sábado, 25 de fevereiro de 2006

RESPEITEM ESSA MULHER

Dizer que os problemas ambientais no Brasil continuam, que a floresta continua sendo destruída em larga escala, e que ainda há muitos maus funcionários, que vendem autorizações para transporte de produtos florestais por vantagens pessoais é um fato que todos concordamos e deve ser combatido com energia.

Mas acusar a ministra Marina Silva de omissão com essas práticas é inaceitável. Quero ver como reagem as organizações socioambientais brasileiras diante do que o repórter Leonardo Coutinho, de Veja, escreveu em "A floresta pagou a conta do PT" a respeito de Marina Silva, reconhecida mundialmente pela seriedade e dedicação às causas ambientais.

Marina Silva não merece tamanha injustiça. Injustos também seremos nós se não sairmos em sua defesa. Gostaria de ler a opinião do Elson Martins, do Toinho Alves, do Lúcio Flávio Pinto, em síntese, dos grandes jornalistas ambientais deste país.

Será que ninguém vai protestar contra a grosseria do repórter e, principalmente, da revista que tudo tem feito para criar dificuldade para o governo e as lideranças mais expressivas do PT?

O mundo respeita Marina, mas a reportagem de Veja tenta lançá-la na vala comum daqueles que nada fizeram para mudar a realidade ambiental do país.


"Altino, vai aqui a segunda reação.
Um abraço".
Moisés Diniz

MUHAMMAD CAIPORA

Por Moisés Diniz (*)

Muhammad é o profeta e a caipora é a entidade protetora das matas e dos entes vivos da floresta. E, a cada dia, recebem ataques histéricos, que vêm dos caçadores da alma humana e suas angústias. É que, todo aquele que representa um sonho coletivo, recebe agressão pavorosa, ora em forma de mísseis, ora em forma de letras ou charges. Marina recebeu, há pouco, virulento ataque de Veja, um lixão tipográfico do baronato paulista.

Não faltarão ‘intelectuais’ e todo tipo de escriba para ironizar as minhas palavras. Até os ‘trombadinhas’ da política vão comentar nas esquinas. Que absurdo!, dirão. Como pode chamar de profetisa uma ex-seringueira, filha de pobre, negra, etecétera e tal? Que mal fez a revista Veja em acusar a ministra Marina de ser cúmplice da corrupção de produtos florestais? Será exatamente isso que eles dirão sobre a matéria da ‘revista’ Veja.

Revista? Aquilo não passa de uma pocilga das letras. Seus editores, cevados no regime militar, cúmplices da elite européia e norte-americana, que espoliou o meu país, não conseguem ‘engolir’ um presidente operário e uma ministra seringueira. Dói em suas almas fidalgas. Incomoda a tradição do baronato paulista. Eles precisam continuar acreditando que o subdesenvolvimento brasileiro pode ser mascarado com um presidente que fala inglês e estudou em Harvard.

Quando degustam as suas doses de uísque importado, em suas mansões protegidas e erguidas com a espoliação dos pobres, eles não conseguem imaginar outro mundo, além do deles. Eles não conhecem e até abominam o gosto ancestral da caiçuma indígena. Eles têm medo da floresta, eles têm medo dos pobres. Eles são pobres de espírito. Eles são frágeis, ficam incomodados e tristes, quando não têm o poder público a financiar as suas orgias.

Eles se assustam com o novo, especialmente se vier de baixo, da classe desprotegida dos pobres. Eles não têm alma, porque o rancor de classe a esvaziou, como água na areia. Eles produzem o medo e a incerteza. Eles precisam convencer o povo brasileiro de que a alma popular é tão suja quanto a alma dos escravocratas da mão de obra operária. Eles não podem ficar sozinhos na lama, precisam sujar tudo, até a alma dos profetas.

Que eles duvidem, mas, para uma parcela respeitável do Brasil, Marina é a nossa profetisa, da proteção da vida e da fé é um mundo sustentável. Eles defecam em suas privadas luxuosas, cospem na rua, despejam dióxido de carbono na atmosfera e vomitam seus caros menus. Eles são poluidores. Seus bens de consumo, sofisticados, maltratam o ar, a água e a vida. Nós limpamos!

Nós ficamos, aqui na Amazônia, cuidando dos rios, dos lagos, das matas e suas raízes. Milhares de povos indígenas, extrativistas e ribeirinhos. Ficamos, aqui, a limpar a sujeira que a civilização do dinheiro emporcalhou. Nós venceremos a morte dos bens naturais que sustentam a vida. Eles, ao contrário, vão continuar chorando as suas lágrimas de enxofre. Tipografando páginas sórdidas de celulose que sai da Amazônia, envenenando a democracia e o futuro. A ‘revista’ Veja se corrompeu e se acha no direito de colocar qualquer um no esgoto.

Nós não queimaremos exemplares da ‘revista’ Veja nas praças. Não faremos com ela o que os muçulmanos fizeram com o ‘jornal’ Jyllands-Posten. Venceremos com a indiferença. A sua provocação nos fará mais vigilantes. Iremos com mais vigor e rigor às ruas, bairros, escolas, seringais e aldeias indígenas. A nossa forma de defender a Marina é estar mais perto do povo e fazer vitorioso o projeto político que a sustenta.

Marina é nossa irmã, amiga inseparável do planeta e daqueles que o habitam. Marina sabe que a vida humana não está dissociada da vida de todos os seres vivos, do mamífero predador ao molusco mais insignificante. Até a mais imperceptível bactéria faz parte da ainda indecifrável cadeia vital. Ela resiste ao dominante discurso ‘desenvolvimentista’, que gera riqueza num pólo e exclui milhões na base da pirâmide social. Marina quer um desenvolvimento que inclua e se sustente por gerações.

Por isso, esse grito desesperado de ‘revistas’ como a Veja. Ao leitor desatento, apresenta um discurso de defesa do meio ambiente, mas seus tutores não passam de anjos do apocalipse. Eles sabem que a maior destruição do nosso espaço vital vem de suas indústrias desregradas, de seus milhões de carros possantes e de seus supérfluos bens de consumo. Eles sabem que a maior causadora da morte ambiental é o modelo de desenvolvimento que a elite brasileira produziu e sustenta. A vida privatizada é a madrasta de toda a poluição.

Eles sabem que 10% da população, a perdulária, consome 90% da riqueza, dos bens naturais. Eles poluem e matam e colocam a fatura no costado dos pobres. Satanizam os criadores de gado tradicionais da Amazônia, mas, permitem que a soja avance por aqui como um tsunami. Não investem um centavo de seus lucros em um transporte coletivo moderno e de qualidade, que reduzisse a quantidade assombrosa de carros de passeio. Eles sabem que, apenas isso, reduziria substancialmente o mortal dióxido de carbono.

Preferem a lipoaspiração criminosa de uma imagem. Sabem que desacreditar marina é abrir caminho para o tão propalado agronegócio na Amazônia. Eles olham pra os números da balança comercial e não querem ver que um de seus pratos, o dos excluídos, está desabastecido e penso. Só esquecem que nós estamos atentos.

E já estamos reagindo. O Acre é pequeno, mas, tem honra e substância. Até aqueles que, aqui, nos fazem oposição, vão compreender a importância de defender a Marina. Agredir Marina é atacar a Amazônia e a vida. Eu estou com Marina. E você?

Nota: Moisés Diniz é escritor e deputado estadual do PCdoB do Acre. Escreva para a revista. As mensagens devem ter o endereço, o número da cédula de identidade e o telefone do autor. Clique aqui.

Um comentário:

Anônimo disse...

A veja não interessa ao Brasil que queremos!
Revista imunda!