terça-feira, 31 de março de 2015

Geoglifos do Acre estão na Lista Indicativa do Patrimônio Mundial da Unesco


Mais seis bens culturais foram incluídos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) na Lista Indicativa brasileira do Patrimônio Mundial, em 2015. Poderão ser futuramente apresentados ao Comitê do Patrimônio Mundial, os Geoglifos do Acre (AC), Teatros da Amazônia (AM, PA), Itacoatiaras do Rio Ingá (PB), Barragem do Cedro nos Monólitos de Quixadá (CE), Sítio Roberto Burle Marx (RJ) e o Conjunto de Fortificações do Brasil (AP, AM, RO, MS, SP, SC, RJ, BA, PE, RN) para serem avaliados e receberem o título de Patrimônio Mundial.

Na última atualização da Unesco, em 2014, três bens culturais brasileiros haviam sido incluídos na Lista, juntamente com outros 18 bens naturais e culturais: Cais do Valongo (Rio de Janeiro/RJ), a Vila Ferroviária de Paranapiacaba (Santo André/SP) e o Ver-o-Peso (Belém/PA). Agora a Lista Indicativa brasileira consta de 24 bens no total.

A Lista é composta pela indicação de bens culturais, naturais e mistos, apresentados pelos países que ratificaram a Convenção do Patrimônio Mundial da Unesco. Essa iniciativa pode ensejar a participação de gestores de sítios, autoridades locais e regionais, comunidades locais, ONGs e outros interessados na preservação do patrimônio cultural e natural do país.

Novos bens culturais brasileiros inscritos na Lista Indicativa do Patrimônio Mundial

Geoglifos do Acre (Acre): trata-se de estruturas de terra escavadas no solo e formadas por valetas e muretas que representam figuras geométricas de diferentes formas. Foram encontrados na região sudoeste da Amazônia ocidental, mais predominantemente na porção leste do estado do Acre, estando localizados em áreas de interflúvios, nascentes de igarapés e várzeas. As pesquisas arqueológicas nestas áreas, ainda que esparsas, dão conta de informações importantes sobre o manejo da paisagem amazônica por grupos indígenas que habitaram a região entre, aproximadamente, 200 AC - AD 1300, e sugerem um novo paradigma sobre o modelo de ocupação da Amazônia por densas sociedades pré-coloniais.

Teatros da Amazônia (Amazonas e Pará): construídos em finais do século XIX, os Teatros Amazonas e da Paz, localizados na região amazônica brasileira, respectivamente nas cidades de Manaus e Belém, são expressivos monumentos implantados nos dois maiores centros urbanos da região, como símbolos do apogeu econômico alcançado e representado por um modelo de civilidade europeizada, então reproduzido nos trópicos em função do auge do Ciclo da Borracha na América do Sul.

Itacoatiaras do Rio Ingá (Paraíba): localiza-se na zona rural do Município de Ingá, cerca de 105 km de distância da cidade de João Pessoa, capital do estado da Paraíba. As primeiras manifestações de arte rupestre na Região Nordeste do Brasil surgiram antes de 10.000 A.C. e, apesar dos escassos estudos sobre estas populações pré-históricas, constata-se a produção de uma arte expressiva de gravura rupestre com elevada capacidade técnica. O sítio das Itacoatiaras do Rio Ingá congrega o mais representativo conjunto conhecido desse tipo de gravura no Brasil, que se notabiliza pelo uso quase exclusivo de representações não figurativas na composição de grandes painéis de arte rupestre, exprimindo o gênio criativo de um grupo humano que se apropriou de padrões estéticos abstratos como forma de expressão, e possivelmente, de conceitos simbólico-religiosos, diferentemente de outras culturas que, em sua maioria, utilizaram-se de representações antropomórficas e zoomórficas.

Barragem do Cedro nos Monólitos de Quixadá (Ceará): a Barragem do Cedro, com sua parede em arco de alvenaria de pedra, foi a primeira grande obra hidráulica moderna do continente sul-americano e uma das pioneiras obras do seu tipo e do seu porte no mundo. Para além de sua funcionalidade de represamento d’água para irrigação, sua implantação, seu desenho e seu esmero de execução resultaram numa paisagem de beleza ímpar, combinando arrojo e elegância, monumentalidade e singeleza, numa simbiose entre o engenho humano e a obra da natureza existente no local, formado por monólitos que dão uma característica singular ao local.

Sítio Roberto Burle Marx – SRBM (Rio de Janeiro): compreendido como obra de arte, o SRBM espelha de forma notável a cultura, a energia criadora e a preocupação científica de Roberto Burle Marx, cuja obra, ao produzir o conceito moderno de jardim tropical, constituiu um paradigma especial no âmbito do movimento modernista brasileiro. Trata-se de um referencial de paisagem construída, um testemunho vivo da mudança do conceito europeu de jardim com rigor formal da composição geometrizada para o conceito de modernidade do jardim tropical, como uma forma de manifestação artística.

Conjunto de Fortificações do Brasil (AP, AM, RO, MS, SP, SC, RJ, BA, PE, RN): o conjunto de fortificações do Brasil apresenta-se como um testemunho material único de um contato produzido entre diferentes culturas do Velho e do Novo Mundo. As fortificações, edificadas em resposta a esses contatos, marcam o sucesso de uma fórmula singular de ocupação do território, onde os moradores do Brasil tiveram um papel mais fundamental do que a ação dos governos das metrópoles do Velho Mundo, ao contrário do que ocorreu em outras colônias europeias no resto do mundo. As construções feitas com o objetivo de garantir a posse e a segurança dos novos territórios formam um conjunto sem semelhança a outros sistemas fortificados edificados no mesmo período em outros lugares do mundo, tendo um importante papel na ocupação territorial da América do Sul. Abrange a Fortaleza de São José, em Macapá (AP); o Forte Coimbra, em Corumbá (MS); Forte de Príncipe da Beira, em Costa Marques (RO); a Fortaleza dos Reis Magos, em Natal (RN); o Forte de Santa Catarina, em Cabedelo (PB); o Forte de Santa Cruz (Forte Orange), em Itamaracá (PE); o Forte São João Batista do Brum, no Recife (PE); o Forte São Tiago das Cinco Pontas, no Recife (PE); o Forte de Santo Antônio da Barra, em Salvador (BA); o Forte São Diogo, em Salvador (BA); o Forte São Marcelo, em Salvador (BA); o Forte de Santa Maria, em Salvador (BA); o Forte de N. S. de Montserrat, em Salvador (BA); a Fortaleza de Santa Cruz da Barra, em Niterói (RJ); a Fortaleza de São João, no Rio de Janeiro (RJ); a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, em Guarujá (SP); o Forte São João, em Bertioga (SP); a Fortaleza de Santa Cruz de Anhantomirim, em Governador Celso Ramos (SC); e o Forte de Santo Antônio de Ratones, em Florianópolis (SC).

