quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

A PALESTINA DO HAMAS

Por Moisés Diniz (*)

Ehud Olmert, Condoleezza Rice, Silvio Berlusconi, por enquanto...

Ainda faltam Tony Blair, Ângela Merkel e toda a matilha de escribas e ‘comentaristas’ que se vendem do sul ao norte do planeta. A irritação é visível. Eles não estão ‘entendendo’ o resultado das eleições legislativas na Palestina.

O Hamas venceu! O Fatah governista sofreu forte derrota. A direita israelense está em polvorosa. Como é que ela vai continuar ‘negociando’ a morte dos palestinos? Como será possível manter as ‘negociações’ sobre a ocupação criminosa dos territórios palestinos?

O Hamas venceu! Como na Venezuela e na Bolívia, os proscritos estão tomando o poder. Os ‘comentaristas’ das grandes redes de comunicação, que não passam de capitães do mato da mídia, já estão consultando as suas velhas teorias. Eles ‘precisam’ encontrar um argumento para essas imprevisibilidades que estão vindo de baixo.

Era normal o exército de Israel bombardear uma cidade palestina, matando velhos, crianças e mulheres grávidas, em represália à morte de um soldado israelense. A imprensa noticiava e, no dia seguinte, os dirigentes palestinos estavam de joelhos pedindo negociação. Bush aplaudia.

E agora, Mahmoud Abbas?

A vitória do Hamas nos envia ao velho debate sobre ofensiva e negociação. Que vitórias o povo palestino conquistou nesses anos todos de negociação? Milhares de mortos, perdas de território e um milhão e meio de refugiados. O Hamas resistiu de armas nas mãos.

Como todo mundo sabe, o fundador do grupo, Sheikh Yassin, velho, cego e paraplégico, foi morto em um ataque de mísseis em março de 2004 e seu sucessor, Rantissi, foi assassinado menos de um mês depois. Era essa a negociação de Israel!

Israel pôde equipar um dos mais modernos e letais exércitos do planeta, alimentado por três bilhões de dólares, anual, a fundo perdido. Presente dos Estados Unidos, que não fez o mesmo com os miseráveis e aidéticos países da África.

Mas, o Hamas não podia se armar. Era a sentença dos países ricos, consumidores de petróleo e destruidores da camada de ozônio. Por isso alimentaram Israel com dólares e tecnologia nuclear. Era preciso continuar dividindo os países árabes e os seus lençóis petrolíferos.

Agora, o jogo mudou. Israel tem dois caminhos. Varrer a Palestina da terra santa (porque do mapa já o fez) ou negociar, de fato, os seus direitos seculares. O Hamas, com certeza, vai negociar com Israel. Mas, será uma negociação diferente, sem submissão. Eles, agora, só vão se ajoelhar para Alá.

Condoleezza Rice afirmou, em relação à vitória do Hamas, que “não é possível manter um pé na política e outro no terrorismo”. É o contrário, senhora secretária, o Hamas, agora, vai manter um pé na política e outro nas armas.

Seus políticos negociarão e seus soldados militantes protegerão o seu povo. E, em pouco espaço de tempo, esses militantes armados formarão o exército regular da Palestina. Nada mais normal.

Se o Fatah conservador tivesse vencido, os jornalões estariam comemorando. Todos, junto com Bush, afirmariam a capacidade de discernimento dos palestinos. Mas, como venceu o Hamas, questiona-se a soberania do voto dos palestinos ocupados. Aliás, estão até esquecendo a alta participação nas eleições, com altíssimo índice de 78%.

Eu fico com a decisão soberana do povo palestino. Eles saberão evoluir da luta armada para a negociação política, sem largar a segurança que os trouxe até aqui. O Hamas mexeu com o mundo!

Al-hamdu lillah!

(*) Moisés Diniz é escritor e deputado estadual do Acre

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