Do engenheiro florestal Écio Rodrigues (*):
Camarada Altino Machado:
A desinformação e informação cruzada imperam. Parece que interessa ao governo e à oposição que não se esclareça as causas e as dinâmicas dos desmatamentos e queimadas no Acre.
O discurso da sutentabilidade, que já aprovou projeto no Bid e BNDES, para instalar infra-estrutura em todo o Estado, por paradoxal que seja, é o mesmo que promove o ciclo do desmatamento e da queimada, sobretudo quando feito pensando no calendario eleitoral e, da forma tradicional, se mantém intocável.
Mas para ajudar a esclarecer um pouco: em 1999, quando o nosso então ministro do Meio Ambiente, Zequinha Sarney, considerado o melhor de todos até agora pelas ONGs, já sensibilizado pelo PV, decretou a moratória de 120 dias no licenciamento de desmatamentos e queimadas, foram os políticos do Acre - todos, sem excessão, da situação e da oposição- que intimidaram Zequinha e derrubaram a proposta sob o argumento de que muitos no Acre morreriam de fome.
Segundo as palavras daquele que havia sido alçado naquele instante à condição de pensador estratégico, o professor José Fernandes do Rêgo, a medida geraria um "caos social".
Derrubou-se a portaria da moratória, liberou-se de maneira simplória a indigesta autorização de três hectares anuais para desmatamento e queimadas e criou-se a figura esdrúxula da "queimada controlada", como se isso existisse.
Para complicar ainda mais, o Conselho Estadual de Meio Ambiente aprovou resolução regularizando a posse ilegal, chamada grotescamente de "mansa e pacífica", para que as queimadas e desmatamentos fossem "legalizados" nessas áreas. Queimar pode, desde que legal.
E, para ficarmos tranquilos, nunca mais se pensou no asnunto, e moldou-se o discurso de um Acre sustentável, apesar da fumaça, que só dura dois meses por ano, isto é, dá pra aguentar.
Hoje estamos colhendo o fruto dessa imprudência que determinou uma forma de pensar a sustentabilidade no Acre.
Ou seja: ficamos conformados com a idéia absurda dos pensadores de plantão, segundo a qual o desmatamento e a queimada fazem parte indissociável da ocupação produtiva na Amazônia. Absurdo revestido de primitivismo tosco. No mundo da tecnologia e do conhecimento nunca se poderia aceitar isso.
Talvez seja porque somos mesmos irresponsáveis e precisamos da intervenção da ONU ou de algum gringo, para nos obrigar a tratar esse patrimônio mundial, que é a floresta amazônica, com um mínimo de responsabilidade e inteligência.
Depois não adianta fazer beicinhos de afetados com a tal da soberania nacional. Bobagens. Para terminar: essa imundície de fumaça é nossa mesmo, do Acre.
São os acreanos que queimam e, pelo amor de Deus, parem de testar nosso QI com o argumento idiota de que "a fumaça dos outros é pior que a nossa".
(*) Écio Rodrigues, que é engenheiro florestal e doutor em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília, presidiu a organização não-governamental Centro dos Trabalhadores da Amazônia (CTA), fundada por Chico Mendes, além da Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (Funtac) na gestão do governador Jorge Viana.
Esse Écio tá querendo se aparecer... pra um engenheiro florestal tá muito fraco...
ResponderExcluirUma retificação, se não me engano o Sr. Écio é Doutor em Ecologia.
ResponderExcluirTissiano, sua observação foi importante. Falei com o Écio. O cara é engenheiro florestal e doutor em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília. Já alterei a nota. Agradeço por sua atenção. Abraço.
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