Fonte: Iphan

terça-feira, 24 de março de 2015

Com débitos e abrigo superlotado, AC quer que governo federal assuma imigrantes

Governador Tião Viana considera situação “drama humanitário de imigração” 


O governador do Acre Tião Viana (PT) deve se reunir com o ministro Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil, em Brasília, na tarde desta terça-feira, 24, para comunicar que o Estado, mais uma vez, atravessa uma grave crise no atendimento aos imigrantes caribenhos e africanos que ingressam no Brasil pela fronteira. Mantida pelos governos federal e estadual, a Chácara Aliança, que foi improvisada como abrigo desde abril do ano passado, em Rio Branco, está superlotada com mais de mil pessoas em condições precárias - falta água para beber, fossas e vasos sanitários estão entupidos, os colchões se desintegraram, o prédio se deteriora a cada dia e já não há espaço suficiente para acomodar tanta gente.

O que não tem faltado no abrigo é comida, mas, por falta de pagamento, a empresa de ônibus suspendeu o transporte dos imigrantes para outros Estados há mais de uma semana, contribuindo para a superlotação.  Viana, que considera a situação um “drama humanitário de imigração”, disse à reportagem que tem tratado semanalmente com órgãos federais a quem, segundo ele, compete a solução.

Em 2011 e 2012 os números foram de 1.175 e 2.225 imigrantes, respectivamente. Aumentou em 2013, com a chegada de 10.779 haitianos. A tendência de crescimento continuou e até dezembro de 2014 estima-se a passagem de mais de 31 mil imigrantes pela fronteira acreana, principalmente haitianos, mas também de outras nacionalidades.


- Continuo sem entender a razão de não ser concedido o visto diretamente em Porto Príncipe, de modo que esses irmãos haitianos tenham o direito de ir aonde precisam ir ou vir, sem gastos para nós, do governo do Acre, e gastos para o governo do Brasil. São poucos vistos concedidos no Haiti por uma razão simples: basta decidir pela concessão de mais vistos. A única solução racional é essa - afirmou o governador.

O secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos, Nilson Mourão,  considera que a situação alcançou um momento delicado, após esforços para que fosse constituído um abrigo em Rio Branco, a capital do Estado, onde os trabalhos e as instituições estão mais presentes. Um abrigo, segundo ele, que tem até boas condições, mas para atender, no máximo, entre 200 e 250 pessoas com dignidade.

- Nós temos mais de mil e estamos caminhando para 1050. Ocorre que estoura todas as possibilidades - as condições de água para beber e tomar banho, os banheiros todos já estão completamente danificados, os colchões já estão todos deteriorados e não suportam mais as pessoas. A estrutura física do prédio já está sendo deteriorada. Nós não temos mais condições e possibilidades de continuar a ação humanitária dessa forma. Nós estamos extremamente preocupados. O que nós conseguimos garantir ainda, com muito esforço, é a alimentação, servida diariamente para todos, a saúde e a documentação.


Mourão disse que as equipes do governo estadual que trabalham no abrigo já estão exauridas e que por isso o Acre não tem mais condições de continuar realizando o apoio humanitário.

- Precisamos de uma intervenção imediata do governo federal. A proposta que nós sempre defendemos é que o governo federal assuma a gestão do abrigo. Nós entendemos que é responsabilidade do governo federal a questão imigratória e a questão de fronteiras. É, inclusive, questão exclusiva.

Segundo Mourão, o governo do Acre não pode continuar na situação em que se encontra, recebendo os imigrantes, dando atenção humanitária, tendo a cooperação do governo federal apenas no plano financeiro.



- Aliás, o governo federal deixa muito a desejar no volume de recursos e na forma como esses recursos são transferidos. A transferência é feita através de convênios, o que a torna extremamente burocrática e demorada, com muitos cuidados que devem ser tomados. Não é a melhor forma de se transferir esse dinheiro. Além disso, os recursos são insuficientes, e nós estamos com dívidas e mais dívidas. Já estamos devendo R$ 3 milhões e o governo federal acena com a liberação de apenas R$ 1 milhão.

O secretário de Justiça e Direitos Humanos disse que a quantidade de imigrantes no abrigo decorre do fato o Acre tem conseguindo enviá-los para outros estados usando apenas um ônibus por dia.

- Se tivermos três ônibus por dia, nós teremos condições de reduzir logo a superlotação do abrigo. No começo do ano, nós chegamos a reduzir para 70 pessoas o número de imigrantes no abrigo.



Há menos de um mês, as autoridades do governo do Acre foram comunicadas pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) que pastores de igrejas evangélicas, no Haiti, estão operando como avalistas de financiadoras de pacotes de viagens de haitianos para o Brasil. O governador Tião Viana e o secretário Nilson Mourão defendem que o governo brasileiro, em coordenação com o governo do Haiti, criem dificuldades para evitar que os pastores evangélicos continuem a incentivar as viagens de haitianos. O esforço do governo estadual é no sentido de convencer o governo federal numa ofensiva para desestabilizar a rota em que os imigrantes têm o Acre como passagem.

- Eles apresentam o Acre e o Brasil como terra prometida, a terra do momento, a terra do trabalho e da prosperidade. Por outro lado, existe a vinda de grupos cada vez maiores de africanos, principalmente os senagaleses, que construíram também essa rota seguindo os passos dos imigrantes haitianos. A crise que nós estamos passando no plano federal e suas consequências no Acre deve nos levar a desestimular essa migração. Eu defendo uma política de fronteira com critério.



No entendimento do governo do Acre, a política brasileira de fronteira aberta, como está, para recepcionar todos aqueles que chegam, é uma política equivoca. Tanto o governador como o secretário argumentam que a tese de que o Brasil deve acolher os imigrantes, mas que deve fazer com que elas venham de modo regular.

