sexta-feira, 21 de janeiro de 2005

VIOLÊNCIA NO PARÁ

Jornalista Lúcio Flávio Pinto é agredido e ameaçado
de morte
por herdeiro do grupo ORM em Belém

Jornalista levou socos e pontapés do empresário Ronaldo Maiorana e de seus seguranças em restaurante de Belém; leia o artigo que provocou a reação violenta do empresário cujo grupo detém, além da afiliada local da TV Globo, o diário O Liberal e emissoras de rádio no estado do Pará.


Maurício Araújo
De São Paulo

O jornalista Lúcio Flávio Pinto registrou queixa de agressão e ameaça de morte contra o empresário Ronaldo Maiorana e seus seguranças hoje na delegacia do bairro de São Bráz, em Belém. Maiorana é diretor e herdeiro das Organizações Romulo Maiorana, o maior conglomerado empresarial de comunicações do estado do Pará. A agressão ocorreu no restaurante do Parque da Residência, no horário de almoço.

Segundo Pinto, Maiorana sentou-se em uma mesa atrás da sua e, cerca de vinte minutos após adentrar no recito, agrediu-o com um soco e passou a ameaçá-lo de morte aos berros. "Após o soco, ele me deu uma gravata e me empurrou. No chão, recebi chutes, também dos seguranças", afirmou o jornalista. O economista e comerciante André Carrapatoso Coelho, que acompanhava Pinto e tentou apartar a briga, também levou chutes e registrou queixa na polícia. Leia abaixo a entrevista exclusiva com Lúcio Flávio Pinto, onde ele narra detalhes do ocorrido.

O restaurante, localizado em uma região central da cidade, é freqüentado pela elite da capital paraense. Estava cheio na hora. "Havia por volta de 80, 100 pessoas, muitas das quais conhecem ele". Os Maiorana são conhecidos - e temidos - na cidade pelo enorme poder político que possuem no estado do Pará.

O Grupo ORM
O grupo empresarial ORM foi fundado por Romulo Maiorana, pai de Ronaldo e Romulo Filho. A empresa familiar detém a concessão da TV Liberal, a afiliada da Rede Globo no estado, além do principal diário paraense, O Liberal, e de algumas emissoras de rádio. O jornal O Liberal é líder no estado e possui 85% dos leitores paraenses.

Na sede do jornal, onde dá expediente, Ronaldo Maiorana não foi encontrado para dar declarações. "Apanhou e mereceu", afirmou um dos funcionários, que não quis se identificar, comentando o ocorrido. "Jornalista, e por acaso ele é jornalista?" Foi o que ouviu a reportagem do amazônia.org.br de outro funcionário do diário que também não quis dizer o próprio nome, enquanto tentava falar com Maiorana.

Lúcio Flávio Pinto já ganhou quatro prêmios Esso de jornalismo.

Também não foi possível conversar com o diretor de relações públicas, Edson Salame, que não estava presente , segundo um funcionário que se identificou como Luís Cláudio e que desligou o telefone abruptamente, finalizando o diálogo. Após essa interrupção as ligações do amazonia.org.br não foram mais atendidas.

O dono da quitanda
No artigo intitulado "O Dono da Quitanda", Lúcio expõe preocupação com a situação de "quase-monopólio" da opinião pública do estado do Pará, segundo ele atingida pelo grupo ORM. No texto, o jornalista percorre a trajetória de ascensão da organização, relatando episódios que permitiram a conquista da liderança nos diversos segmentos da mídia paraense. Também são elencados supostos exemplos de como os Maiorana utilizam esse poder para pressionar políticos e empresas a agir segundo seus interesses. Para o jornalista, o domínio que o grupo exerce "não tem paralelo em qualquer outra capital brasileira. Em todas elas a disputa é bem maior, não há essa hegemonia."

Lúcio Flavio Pinto
Lúcio Flávio é um dos mais prestigiados jornalistas em atividade na Amazônia brasileira. Vive em Belém, onde edita o Jornal Pessoal, uma publicação independente, preenchida quase que na totalidade com textos seus. Ao longo de quase quarenta anos de profissão, colaborou com alguns veículos da imprensa brasileira, como a revista Veja, o jornal O Estado de São Paulo - onde escreveu por dezessete anos - e recebeu diversas premiações, inclusive internacionais. Também acumulou uma série de processos, alguns movidos por grandes empresas, como a C.R. Almeida, que viram seus interesses contrariados nas páginas do Jornal Pessoal.

Agora, o veterano da imprensa amazônica - participou até de Realidade - vai recorrer à Justiça. O inquérito por ameaça de morte e agressão já está em andamento. Pinto pretende pedir audiência à OAB/PA e ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Uma ação pedindo indenização por danos morais também deve vir na seqüência.

Leia entrevista exclusiva:
"Minha sensação é de impotência e tristeza. Pois eles são donos do Pará. Na minha terra sou submetido a uma lei de cangaço."

Fonte: Amazônia.org.br

Leia entrevista com Lúcio Flávio Pinto publicada no site da revista Caros Amigos em julho de 2004.

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