Leila Jalul
Caro Altino,
Seu blog é minha leitura obrigatória. Tenho acompanhado o quanto tem-se falado no Acre a respeito de Galvez, Chico Mendes, dos atores e atrizes da TV Globo e das cidades cenográficas etc.
Daqui de meu exílio voluntário, vou lendo e pensando que a lenda que vai ser levada para a telinha deverá ficar interessante, muito interessante. Acredito nisso.
Tive que mergulhar no fundo das gavetas da memória para lembrar da acreana Glória Perez, autora da minissérie "Amazônia - De Galvez a Chico Mendes". Logo eu, que já estou quase sem essa prerrogativa da memória.
O certo é que, nos idos de muito tempo atrás, conheci uma moça, à época sempre descabelada, cujos apelidos da distinta eram Dó, Góia, ou Gogóia, sei lá. Ela tinha um periquito estranhíssimo e levava o bichinho escondido para a sala de aula no Colégio Acreano. Escondido de quem, não sei dizer.
Não peça para que eu lembre o pedigree do penoso - se estrelinha ou caboclo. Confesso que não lembro. Glória era da turma da Léa e da Dora Mansour. Aliás, Dora até pouco tempo tinha um caderno cheio de poesias belíssimas escritas pela Glória.
Bem, eu era de outra turma, mas sabia e via o periquito enganchado nos cabelos dela. Por certo, ela lembrará disso, pois a gente nunca esquece do primeiro periquito, correto?
Imagine você, meu amigo, a textura da saia de casemira anglo-paraguaia, comprada na Casa Paraybana, cujo proprietário, Ibrahim Jalloul, era meu legítimo avô, ficava respingada de uma merdinha branco-esverdeada.
Não sei nem que dia é hoje, mas quando isso acontecia eu tinha uns doze anos, ou menos. A menina do periquito tinha a boa vontade dos professores, mas acredito que eles ficavam putos com aquilo.
Ocorre que o louro não interferia na inteligência dela. Acho que as pessoas, já naquela época, respeitavam a Glória. Sobretudo porque o periquito nunca interferiu no QI da moça.
Afora isso, só sei que ela escrevia muito bem. Fazia poemas lindos. O irmão dela, o Saulo, tinha um campinho defronte a casa deles, na rua da Difusora Acreana, A Voz das Selvas.
Eu não jogava futebol. O que eu queria mesmo era estar perto da macharada mirim. Então, muitas vezes, lá estavam o Dadão, o Nego Milton, vulgo Ditão, o Saulo e eu, claro! Quando não havia quórum, eles me escalavam pro gol.
O irmão dela, salvo melhor juízo, foi minha grande paixão infantil. Era gordinho, fofinho e dono da bola. Mas aparecia a dona Guta ou então o seu Miguel Ferrante e mandavam o Saulo voltar pra casa. E lá se iam a bola e meu colírio.
◙ Leila Jalul é procuradora aposentada da Universidade Federal do Acre. Como este blog é sério, consultei Glória Perez, que confirmou a história. Revelou que o nome do periquito dela era Tico.
Altino, boa tarde.
ResponderExcluirMas que delícia de texto!
Além de recordar fatos que talvez a própria Glória não se lembrasse mais, ainda nos conta tudo com essa verve satírica, muito boa de ler!
Adorei.
Peça a ela para escrever mais (risos).
beijos
P.S. Sabe que só no seu blog se vêem coisas assim interessantes?
Por onde anda a Leila, amiga velha do peito?
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