quarta-feira, 17 de agosto de 2005

CLÓVIS ROSSI

Governo, partido e país

SÃO PAULO - Vem do PT do Acre a sugestão mais sensata ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva: convocar, além do Conselho da República, os ex-presidentes José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Itamar Franco, já que eles "também enfrentaram crises de grandes proporções e podem contribuir com suas experiências".

O documento é assinado pelo governador Jorge Viana, pelos dois senadores petistas do Estado, por outras lideranças políticas e também pelo presidente da CUT-AC.

Diz uma coisa que nem o presidente nem seus conselheiros foram capazes de enxergar: "A primeira responsabilidade do presidente da República não é com o partido nem com o governo, mas com o país".

É incrível que o PT federal não consiga ver o que se vê "desta pontinha da pátria que é o Estado do Acre", como diz o texto, para acrescentar: "A angústia que sentimos ao ver os nossos melhores sonhos transformados num pesadelo horrível é igual a de todos os brasileiros em todos os lugares desse imenso país".

A sugestão é sensata não apenas por chamar a atenção para o óbvio mas por admitir, implicitamente, que, sozinho, o presidente não irá a lugar nenhum.

Como já não há solução ótima nem boa, apenas ruim ou pior, é melhor tentar esse caminho do que insistir em ficar trancado no bunker do Torto -que é mais torto que bunker.

A questão não é apenas se haverá ou não batom na cueca de Lula suficiente para iniciar um processo de impeachment. A questão é com quem Lula vai governar se não houver impeachment. Seu partido, o único que conheceu na vida toda, está em concordata, sob nova direção, que pode "refundá-lo", como passou a ser moda dizer, ou decretar falência.

Sua base de apoio está toda ela, salvo micropartidos, apodrecida pela já comprovada participação no criminoso esquema do PT.

Indignação não basta. É preciso tentar refazer o pantanoso e movediço solo em que pisa o governo.

Fonte: Folha de S. Paulo

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