quinta-feira, 16 de junho de 2005

Janene é número um do mensalão, diz sobrinho
Segundo Aristides Barion Júnior, o líder do PP na Câmara "ficou rico depois que entrou para a política"

Fausto Macedo

Aristides Barion Júnior, sobrinho de José Mohamed Janene (PR), líder do PP na Câmara, não ficou surpreso com as denúncias que envolvem o tio deputado como suposto operador do esquema do mensalão. "Surpreso, eu? Claro que não. O Zé é terrível, você não conhece ele. Quando o Zé vê que o cara é menor, ele esmaga. Se vê que não pode com o cara, tenta fazer um acordo. O Zé é o número um do mensalão. Não tenho dúvida."
Barion, 31 anos, é filho de Solaima, irmã de Janene. Ele não gosta do tio, mal pode ouvir falar em seu nome. Não esconde isso de ninguém. A briga é antiga. O motivo é dinheiro - US$ 1 milhão, pelas contas de Barion, proprietário de uma loja de cosméticos e perfumes no município de Cambé, interior do Paraná. Cambé, 100 mil habitantes, fica perto de Londrina, onde Janene mora e construiu sua carreira política.

"Ele ficou rico depois que entrou para a política", diz o sobrinho. "O Zé mora em um apartamento que vale mais de 1 milhão de reais, tem fazenda, carros importados, tem avião, tem dois apartamentos na praia, mas é tudo em nome de terceiros."

Barion, que tem dois filhos pequenos, diz que tem medo do tio. "E quem não tem?" Afirma que o parente é truculento. "Mas nunca acontece nada com ele", protesta.O depoimento de Barion não é apenas a narrativa de um sobrinho inconformado. É também o relato de quem foi assessor parlamentar e coordenador de campanha de Janene.

Por que o sr. foi à Justiça contra o deputado?
Dívida de campanha. Fui coordenador-geral da campanha do Zé em 1994, quando ele se elegeu pela primeira vez. Antes, em 1990, o Zé já tinha saído candidato, mas perdeu. Em 1994, pela proximidade familiar, emprestamos dinheiro para ele e até o avalizamos. Perdemos R$ 1 milhão. Na época, era US$ 1 milhão. Tiramos das nossas economias, fizemos empréstimos. Uma campanha custa caro. Ele foi eleito com 45 mil votos e foi para Brasília.

A causa do rompimento?
A gente começou a notar que ele não tinha a menor vontade de pagar o que deve. Você pode ter idéia de uma coisa dessas dentro da família. Eu tinha dois postos de gasolina e distribuidora de produtos alimentícios. Perdi tudo. Saí de Londrina, não suportei mais a pressão dos credores, do Zé, de tudo.

Como Janene faz política?
O estilo dele é conhecido. Quando toma um baque, ele primeiro acusa, diz que o cara é louco, é maluco, que está tentando fazer chantagem. Sempre dá uma de bonzinho. Quando o cara é mais forte, ele procura um acordo. Se for mais fraco, ele tenta dizimar. Esse é o estilo do Zé. Os seus métodos agressivos são conhecidos nas campanhas. É truculento.

Janene tem muitos bens?
Ele era dono de uma empresa (Eletrojan Iluminação e Eletricidade) em Rondônia, que tinha bastante problemas. Era uma empresa de iluminação pública. Foi para a política. Primeiro, foi coordenador político do Antônio Belinatti (ex-prefeito de Londrina). Coordenou duas campanhas do Belinatti. Ele sempre quis entrar na política. Depois que virou deputado, ficou milionário. Mas os bens não estão em nome dele. Mora em apartamento de 1.000 metros quadrados em Londrina, no edifício Arcádias. Ele pinta e borda na cidade. Tenta intimidar de todas as maneiras mais sórdidas possíveis. Ficou rico depois que virou deputado. Tinha uma vida boa, mas remediada, com limitações. Hoje perdeu o limite. É muita grana, anda com segurança para cima e para baixo.

A Justiça nunca o condenou.
Ele dribla a Justiça, uma coisa de louco. A Justiça leva anos para citar o Zé. Na ação que movi, ele pediu perícia, dizendo que a assinatura em documentos não era dele. Quis auditoria contábil, mas não quer pagar. Quer que eu pague porque sabe que não tenho como pagar. Ele fica enrolando. Faz muita pressão.

O deputado nega.
Já vi o Zé se envolver em dez escândalos e nunca aconteceu nada. O Ministério Público já moveu céu e terra para comprovar que ele roubou dinheiro público. Continua tudo na mesma. Ele me quebrou, desgraçou minha família.

O sr. acredita que ele está envolvido com o mensalão?
Eu acho que o Roberto Jefferson falou a verdade. O Zé era o operador. Não duvido que ele era o número um. Mas o nosso Brasil é isso. Eu tenho certeza de que ele aposta nessa impunidade. Estou falando do que eu conheço. Duvido que o José Dirceu vá deixar ele afundar.

Como ele arruma dinheiro para as campanhas?
Aí você tira suas conclusões. As campanhas são ostensivas, ele gasta uma fortuna. Na última eleição, não tinha uma esquina em Londrina que não tinha duas ou três pessoas dele com bandeiras. É muito dinheiro. Ele trabalha em cidadezinha pequena. Vai lá, acerta com o prefeito e com os vereadores, 60 a 80 cidades pequenas. Aí faz votos, manda bala sem dó nem piedade.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Um comentário:

O Malfazejo disse...

Oi, Altino. E por aí? A quantas andam as conversas e conselhos que o governador do Acre vem dando do presidente?

Um abraço