Reproduzo a mensagem deixada no blog por Edna Yawanawá, que é uma liderança do povo yawanawá do Rio Gregório. Nada melhor que a manifestação dela para se contrapor à panacéia dos biopiratas e salteadores da floresta, que violam diariamente as leis brasileiras, os direitos dos povos indígenas e das populações tradicionais da Amazônia, especialmente do Acre.
Na comunidade "Kambô milagre indígena", no Orkut, criada por Raquel Dourado, a secreção do sapo kampô é alvo de propaganda enganosa e comercializada abertamente. Embora não haja nada de miraculoso no kambô, Raquel Dourado afirma, no tópico da comunidade:
- Os índios de Cruzeiro do Sul – Acre conhecem o remédio natural que pode combater até o câncer.
Segue o desafio da Edna Yawanawá:
QUERO VER A FORÇA E A CORAGEM DE QUEM É CONTRA NÓS
Por Edna Yawanawá
Nossa! Que confusão por causa de um sapo tão pequeno e tão bom de se comer. Bom, desde que começou essa discussão sobre o kanpun - o meu povo o chama assim -, eu, meu avô e outros companheiros indígenas, principalmente os katuquina, que na verdade são originalmente kamanáwa ou varináwa, além dos kaxinawa ou huni kui, temos participado direto dessa problemática.
Primeiro, não se está discutindo apenas a aplicação do sapo em alguém, mas sim a forma errada, desordenada e perigosa que se está ultilizando em não indios, principalmente, e, acima de tudo, o comércio ilegal e a propaganda enganosa.
Isso está parecendo aqueles médicos dando certeza de cura pelas células-tronco. Não importa se é índio ou não. Quem anda aplicando, qualquer um, podia ir numa terra indígena aprender e sair dizendo que é paje? Nao podia? Entao? Mas não é assim.
Tudo exige preparação espiritual e não é qualquer pessoa que aplica, não. E tambem: que tipo de dieta se está fazendo pra tomar o sapo? Quem está aplicando é pajé? É um bom caçador? Quem ele é? Ou é um preguiçoso, mentiroso, ladrão?
Se for, muito cuidado: nossa cultura é contra. Não existe nada comprovado na medicina que o sapo cura doença, mas na aldeia, na forma que ele é usado, de manhã cedo, madrugada, em jejum, com bastante caiçuma, aí sim, é diferente.
Nao é pra fazer comércio, não é pra vender. Os mais velhos quando souberam dessa história ficaram horrorizados, revoltados, tristes mesmo. Basta o nosso uni - cipó [da ayahuasca].
Concordo plenamente: temos que proteger nossos conhecimentos. Os brancos só sabem o supérfluo. Nós temos a essência, a pureza do saber. Isso nunca ninguém tira de um povo.
A Anvisa tem que proteger mesmo e o INPI tambem. Essa tal Sônia Menezes é uma aproveitadora. Os próprios katukina sabem disso. Até casamento ela inventou pra poder se dar bem. Que benefícios ela trouxe pra aldeia dos katukina? Que respeito ela mostrou aos velhos de lá? Nenhum.
Assim como muitos, é uma pessoa suja, cruel e ambiciosa. Temos que estar de olho em pessoas assim, que nos rodeiam a cada dia.
É isso aí: quem gostou, gostou, quem não gostou vai na minha aldeia que a gente toma sapo junto. Aí eu quero ver a força e a coragem de quem é contra nós!
Um comentário:
Não conheço Edna, mas já gosto dela. Nada como ouvir a voz de quem sabe porque vive, de perto e dentro da coisa. "O desafio de Edna" resume muito bem o anteparo ético que exige o kambô. É isso aí. O resto é pabulagem, pajelança é que não é.
Postar um comentário