quinta-feira, 6 de março de 2014

Eu não sabia que eu era tão importante

POR MARLÚCIA CÂNDIDA 


Eu não sabia que eu era tão importante.

Pensava que era apenas uma imigrante da década de setenta de Goiás para o Acre. Nascida em uma família simples, que gosta mesmo é de trabalhar. Meus pais sempre nos disseram que a mulher precisava “estudar para não depender de marido”. Isto significava o seguinte: seja dona das suas ideias, assim você será admirada, respeitada e amada por um homem que a mereça. E, assim foi. O destino me colocou um homem, que por causa do seu brilho, eu de repente virei vitrine.

Se eu fosse do tipo que não aproveita as oportunidades para fazer o BEM e projetos ousados, digo na gastronomia e no design. Se não participasse da vida política do meu marido e ficasse apenas cuidando da sua agenda e dos botões das suas camisas eu não estaria passando por todos estes comentários. Mas, fui inventar de criar o ACRE SOLIDÁRIO, a ESCOLA DE GASTRONOMIA e promover o DESIGN de produtos acreanos. E, ainda motivar grupos de pessoas para debater a política. E ai eu perdi completamente a minha liberdade. Deixei de ser a Marlúcia para ser apenas a esposa, ou seja, a sombra.

Tudo bem, com muito orgulho sou Primeira Dama do Acre. Mas, gostaria que me descrevessem o papel de uma primeira dama. Mas, por gentileza cuidado com o que vão dizer, pois saibam de ante mão que eu não aceito receitas. Afinal de contas eu sou arquiteta, trabalho com a criação. Sei que muitos gostariam de me ver com os cabelos loiros e lisos, vestindo um vestidinho Chanel e sapatinhos meio salto, com pequenos sorrisos acenasse um tchauzinho com a mãos, usasse bolsa de marca importada, sempre maquiada e não abrisse a boca, pousasse com uma criança pobre no colo e fosse sempre fotografada entrando nas igrejas e nos asilos.

Penso que muitos não percebem que o mundo mudou. Somos plurais. Vejam o nosso Papa, que lição de aproximação com as pessoas. Pergunto, por um acaso há diferença no meu caráter se sambo na Sapucaí ou se rezo no templo na segunda de carnaval?

Vou informar aos desinformados. Eu através do ACRE SOLIDÁRIO, com apoio do governo e da Prefeitura de Rio Branco, antes do carnaval promovi um baile que arrecadou dinheiro para as vítimas da alagação. Este baile rendeu aproximadamente R$ 45.000,00 que estão sendo destinados a Rio Branco e a Sena Madureira. Visitei as famílias abrigadas no Parque de Exposição e coloquei o ACRE SOLIDÁRIO a disposição de todos. Saibam, que foi a meu pedido que o meu marido adiou o carnaval para o mês de maio. Visto os problemas que estamos passando, mas não podemos anular do calendário uma festa tão importante para a cultura e a economia local.

Vejam, diferentemente de outras Primeiras Damas do passado sombrio deste estado, eu não sou Secretária de Ação Social. Quem não se lembra de donativos que desapareceram numa grande enchente ocorrida há algumas décadas?

O Governo do Estado do Acre é composto por secretarias e secretários com alto nível de responsabilidade e competência os quais não precisam da minha pessoa para resolverem questões relevantes como as enchentes dos nossos rios.

É público e notório, só não enxerga quem está querendo a derrota do meu marido, o trabalho que faço para ajudar o estado. Eu poderia apenas desfrutar das boas coisas que uma esposa de governador tem a oportunidade, como: ir a coquetéis, jantares, viagens e fotos com pessoas importantes. Poderia optar em cuidar apenas da educação dos meus filhos enquanto o pai governa um estado. Poderia gastar a maior parte do meu tampo cuidando da minha pele, do meu cabelo, das minhas unhas. Poderia ao invés de ser feliz dançando tomar remédio controlado, assim não incomodaria os olhos dos falsos profetas.