- Nós temos que criar dificuldades para quem quiser entrar e fazer valer a rota legal, que eles podem perfeitamente tirar o passaporte em Porto Príncipe, viajar para o Brasil com menos dinheiro, gastando menos, mais seguros e em menos tempo. Mas nós não estamos vendo esse procedimento por parte dos diplomatas brasileiros no Haiti. Os imigrantes preferem a rota ilegal, agora acrescida com o estímulo de pastores evangélicos, que estão organizando a vinda desses imigrantes para o nosso país. Setores evangélicos estão oferecendo pacotes, o que inclui passagens, um pouco de dinheiro. Já sabem do nosso abrigo, dizem que é um hotel com café, almoço e janta. Além disso, dizem que o Brasil é o grande país, a terra prometida.


segunda-feira, 23 de março de 2015

Operação G-7: “Ninguém foi absolvido nem condenado e a investigação foi desdobrada em vários outros inquéritos”, diz juiz federal

O juiz federal Jair Araújo Facundes divulgou nesta segunda-feira, 23, uma nota pública que serve aos que não entenderam e aos que não quiseram entender a decisão dele em relação aos envolvidos no escândalo da Operação G-7


NOTA PÚBLICA

A propósito de várias notícias publicadas em jornais, blogs e sites sobre decisão proferida por este Juízo Federal, em 20.03.2015, sobre pessoas investigadas pelos delitos de formação de cartel e/ou fraude à licitações, e, diante das interpretações e/ou versões que se distanciam enormemente do conteúdo da decisão, seguem esclarecimentos.

1.    Ninguém foi absolvido de crime algum. Nem condenado. Absolvição e condenação exigem processo, denúncia, procedimento previsto em lei que assegura tanto o direito de acusar quanto o direito de defesa. E não há, ainda, processo penal, neste caso.

2.     A investigação não foi interrompida, embora tenha sido desdobrada em vários outros inquéritos. Prossegue normalmente a fim de se cumprir diligências e outros esclarecimentos requeridos pelo Ministério Público Federal, titular da ação penal, a quem cabe, com exclusividade, decidir se há ou não provas suficientes para oferecer uma acusação.

3.    A decisão proferida nada diz sobre injustiça ou justiça dos atos judiciais praticados contra os investigados.

4.   Diz, com clareza e simplicidade, que decorridos mais de 3 anos do início das investigações e quase 2 anos da prisão dos investigados, se não houver denúncia (acusação formal) contra os investigados, o indiciamento não se sustenta, perde legitimidade ao impor o rótulo de criminosos, com ou sem razão, sem oportunizar meio de as pessoas assim rotuladas se defenderem.

5.   Não houve arquivamento do inquérito. A investigação continua e continuará. Com observância à lei e às garantias que tornam o processo penal digno de aceitação pública ao proclamar que alguém é culpado ou inocente.

6.   Várias matérias jornalísticas se afastaram, muito, do conteúdo da decisão, com conclusões que não encontram apoio no texto judicial. Não pretende este Juízo Federal determinar as interpretações que a sociedade extrai de suas decisões, mas, em benefício do debate público verdadeiramente esclarecedor, não permitirá que a falta de leitura, pura e simples, do teor de suas decisões, ou a vontade de que outro fosse o conteúdo de tais decisões, conduza a opinião pública ao equívoco.

7.     Abaixo as decisões, em inteiro teor. A discussão pública dos pronunciamentos dos Poderes Estatais, para servir à cidadania ao criar uma cultura de transparência, não deve se limitar a concordar ou não concordar, mas ao exame das razões nelas constantes, para que cada um forme seu convencimento acerca da existência de harmonia dessas com os princípios jurídicos vigentes no país.

Inteiro teor da decisão 

Inteiro teor do Habeas Corpus

Jair Araújo Facundes
Juiz Federal

domingo, 22 de março de 2015

Nada a comemorar no Dia Mundial da Água


Em Rio Branco, que alguns ousam apelidar de “cidade ecológica” ou “capital ecológica”, o esgoto do canal do Parque da Maternidade, obra do governo Jorge Viana, continua sendo diluído impunemente no leito do Rio Acre.

Com 7 quilômetros de extensão, o canal conduz, in natura, o esgoto de indústrias, hospitais, casas, igrejas, bares etc. Aí estão imagens da “foz” ou fossa, próximo ao Mercado Elias Mansour, no centro da capital, onde barcos ancoram com produtos que alimentam a população.

Enquanto isso, a prefeitura de Rio Branco isenta empresas de transporte público do recolhimento de impostos da ordem de R$ 9 milhões.

Está na hora do Ministério Público Federal entrar em ação.




Em tempo

A maior demanda criada pelo Ministério Público do Estado do Acre em audiência pública sobre o Parque da Maternidade foi em relação ao lançamento dos efluentes sem tratamento no canal. Todo o esgoto é lançado no córrego e segue para o Rio Acre. O projeto original do parque permitia a inundação de uma grande área e não haveria o sistema viário como foi feito. Durante a obra, o projeto foi sendo modificado e os terrenos erguidos para não inundar o parque. Porém, isso acaba aumentando a inundação dos terrenos vizinhos que ficaram mais baixos. Nos outros parques a situação se repete.

E ainda temos o aquífero Rio Branco. Após a constituição da Área de Proteção Ambiental, foi modificado o traçado da BR-64, incentivando a ocupação da estrada do Amapá. Posteriormente, veio a urbanização da pista do antigo aeroporto, que virou Av. Amadeo Barbosa, e, em seguida, a construção do conjunto habitacional Cidade do Povo. Como a região é de solos arenosos, a infiltração é grande e a urbanização propicia a poluição do manancial.
Cidade ecológica é a ...

sábado, 21 de março de 2015

Acre é um dos seis Estados que ainda não regulamentou a Lei de Acesso à Informação


Levantamento da Controladoria Geral da União (CGU) revela (veja) que a regulamentação da Lei de Acesso à Informação (LAI) já se deu em 77% dos Estados (incluindo o Distrito Federal) e 74% das capitais. O Acre é um dos seis Estados que ainda não regulamentou a LAI.

A pesquisa da CGU foi realizada a partir dos sites oficiais do Poder Executivo estadual e municipal, abrangendo os 26 Estados, o Distrito Federal, 26 Capitais e 254 municípios com população superior a cem mil habitantes.

A LAI foi regulamentada em Rio Branco pela pela Lei nº 1.915, de 25 de junho de 2012 e pelo Decreto nº 3.556, de 15 de maio de 2012.

Confira os links:

Página estadual de Acesso à Informação

Portal da Transparência do Estado no Acre

Página de acesso à informação, em Rio Branco

Portal da Transparência de Rio Branco


sexta-feira, 20 de março de 2015

Rio Branco isenta empresas de ônibus do pagamento de R$ 8,6 milhões em impostos

A maioria dos vereadores de Rio Branco, em conluio com a prefeitura, se prepara para aplicar novo golpe contra a população em sessão extraordinária na Câmara Municipal, nesta sexta-feira, 20, a partir das 19 horas. Eles vão aprovar a isenção de cerca de R$ 8,6 milhões de Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza  (ISSQN), outorga e IPTU, em 2015, às empresas de ônibus da capital do Acre.

