das quais únicas no mundo.

O Laboratório de Pesquisas Paleontológicas da Universidade Federal do Acre já revelou para a ciência uma série de novos gêneros e espécies de animais vertebrados que viveram na Amazônia nos últimos 8 milhões de anos. Apesar disso, é mantido precariamente em sala improvisada pela abnegação de um grupo de pesquisadores.

De outro lado, a exposição "Dinos na Oca" reúne 400 peças de um acervo vindo de várias partes do mundo, com investimento total de R$ 7 milhões.

O crânio do purussaurus brasiliensis em exposição em São Paulo mede cerca de 1,5 metro de comprimento. Alguns indivíduos alcançavam até 18 metros de comprimento. Esses jacarés habitaram o Acre entre 8 e 5 milhões de anos,

O Brasil, especialmente o Acre, é uma terra fértil para estudiosos da pré-história. O crânio do maior predador da Amazônia foi coletado no Alto Rio Acre e descrito pelo paleontólogo Jonas Filho (no lado esquerdo da foto), que atualmente é o reitor da Universidade Federal do Acre (Ufac). Os jacarés gigantes habitaram o Acre entre 8 e 5 milhões de anos, o que corresponde às épocas geológicas Mioceno Superior-Plioceno. Foram encontradas diversas peças de crânio e pós-crânio em vários sítios fossilíferos acreanos. Fósseis de purussaurus também foram encontrados na Bolívia, Peru, Colômbia e Venezuela.

O maior sítio fossilífero do Estado está localizado à margem direita do Rio Acre, no Seringal Niterói, município de Senador Guiomard, a aproximadamente 20 quilômetros de Rio Branco.

A descoberta desse sítio ocorreu em 1987 por uma equipe composta por membros do Laboratório de Pesquisas Paleontológicas da Ufac e do Museu Paraense Emílio Goeldi.

A denominaçãoi do sítio foi baseada no topônimo do lugar Seringal Niterói, onde se localiza. Desde então, inúmeros trabalhos de campo foram e continuam sendo realizados com o intuito de estudar-se sua paleofauna.

As coletas pela equipe do LPP da Ufac são realizadas no período compreendido entre os meses de junho e setembro, mais propício devido ao baixo nível da água no curso do rio.

A espetacular concentração de fósseis achados faz do sítio, dentre todos até agora estudados no Acre, um dos mais importantes para o conhecimento da paleofauna da Amazônia Sul-Ocidental, contribuindo enormemente para o enriquecimento do acervo paleontológico da Ufac.

O sítio Niterói apresenta sedimentos aflorantes com aproximadamente 300 metros de extensão, ao longo de uma barranca na margem direita do Rio Acre, em direção norte-sul. Em uma pequena extensão, com cerca de 30 metros, ocorre uma maior concentração de vertebrados fósseis.

O que não dá para compreender é que a sociedade e o poder público tratem com tanto descaso as descobertas relacionadas à nossa pré-história a partir dos fósseis e dos geoglifos.

Em breve teremos pronta a Estrada do Pacífico, por onde passará muita soja, madeira e cocaína, mas estaremos despreparados para atrair milhares de turistas dos EUA e da Europa que transitam no Chile, Bolívia e Peru.


P.S.:
O paleontólogo Alceu Ranzi complementa a legenda da foto.

"Caro Altino:

Muito bom o texto. Jonas Filho, que é o atual reitor da Ufac, é doutor em geociências/paleontologia pela UFRGS; Peter Mann de Toledo, ex-diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi, é PhD em paleontologia pela Universidade do Colorado (USA), e Dilce Rosseti PhD em geologia pela Universidade do Colorado (USA). Antes destes títulos pomposos, todos arrastaram canoas, subiram e desceram barrancos ao longos dos rios do Acre. A Home Page dos Geoglifos está em processo de mudança para melhor. Em breve...

Um abraço, Alceu Ranzi"

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse é um problema geral, caro Altino. Aqui no Amapá o acervo de peças coletadas em sítios arqueológicos também passeia por espaços improvisados. A maior parte das peças até hoje coletadas estão no Museu Emílio Goeld, em Belém, ou espalhadas por outros estados.