Mas, a minha opção foi de ser verdadeira, nunca fingir ser o que não sou. Saibam que gosto muito das expressões da cultura popular e de estar próxima a elas. Gosto de abraçar as pessoas, olhar nos seus olhos, ouvi-las, procurar compreende-las, ajuda-las e conhecê-las ... pessoas me inspiram. Por isto, não posso e não devo seguir o receituário de uma Primeira Dama que fica longe das pessoas ou com elas apenas no sofrimento. Me desculpem os que não convivem comigo, mas eu sou e serei uma Primeira Dama com a minha essência, cheia de responsabilidade e de postura que o mundo atual pede de um ser humano.

Sendo assim fui a Sapucaí a convite da Escola de Samba Unidos da Vila Isabel com a minha consciência tranquila prestigiar os acreanos ali homenageados. Era justo que eu fosse, pois coordenei durante 2013 o projeto CHICO MENDES VIVE MAIS. Lembrem que, até ajuda ao Rio de Janeiro o ACRE SOLIDÁRIO já enviou no momento daquela catástrofe em Petrópolis. Pena que os falsos profetas não queiram falar disso. Não gastei dinheiro público, mas sim o ganhado com o meu trabalho de arquiteta.

Agradeço imensamente todas as manifestações de apoio a minha pessoa e ao meu marido. Nunca esquecerei das palavras daqueles que me compreenderam e ficaram felizes, por eu ser uma das pessoas que estava ali com orgulho de ser acreana. Agradeço o carinho da Vila Isabel com a minha pessoa e com o Acre. Eu não imaginava sair na pista acompanhando os puxadores e a bateria. Infelizmente não conseguiu o título tão sonhado, mas para o Acre foi muito importante ser lembrado de maneira tão digna.

Para finalizar, quero dizer-lhes que sempre que possível, nunca abrirei mão da meu direito de ir e vir. E tenho dito.”

Marlúcia Cândida é arquiteta

5 comentários:

Eduardo disse...

Tudo Índio
Nilson Chaves
Eu conheço Wapixana que mora no treze
E ele sabe de outros cem
Que também moram lá
Muita gente índia, muita gente
No conselho indigenista
Macuxi de São Vicente
Tudo índio, tudo parente
Em cada bairro da cidade
Cada tribo tem o seu representante
Os Tuxáuas se reúnem
Toda semana
Na associação do Asa Branca
Tudo índio, tudo parente
Eu conheço Yanomame que vende sorvete
E um predreiro Taurepang que vive de biscate
As mulheres índias
Longe da maloca e da floresta
Sobrevivem como desempregadas domésticas
E os milhares de meninos e meninas
Fazem papel de índio no Boi
Durante as festas juninas
Tudo índio, tudo parente...

Sacaram?

Gabi Ramos disse...

E ela ainda acredita que foi feliz em escrever essa carta. Concordo quando ela diz direito de ir e vir. Mas a custa do Estado não da. Financiar escolas de samba enquanto o Acre morre aos poucos é um crime.

@MarcelFla disse...

Também não vi nenhum bicho de sete cabeças, acho que fazer oposição é algo além.

ELSOUZA disse...

O vídeo mostrou a existência de uma mulher simples e muito tímida, como se repentinamente tivesse caído de paraquedas nas areias de uma praia que não era a sua. Passou despercebida até mesmo pelo pessoal que promovia os avanços da bateria pela avenida. Fico imaginando como alguém conseguiu fazer o vídeo tal era a situação de insignificância da Primeira Dama do Acre na passarela da Marquês de Sapucaí. Sinceramente falando, ela não possui o menor cacoete como sambista. Mas, valeu pela intenção e coragem. Apenas ressalto que, “...o destino me colocou um homem, que por causa do seu brilho, eu de repente virei vitrine”, pode virar letra de SAMBA ENREDO no carnaval de outubro de 2014.

Vamberto disse...

Petista é mesmo sem noção, a primeira dama afirma que ela mesma pediu ao Tião Viana para cancelar o carnaval. Então deixe-me ver se entendo o raciocínio da ilustríssima, ela proibiu os acrianos de pular carnaval no Arena em solidariedade aos alagados; mas ela estava liberada da solidariedade? É isso? Quanta incoerência? Se ela não precisa abeste-se do carnaval, porque obrigou o povo? Isso é falta de ética.