Alegam que vão fazer isso em troca da manutenção da tarifa social (R$ 1,00 para estudante) e da renovação da frota, mas na verdade desconsideram o interesse e o bem-estar da população, que conhece muito bem a qualidade do transporte público em Rio Branco: ônibus caindo aos pedaços, sempre superlotados, paradas sem cobertura, atrasos constantes etc.

Em tempo: as empresas de ônibus não cumprem com os termos do contrato firmado com a prefeitura de Rio Branco há dez anos. Apesar disso, o contrato já foi renovado em 2015, para que explorem por mais dez anos as linhas de ônibus da cidade.

Os mesmos benefícios já foram concedidos no ano passado, mas a contrapartida dos serviços prestados pelas empresas de ônibus se agrava impunemente a cada dia.

Mais uma vez, o que veremos é a população no prejuízo ao se conceder isenção anual de quase R$ 9 milhões que deveriam ser convertidos em benefícios diante da vergonhosa situação do transporte coletivo na capital do Acre.

Onde estão o Ministério Público, o Tribunal de Contas e o movimento social do Acre?

A deputada Eliane Sinhasique enviou à presidente do Tribunal de Contas do Acre, Naluh Gouveia, apelo para que o caso seja analisado mediante a possibilidade de haver mau uso de verba pública por parte da prefeitura.

Atualização às 21h55 - Nota da assessoria de imprensa do prefeito Marcus Alexandre

“Aprovado projeto de isenção do ISSQN e outorga para as empresas do transporte coletivo de Rio Branco por 12 X 4 votos. Trata-se de um esforço fiscal por parte do município para que o usuário do transporte coletivo não seja prejudicado com o aumento da passagem, com isso está garantida que a passagem de ônibus não terá aumento e ficará congelada por 2 anos. A contrapartida das empresas será de investimentos no sistema na ordem de 10 milhões em dois anos, mais 30 novos ônibus entrarão no sistema a partir da aprovação da lei. Parabéns aos 12 vereadores que votaram pela garantia de direitos dos usuários de ônibus da capital. Apenas os vereadores Marcelo Jucá (PSB); Lene Petecão (PSD); Rabelo Goes (PSDB) e Clésio Moreira (PSDB) votaram contra a aprovação do projeto que beneficia os usuários de ônibus em Rio Branco.”

sábado, 14 de março de 2015

Silêncio se faz para ouvir

POR MARINA SILVA

Muita gente andou falando ou escrevendo a respeito do meu silêncio, alguns até em tom de cobrança ou censura, como se eu estivesse me esquivando da responsabilidade de dar opinião sobre o atual momento da política brasileira.

Como disse Mark Twain, “os boatos a respeito da minha morte estavam um pouco exagerados”. Não andei tão calada assim, basta ver que em minhas páginas na internet tratei das questões mais importantes da vida brasileira, como a crise hídrica, a retomada dos ataques aos direitos indígenas e, é claro, as investigações da corrupção na Petrobrás. Também divulguei, em várias mensagens, minhas observações sobre a disparidade entre a propaganda da presidente reeleita e os atos reais de seu governo, que chamei de “desmandamentos”. Não foi, portanto, um silêncio muito silencioso.

Se me ative às páginas da internet, especialmente nas redes sociais, deixando de lado as entrevistas e artigos na chamada “grande mídia”, é porque preferi não seguir a pauta convencional, onde o bate-boca pós-eleitoral e as versões da guerra partidária continuavam acirrados. Como já disse, a polarização não é apenas uma disputa entre dois lados, é uma cultura, um modelo mental que domina a política e a comunicação, algo difícil de desfazer.

O respeito à democracia nos ensina a dar um prazo inicial a todo governo eleito, para que diga a que veio. Sinto que isso vale também quando o escolhido – ou guiado pelas estrelas – recebe da sociedade a cômoda ou incômoda tarefa de suceder a si mesmo.

Desde 2010 venho alertando para a incompatibilidade entre dois fenômenos políticos contemporâneos, uma contradição que nos empurrava para o abismo onde hoje caímos: de um lado, o avanço social, político, econômico e cultural de uma significativa parcela da sociedade, que se esforça para deixar a passiva posição de espectadora e intenta ser protagonista no desenvolvimento do país; de outro lado, o enorme atraso na política, a lentidão e até o retrocesso na qualidade das instituições e na representação. Repeti incontáveis vezes: o atraso político é a maior ameaça ao que conquistamos a duras penas – Democracia, Estabilidade Econômica e Inclusão Social.

Esse atraso nos fez estacionar em um sistema político que degrada os processos sociais de diversas maneiras, entre as quais destaco três.

Primeiro, afasta os verdadeiros agentes de transformação das dinâmicas econômica e política, retira-os de todos os centros reais de decisão e os coloca no lugar de meros espectadores no processo político. Empresários ou trabalhadores, estudantes ou cientistas, comunidades ou movimentos, todos são“avassalados” ou meramente excluídos, só os políticos profissionais podem participar de uma espécie de república dos operadores.

Segundo, cria uma governança sem qualquer compromisso com a execução de um programa, compondo o governo e configurando sua base de sustentação no Congresso através do loteamento de pedaços gerenciais e financeiros do Estado. A gestão dos assuntos públicos é entregue a uma teia de esquemas que atravessa instituições e órgãos públicos, empresas e bancadas parlamentares, um amontoado de nichos e feudos onde se faz qualquer negócio em qualquer setor: saúde, educação, segurança e especialmente as grandes obras, tudo vira objeto de troca. A ocupação dos cargos obedece a duas modalidades, com ou sem “porteira”, seja fixa ou giratória, como dizem os que participam das negociações.

Terceiro, assenta-se numa lógica partidária que abandona o debate em torno de idéias e programas pelo embate para ganhar ou manter o poder. E esclareço: trata-se do poder pelo poder, que independe daquilo que se faz, se pensa ou se diz, pois todas as idéias se reduzem a peças de marketing e toda ação tem sentido tático de destruir adversários numa disputa que não tem fim nem finalidade para o que de fato importa, os reais interesses do país.

