sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Toinho Alves, o discreto conselheiro de Marina

POR DANIELA CHIARETTI E CRISTIANE AGOSTINE
Valor Econômico, de Rio Branco e São Paulo 


Ex-petista e ex-líder estudantil ligado ao Liberdade e Luta (Libelu), o jornalista Antonio Alves Leitão Neto, o Toinho Alves, de 57 anos, é o amigo de mais longa data da presidenciável Marina Silva (PSB) no dia a dia da campanha. É, também, uma das pessoas que Marina mais ouve.

"É um acriano dos mais especiais que a gente tem", diz o senador Jorge Viana, ex-prefeito de Rio Branco, duas vezes governador e um dos principais políticos do Estado. "Toinho ajudou muito na minha formação, na de Marina, é alguém fora do convencional. Pelo menos eu o tenho assim."

Alves foi secretário municipal e estadual de Cultura na gestão de Viana. Uma vez, em uma conversa de bar, ouviu do produtor cultural Jorge Nazareth a expressão "florestania". Gostou da ideia, que sintetizava a sustentabilidade, o socioambientalismo, os direitos indígenas, a proteção da biodiversidade e outros aspectos que resumiam o espírito do governo petista que se formava no Acre.

A Alves se atribui o desenvolvimento do conceito de florestania, que marcou a gestão de Viana no governo. "Toinho é uma pessoa brilhante, que nos ajudou a conceber estes novos conceitos, que Leonardo Boff elogia, do governo da floresta", diz Viana. "Sempre que posso, converso com ele", segue o senador.

Alves é do grupo que fundou o PT no Acre, ao lado de Viana, o ex-governador Binho Marques, Marina, Julia Feitosa e o ex-secretário estadual Nilson Mourão, entre outros. Ajudou a articular a Frente Popular do Acre.

"Toinho nunca foi um quadro orgânico do PT. Ele sempre foi um quadro incômodo para a ânsia de poder do partido", diz o amigo e jornalista acriano Altino Machado. "Toinho é uma das cabeças de Marina."

Desde o início da carreira política de Marina Silva no Acre, Alves se ocupava da comunicação das campanhas, dos discursos, dos novos conceitos. Continua com lugar de destaque na definição da estratégia da atual candidatura presidencial.

O jornalista, descrito por Marina como seu "conselheiro político", mudou-se de Rio Branco para São Paulo para acompanhar os desdobramentos da disputa eleitoral, que poderá levar a ex-senadora ao segundo turno.

Marina e Toinho Alves se conheceram em 1981, no primeiro ano do curso de História da Universidade Federal do Acre (UFAC). Ele havia passado um período em Brasília e no Rio e regressava ao Estado natal.

"Ele escreve muito bem. É um questionador, o formulador da florestania, hoje um assessor importante na campanha de Marina", diz o advogado Gomercindo Rodrigues, um dos melhores amigos do líder seringueiro Chico Mendes, assassinado no Acre em 1988.

"No Acre a gente fala de sustentabilidade há 20 anos", costuma comentar com os amigos. "Esta história de nova política, de novos realinhamentos, são coisas que vêm sendo elaboradas no Acre, que Marina elabora no Acre, há 20 anos. E ainda não são compreendidas no resto do Brasil", espanta-se, segundo relatos.

O senador Aníbal Diniz (PT-AC) lembra da época de militância estudantil, quando Marina e Alves se conheceram. Foi também ali que conheceu Alves. "Ele levou as primeiras discussões sobre trotskismo para o Acre. Tinha a análise mais precisa", diz.

A relação de Alves com Marina indica que ela não é uma intolerante religiosa, como se diz no processo de desconstrução da candidata. Toinho Alves é um integrante do Centro de Iluminação Cristã Luz Universal - Alto Santo, em Rio Branco. O centro, fundado pelo negro maranhense Raimundo Irineu Serra, que faleceu aos 79 anos, em 1971, é a origem da doutrina do Daime. É uma religião cristã com milhares de seguidores no Acre.

Alves é uma referência intelectual, um amigo e conselheiro, uma espécie de "guru" político para Marina Silva. Ela diz que foi com ele que aprendeu o que é ecologia.

No Acre, Toinho Alves participou de pelo menos seis campanhas eleitorais, para a Prefeitura de Rio Branco e para o governo do Estado, além das campanhas de Marina para a Câmara Municipal e para o Senado. Responsável por pensar a estratégia e o rumo da campanha, o jornalista teve em Aníbal Diniz um de seus principais parceiros. "É um exímio redator. Pega as ideias de todo mundo e transforma em conteúdo para a campanha", afirma.

Toinho Alves assessora a candidata do PSB em suas falas, quando tem que dar uma entrevista importante, na revisão de seus textos, no conteúdo dos debates. "Ele tem uma visão humanista, de fazer uma propaganda leve, sedutora", diz Nilson Mourão. "Os políticos o procuravam em busca de orientação para suas campanhas. Sempre tinha ideias inteligentes e criativas".

Toinho Alves foi um assessor importante também no governo do petista Binho Marques, entre 2003 e 2006.

Nos mandatos de Marina, Alves ajudou no planejamento da atuação da então parlamentar. Em 2010, quando a ex-senadora disputou a Presidência, também acompanhou de perto a campanha e estava na linha de frente da comunicação. Era o jornalista responsável pelo roteiro do programa de televisão.

Na campanha atual, é uma das principais referências de Marina, ao lado de antigos aliados, que estiveram na campanha presidencial anterior, como Nilson Oliveira, Bazileu Margarido, Tasso Azevedo, João Paulo Capobianco, Pedro Ivo e Maristela Bernardo, entre outros.

Com perfil discreto, Alves evita falar antes do primeiro turno. "Mas não há um texto de Marina que não passe pela sua revisão. Ela tem uma grande confiança nele. É uma grande referência para Marina", afirma Diniz.

Comentário de um amigo que avisou sobre o material do Valor:

- Bem, estruturar um perfil do Toinho em falas de Jorge Viana, Gomercindo... Não pega bem nem para o Toinho nem para a Marina. Além disso, o que menos o acreano quer é ver a Marina próxima aos Viana. Diria que isso até faz perder votos. Essa deve ser mais uma jornalista idiota, que não percebeu a realidade das coisas. Militância por militância, a Marina está sendo crucificada pelo Lula. Isso não é hora para aproximar a Marina de tudo aquilo do que ela deve se afastar. Além do mais, já basta dessa mania de dar sempre espaço para o Jorge Viana se exibir.

Meu comentário:

- É engraçado porque tem depoimento até de gente que na verdade odeia Toinho. Outros depoentes agem com a mesma hipocrisia em relação à Marina. Na mídia um coisa, por trás, porrada.

Um comentário:

Albuquerque disse...

Voto em Marina, mas discordo muito das ideias do Toinho. E, piora quando percebo suas ligações de poder com os vianas, que por sinal já estão com o discurso de que 'inventaram' a Marina e militam com ela há mais de 30 anos, hipócritas. Nos tempos de embates os vianas eram secretários e diretores no governo Flaviano Melo.