Esse sistema se reproduz e se protege. Basta ver as sucessivas “reformas” políticas, arrumações nas leis eleitorais ou regras para impedir a criação de novas formas de organização e participação política. A cada ano criam-se e aperfeiçoam-se mecanismos para manter o domínio das oligarquias, a hegemonia dos grandes partidos e o financiamento de suas campanhas.

Por tudo isso é que falei em 2010 e repeti em 2014, ao lado de Eduardo Campos: é imprescindível e urgente um realinhamento político, com base em uma agenda estratégica que dê conta dos principais desafios do país, capaz de manter e institucionalizar conquistas, corrigir erros e assumir os novos e grandes desafios desse século.

Propus que esse realinhamento aposentasse a Velha República, que permaneceu incrustada no Estado brasileiro mesmo nos governos do PSDB e do PT, dificultando os avanços que estes promoveram – sempre reconheci – nas áreas econômica e social. Para sustentarem-se nessa Velha República, como já disse FHC, esses novos partidos da democracia brasileira disputaram o posto de líderes do atraso.

Só uma República renovada seria capaz de juntar os fundamentos dos avanços já obtidos, o processo democrático, o tripé da estabilidade macroeconômica e os programas de inclusão social e acrescentar a eles um novo objetivo inadiável, a sustentabilidade socioambiental. Assim, através de um Novo Pacto, o Brasil evitaria o retrocesso e a perda de suas conquistas, superaria o atraso político e atualizaria seu ambiente institucional para enfrentar as crises e rigores deste tempo em que o mundo é sacudido pelas mudanças climáticas e pela crise econômica e social, uma verdadeira crise da civilização.

Não foi por acaso que busquei Eduardo Campos quando o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) negou registro à Rede Sustentabilidade. Éramos duas figuras que, até aquela época, em função das posturas políticas que tínhamos e de nossas trajetórias de vida, nos imaginávamos como pontes entre os legados do PSDB e do PT, até mesmo pela atitude de respeito que sempre cultivamos por seus líderes maiores, Lula e FHC.

Não foi por acaso que propusemos um programa para a grave crise que já se alastrava, falando das medidas duras a serem tomadas, mostrando a verdade da crise econômica, política e social, mesmo correndo o risco de sermos atacados com virulência, como ocorreu, sobretudo comigo, após a trágica morte de Eduardo.

Não foi apenas o marketing selvagem, amplificado pelas técnicas do boato e da calúnia em cada cidade ou vila do país, operando uma destruição na “imagem” de um adversário político. Foi uma contração de todo o sistema político, incluindo suas ramificações nos meios de comunicação e organizações da sociedade, na tentativa de trancar do lado de fora qualquer novo projeto de identidade política para o Brasil, qualquer proposta de mudança e de futuro que não fosse a mera repetição do que já existe.

Nada de realinhamento das forças políticas para fazer a transição e aposentar a Velha República. Nada de manter as conquistas, corrigir os erros e encarar os novos desafios. Nada de nova governança baseada em um programa de governo e agenda estratégica, nada dessa história de reunir os melhores de todos os partidos. Nada de fim da reeleição, pela qual os mandatários se dedicam mais a conseguir outro mandato do que servir ao país. O sistema desconhece e joga fora a possibilidade de evolução e quer continuar sendo assim como é, uma máquina de vencer eleições, uma couraça, uma repetição neurótica de palavras vazias, um embate de “nós” contra “eles”, uma reafirmação de quem manda.

Qual o resultado de uma campanha assim? O que acontece com quem “ganha” dessa forma? E o que acontece com os eleitores, a sociedade, o país?

Estamos, agora, diante das respostas. O agravamento de todos os sintomas da crise já é visível. A insatisfação da população vai da desesperança ao desespero. A mudança na equipe econômica parece ser insuficiente para dar ao governo a credibilidade necessária à condução da economia. A imagem da situação social é a dos tanques na rua, na Favela da Maré. A enchente gigantesca no Norte e a seca rigorosa no Sudeste denunciam a irresponsabilidade com a agenda ambiental e a falta de planejamento na produção de energia e no saneamento. E a corrupção revela-se generalizada como um câncer que se espalhou por todos os órgãos. Quantos minutos na televisão serão necessários para fazer as pessoas voltarem a acreditar no mundo cor-de-rosa que os “pessimistas” queriam destruir?

Muita gente vai para as ruas protestar. Há uma campanha pedindo o impeachment da presidente que foi eleita há poucos meses. Compreendo a indignação e a revolta, mas não acredito que essa seja a solução. Talvez o resultado não seja o pretendido retorno à ordem, mas um aprofundamento do caos. Quando o Congresso depôs Fernando Collor, assumiu o vice-presidente Itamar Franco, que formou um governo aglutinando várias forças políticas incluindo a parcela do PT que acompanhou Luíza Erundina. Em sua gestão, que tinha FHC como Ministro da Fazenda, começou o Plano Real e a hiperinflação foi finalmente debelada. Mas hoje quem domina as instituições são as parcelas do PMDB mais envolvidas com as práticas e métodos que estão na gênese da crise.

As principais lideranças políticas de todos os partidos têm agido com cautela e senso de responsabilidade com o país. O PT, é claro, quer salvar o governo. Em parte da oposição predomina a lógica partidária e o desejo de “sangrar” o governo e enfraquecê-lo para as próximas eleições. Mas há os que compreendem a gravidade de uma crise institucional, os riscos de aventuras autoritárias – de esquerda ou de direita –, a quebra da economia, a violência descontrolada, enfim, um cenário totalmente indesejável. O governo é ruim, mas temos a responsabilidade de manter não a ele, mas a democracia.

O impeachment seria uma punição ao PT, sem dúvida. Uma resposta no mesmo padrão criado pelo partido quando estava na oposição: gritar “fora” a qualquer governo (Sarney, Collor, Itamar, FHC e incontáveis governos estaduais), com ou sem provas de corrupção, pela simples avaliação ideológica de que eram governos impopulares ou contrários aos interesses dos trabalhadores. Talvez até uma parcela dos que votaram em Dilma em outubro ou até mesmo que fizeram parte dos núcleos ocultos de sua campanha estejam agora alimentando a idéia de afastá-la para ganhar o poder por outros meios. Por isso, é bom lembrar que, às vezes, a maior punição àqueles que ultrapassam limites éticos para alcançar seus objetivos não seja interditar-lhes o objeto almejado, mas retirar-lhes as regalias e deixá-los com a responsabilidade de dar conta do que prometeram.

Essa é uma questão que será decidida no coração do povo, num nível profundo em que a tosca propaganda e os gritos de guerra da direita e da esquerda não penetram. Só os que fazem silêncio e ficam atentos conseguem ouvir o que diz esse coração.

A questão política é: existe alguma possibilidade de navegar na crise estabelecendo, na prática, uma nova governança no país? Creio que é muito difícil. Mas talvez seja possível estabelecer alguns pontos de contato entre os agentes reais dos processos políticos, econômicos e sociais, com base na dura realidade dos fatos. A percepção de que estamos à beira de um abismo que chama outros abismos, como bem adverte o ensinamento bíblico, nos remete à responsabilidade de abrir novos caminhos e maneiras de caminhar. Afinal, se todos estamos no mesmo barco de um país em profunda crise, devemos estabelecer diálogos e projetos comuns em que governos estaduais e municipais, organizações da sociedade, cientistas, empresários, movimentos sociais, comunidades, todos se sintam dispostos a contribuir até que se consiga  alcançar um realinhamento político que dê novas bases de sustentação ao país.

Se não é possível ter uma agenda governamental, podemos ter acordos setoriais e regionais em diversos temas. Mais uma vez, escolho os que me parecem centrais.

Primeiro, seria necessário ter sério compromisso com a transição para uma economia de baixo carbono. Mas é possível começar com as urgências da crise ambiental que já mostra seu potencial de destruir a economia urbana ou rural. Não adianta reconstruir a casa da mesma forma e no mesmo lugar em que foi derrubada pela chuva. Agricultura, indústria, obras de infra-estrutura, todos já estão ameaçados  pela crise. Eis a oportunidade de mudar os métodos de produção e consumo. Os planos de contigência e os comitês de gestão da crise hídrica já seriam um bom começo.

Segundo, aperfeiçoar os programas e mecanismos de inclusão social. Programas de transferência de renda não podem ser tratados como política de um governo ou um favor que será cobrado a cada eleição. É necessário institucionalizar, colocar na lei: toda família em situação de extrema pobreza tem o direito de recorrer ao Estado e receber ajuda enquanto for necessário. Cabe ao Estado providenciar meios, como financiamento e formação técnica, para que ocorra uma inclusão produtiva, ou seja, a pobreza seja superada com educação e trabalho.

Terceiro, recuperação dos fundamentos macro e microeconômicos em um ciclo estrutural e não puramente eleitoral. Aqui, a sociedade e os governos locais podem fazer algo, mas é responsabilidade do governo federal recuperar a credibilidade do país e o ambiente para o investimento produtivo.

Mas o mais urgente, o sinal mais claro de um enfrentamento direto da crise é o combate à corrupção, que hoje está espalhada em todos os níveis da economia e da política. É preciso manter uma opinião pública exigente e capaz de apoiar a autonomia dos órgãos de investigação, justiça, fiscalização e controle. A liberdade de imprensa é condição essencial e deve ser defendida sem hesitação.

Não podemos ser tolerantes com “acordos de leniência” que livrem corruptos ou corruptores de suas responsabilidades a pretexto de proteger as empresas. O Estado deve apenas dar condições legais para que os setores da economia afetados pela corrupção se reestruturem. Empresas podem fechar ou se reinventarem, as leis é que não podem ser mudadas para salvar a pele de quem quer que seja. Num mercado aberto, não se exige apenas “menor preço” para contratar uma obra, mas também a concorrência leal, com regras para proteger o interesse público, o meio ambiente e a população, com mecanismos de controle e total transparencia.

Na área ambiental, o Ministério Público tem estabelecido, em diversas ocasiões, os Termos de Ajustamento de Conduta, que estabelecem prazos e metas, procedimentos e regras, começando pela imediata interrupção das práticas danosas. Esse é o enfoque correto para manter as obras e serviços, mas limpando a sujeira e desarmando os esquemas de corrupção.

Quem pode levar adiante acordos e pactos em torno dessas diretrizes? Creio que cada um tem uma parcela de poder e governabilidade. Tenho visto, em todo o Brasil, exemplos emocionantes de iniciativas de pessoas, comunidades, movimentos sociais, organizações civis, prefeituras e governos estaduais e também em alguns órgãos do governo federal. Não existe só corrupção e maldade no mundo, temos que manter a esperança.

Enfim, tenho muitas dúvidas e algumas propostas. Não me iludo, sei que estamos ainda no início dos problemas e o mais provável é que a situação do país se agrave nos próximos meses. Mas insisto que devemos ter uma agenda que possa gerar novos compromissos, uma posição – sem alinhamento automático com governos ou oposições – a favor do Brasil. Política é serviço e devemos contribuir para que tudo melhore.

A melhor energia para essa melhora é e sempre será a manifestação da sociedade, pacífica mas indignada, contra tudo que ameaça a honra de seu passado, a dignidade de seu presente e a esperança de seu futuro. Das ruas vem sempre o alerta: acima dos interesses dos partidos e grupos que almejam o poder estão os interesses do país e os que querem sinceramente servi-lo não devem desperdiçar a oportunidade de mudar, antes de serem por elas mudados.

domingo, 8 de março de 2015

Mulheres

Guardei a imagem, captada numa sapataria em Puerto Maldonado, no Peru, para homenageá-las neste Dia Internacional da Mulher.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Durante cheia histórica do Acre cresce fluxo de imigrantes e falta água em abrigo


O abrigo para imigrantes, mantido pelos governos federal e estadual, em Rio Branco (AC), cuja população padece por causa da enchente histórica do Rio Acre, está superlotado e passou o dia sem água. Atualmente, estão abrigados na Chácara Aliança, na periferia da cidade, 849 imigrantes, sendo 729 haitianos e 120 senegaleses.

Na semana passada, quando a cheia do Rio Acre começou e praticamente devastou o município de Brasileia, na fronteira com a Bolívia, o governador Tião Viana (PT) pediu, em documento enviado à Presidência da República, para que fossem tomadas ações de conscientização dos haitianos sobre os perigos de vir ao Brasil tendo o Acre como rota de entrada.

Viana sugeriu ao governo federal que ao menos avisasse ao governo do Haiti sobre a restrição da saída de pessoas de Porto Príncipe, capital do país. Sugeriu ainda que, se saírem, que saiam com visto para entrar em qualquer Estado brasileiro, mas não venham para o Acre – escolham outra rota.

O governador argumentou que o Acre não tem condições de fazer acolhimento dos imigrantes e assinalou que eles passavam por privações. Porém, o apelo não surtiu efeito e o que se constatou foi o crescimento do fluxo de imigrantes caribenhos e africanos de passagem pelo Acre em busca de trabalho e melhores condições de vida em outros Estados.

Nas últimas duas semanas, 320 imigrantes entraram em território brasileiro a partir do município de Assis Brasil, na tríplice fronteira Peru, Brasil e Bolívia, sendo que a média era de 40 a 50 no mesmo período.

Na quarta e quinta-feira, 370 imigrantes chegaram ao abrigo público, em Rio Branco, onde o acolhimento inclui alimentação e apoio para obtenção da documentação necessária para que possam seguir viagem com destino a outras regiões do país.

O Acre continua despachando para São Paulo um ônibus a cada dia lotado com 44 imigrantes, mas o transporte gratuito tem sido insuficiente para diminuir a presença deles no abrigo. A situação se agravou nos últimos dias por causa da calamidade decorrente da enchente.



Cada imigrante que chega ao abrigo demora ao menos um mês. A Polícia Federal não tem condições de expedir mais de 30 protocolos e cada documento demora de quatro a cinco dias para ficar pronto.

A Secretaria de Desenvolvimento Social (Seds) e a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) são responsáveis pelo atendimento aos estrangeiros que ingressam pelo Acre. Um funcionário do governo estadual disse que a falta de água decorre da capacidade de armazenamento da cisterna. A água teria ficado insuficiente para atender a enorme quantidade de imigrantes, que se abastecem na vizinhança do abrigo com o uso de garrafas plásticas.

Como a gestão do abrigo é compartilhada, a reportagem procurou o titular da Sejudh, Nilson Mourão, mas não foi atendida ao telefone. O secretário Gabriel Gelpke, da Seds, explicou que equipes das duas secretarias se alternam na gestão do abrigo a cada semana.

- A gestão do abrigo durante esta semana está sob a responsabilidade da equipe da Sejudh. Minhas equipes estão todas mobilizadas no atendimento das vítimas da enchente, mas me comprometo a verificar o problema. Continuaremos a envidar todos os esforços para garantir a qualidade do acolhimento aos imigrantes - disse Gelpke.

Os primeiros registros de haitianos nas cidades acreanas de fronteira (Assis Brasil, Brasiléia e Epitaciolândia) são de dezembro de 2010, com a chegada de 37 imigrantes, todos homens e jovens, antes mesmo de a rodovia Interoceânica, que liga o Acre ao Peru, ter sido inagurada.

Em 2011 e 2012 os números foram de 1.175 e 2.225 imigrantes, respectivamente. Aumentou em 2013, com a chegada de 10.779 haitianos. A tendência de crescimento continuou e até dezembro de 2014 estima-se a passagem de mais de 31 mil imigrantes pela fronteira acreana, principalmente haitianos, mas também de outras nacionalidades.

- Nos últimos dois anos, é notável o crescimento do número de mulheres, crianças e idosos compondo os grupos que chegam ao Acre. A maioria, porém, ainda é representada por homens jovens, de 20 a 40 anos, mas com a presença de percentual significativo de imigrantes acima de 40 anos e de menores de 18 anos - dizem as professoras Letícia Helena Mamed e Eurenice Oliveira de Lima, ambas da Universidade Federal do Acre, que lideram o Grupo de Pesquisa Mundos do Trabalho na Amazônia, e se dedicam a estudar o fluxo de caribenhos e africanos no âmbito do movimento internacional de trabalhadores.

De acordo com as professoras, o fluxo permanece contínuo e crescente com imigrantes pela fronteira acreana em torno de 16 diferentes nacionalidades, indocumentados e vítimas do aliciamento de redes de coiotagem e tráfico humano. Elas consideram que o fluxo é parte dos novos movimentos migratórios em expansão no mundo e expressão da tendência de precarização estrutural do trabalho em escala global.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Com nível histórico, cheia do Rio Acre ameaça estrutura de ponte em Rio Branco


O Rio Acre ameaça a estrutura da ponte Juscelino Kubitschek, mais conhecida como Ponte Velha ou Ponte Metálica, no centro de Rio Branco. Engenheiros do Deracre, acompanhados do prefeito Marcus Alexandre 13, realizaram vistoria na noite desta terça-feira (3) e concluíram que a ponte necessita de peso.

A decisão foi colocar pedra em cima da ponte. Outra fonte acrescentou: "Não sei se vão deixar os caminhões ou só a brita que estão carregando. Mas já havia quatro caminhões sobre a ponte".

Não foi dito, mas deve ter servido o alerta de  Sálvio Montenegro, acreano antigo, fez na página de meu perfil no Facebook:

- Caro Altino Machado. Vamos torcer para que essa subida das águas do rio Acre, ao bater o recorde, não venha atingir a velha ponte Juscelino Kubitschek. Poucos sabem que essa ponte, a sua passarela, é apenas assentada no topo dos pilares, porém, sem amarração ou atracação nenhuma. Digo eu porque, à época, fui o fornecedor de toda a madeira de caixarias e demais, para a sua construção. Outra pessoa que sabe disso e pode confirmar as minhas palavras é o Eduardo (Dudu) Pinho, irmão do amigo Lourival Pinho e também cunhado do amigo Dr. Fernando Castro. O Dudu, juntamente com o engenheiro Manuel Carrion Bazam, este, engenheiro encarregado da obra, fizeram todo o serviço de solda dessa ponte de ferro. Se a força da água, por ventura, pegar de jeito, vai derrubá-la, o que ,por sua vez, pode atingir a ponte de pedestres e, quem sabe, também atinja a ponte Sebastião Dantas. Roguemos que não seja aqui, um arauto do Apocalipse e que este risco, não se transforme numa baita tragédia. Oremos.

O Rio Acre, que não para de subir, amanheceu nesta quarta-feira (4) com novo nível histórico de 18,29m, às 6h, de acordo com a primeira medição divulgada pela Defesa Civil. O governo estadual anunciou que a captação e distribuição de água na capital do Acre terá que ser interrompido caso o manancial atinja a marca de 18,31m.

terça-feira, 3 de março de 2015

Pais de Tião e Jorge Viana são retirados de casa afetada por enchente do Rio Acre

A família do governador Tião Viana e do senador Jorge Viana, ambos do PT, está entre as 14 mil afetadas pela enchente do Rio Acre. Wildy Viana das Neves, 85, e Sílvia Macedo, 84, pais do governador e do senador, tiveram que deixar a casa deles no bairro Habitasa, de classe média, que costuma sofrer inundação. O casal octogenário está na casa da filha Sílvia Helena, flagrada nesta terça-feira (3), de bermuda e botas, em trecho inundado da Av. Ceará, a principal da capital do Acre. Rio Branco contabiliza 71 mil pessoas afetadas pela cheia. Desse total, mais de seis mil estão em abrigos montados pelo governo estadual e prefeitura. Por causa do agravamento do transbordamento do Rio Acre, que estava, às 10h local, com o nível histórico de 18,11m,  a partir de meio-dia o trânsito será interditado no centro da cidade.

Ator José de Abreu apoia campanha de solidariedade ao povo do Acre

S.O.S Enchente Rio Acre - conta 500-2, da agência 0071-x do Banco do Brasil 

segunda-feira, 2 de março de 2015

Rio Acre atinge nível histórico de 18 metros


A marca foi registrada pela Defesa Civil em medição às 23 horas

Com geoglifos, indígenas mais experientes ensinam como evitar cheias do Rio Acre


Até hoje tão criticados e massacrados pela cultura da sociedade ocidental, os indígenas vêm sendo reconhecidos pelos pesquisadores por terem transformado consideravelmente a Amazônia, construindo sistemas de aquacultura, plataformas de terra, sistemas de irrigação, barragens, caminhos elevados, estruturas defensivas e terras férteis. As estruturas dos geoglifos do Acre, construídas a partir do início da era Cristã até o século XIV, são a maior evidência de que antigas sociedades amazônicas eram mais sábias que a nossa, cuja maioria prefere habitar o charco. A ponto de, a pretexto de socorrer quem habita áreas de risco, construirmos conjuntos habitacionais em áreas de inundação.

No artigo "Florestas antrópicas no Acre: inventário florestal no geoglifo Três Vertentes, Acrelândia", de William Balée (Tulane University, New Orleans, Estados Unidos), Denise P. Schaan (Universidade Federal do Pará, Belém, Brasil), James Andrew Whitaker (Tulane University, New Orleans, Estados Unidos) e Rosângela Holanda (Universidade Federal do Acre, Rio Branco, Brasil), os autores assinalam que, entre os anos 1950 e 1980, a arqueologia amazônica esteve dominada pela tese de que a floresta tropical teria abrigado ao longo do período paleoíndio até a conquista europeia, apenas sociedades do tipo caçadoras-coletoras e agricultores incipientes. A justificativa para esta posição era de que as condições ecológicas não favoreceriam o desenvolvimento de sociedades complexas como as que existiram na Meso-América, nos Andes ou mesmo no Caribe.

De acordo com os pesquisadores, inicialmente, esses desenvolvimentos foram pensados como possíveis apenas para as áreas de várzea e savanas, porém, percebeu-se que, também na terra firme, sociedades demograficamente densas e politicamente complexas haviam se desenvolvido.

- Nesse sentido, a descoberta dos geoglifos do Acre veio somar-se a estas evidências uma vez que, por se localizarem esses sítios em área de interflúvio, indicava que sociedades de terra firme também realizaram grandes transformações sobre a paisagem - afirmam.

Em julho de 2009, entrevistei a arqueóloga Denise Schaan, a quem indaguei se ela continuava convencida de que os geoglifos questionam os estudos que concluem que a presença de populações primitivas na Amazônia era restrita às margens dos rios. Ela respondeu:

- Sem dúvida. A gente tinha conhecimento da existência de valetas, de estruturas defensivas, no Alto Xingu. Nessas áreas de interflúvio para terra firme, que a gente achava que só havia povos nômades ou aldeias que estavam sempre mudando de lugar, temos visto indícios de estruturas mais permanentes cujo espaço foi ocupado por um grande número de pessoas por um longo período de tempo. Essa região do Acre merece um estudo especial porque está afastada do curso do Rio Amazonas, mais próxima dos Andes. Estamos num ambiente que está no caminho entre duas coisas. Povos andinos faziam trocas com povos da Amazônia. Esses geoglifos podem indicar um local de passagem que a gente ainda não conhece.

Detalhe intrigante: as valas dos geoglifos não acumulam água.

Clique aqui para ler o artigo mencionado.

Destaque para o comentário do mestre José Ribamar Bessa Freire:


- O antropólogo Darell Posey explicou que existem índios especialistas em solos, plantas, animais, colheitas, remédios e rituais. Mas tal especialização não impede, no entanto, que qualquer Kayapó, seja homem ou mulher, tenha absoluta convicção de que detém os conhecimentos e as habilidades necessárias para sobreviver sozinho na floresta, indefinidamente, o que lhe dá uma grande segurança. Escreveu Posey: “Se o conhecimento do índio for levado a sério pela ciência moderna e incorporado aos programas de pesquisa e desenvolvimento, os índios serão valorizados pelo que são: povos engenhosos, inteligentes e práticos, que sobreviveram com sucesso por milhares de anos na Amazônia. Essa posição cria uma “ponte ideológica” entre culturas, que poderia permitir a participação dos povos indígenas, com o respeito e a estima que merecem, na construção de um Brasil moderno”.

Acre, rio estranho

Rio estranho (Pia Vila e Felipe Jardim) 



Acre, rio estranho
Cheio de curvas e barrancos
Um rio torto que não vê o mar

Mais que nunca, no inverno, tuas águas vão rolar
Enche Bahia, Cadeia Velha, Cidade Nova
Aeroporto, 6 de Agosto e Palheiral

Me ensina viver pra ver o tempo passar
E no barranco vou ficar a te mirar
E no barranco vou ficar a recordar

Faz teu povo te considerar
Ensina teu povo lutar e amar
E no barranco só vim te mirar

Cheia do Rio Acre já é a maior da história

O Rio Acre atingiu a marca de 17,78 metros, às 7 horas, em Rio Branco. Já é a maior enchente da série histórica. Poupem Deus. Não adianta pedir misericórdia a Deus. Nós é que temos que ter misericórdia do rio, da floresta, do ambiente. Deus não vai se meter na destruição que fazemos do que Ele criou. Até quando vamos aguentar o rojão, ninguém sabe.

domingo, 1 de março de 2015

Beija-flor

Detido o invasor de minha casa, no final da tarde deste domingo


Casa do pai de Marina Silva

Na cheia do Rio Acre, Maria Elizete e Pedro Agostinho, irmã e pai de Marina Silva, na casa no bairro Cidade Nova, em Rio Branco, recebem a visita de um casal. Antes que os idiotas digam que "Marina não ajuda o pai", saibam que seu Pedro sempre resistiu às sugestões da filha para deixar o bairro. Assim como Wildy Viana e Sílvia Macedo, pais do governador Tião Viana e do senador Jorge Viana, que moram há dezenas de anos na Habitasa, outro bairro que inunda na capital do Acre.