segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

PF continua alvo de represália política

O ano termina sem que o governo do Acre e a prefeitura de Rio Branco tenham asfaltado os 130 metros da Rua Tribunal de Justiça, na Via Verde, onde funciona há pouco mais de um mês o novo prédio da Superintendência da Polícia Federal. Apesar de três apelos formais da PF, prevaleceu a represália do governo e da prefeitura por conta da Operação G-7. Arrastado pelas chuvas, o barro da rua aos poucos vai aterrando a galeria abaixo do prédio do Tribunal de Justiça do Acre. Quando começar a inundar e os desembargadores reagirem, o asfaltamento será inevitável. No Acre, o poder costuma ser cretino, medíocre e narcisista.

Delírios da "reportagem" do Globo contra Fábio Vaz de Lima e Marina Silva


Coisa feia a "reportagem" do Globo intitulada “A dupla militância do marido de Marina”. Entre tantas mentiras contra Fábio Vaz de Lima, destaco as mais elementares:

“…biólogo Fábio Vaz de Lima”. Fábio é técnico agrícola.

“Egresso da chamada “turma de Chico Mendes”, junto com Marina e os irmãos Tião e Jorge Viana (PT-AC)”. Ninguém pode dizer que os irmãos Viana eram da “turma de Chico Mendes”. Nunca foram.

“Na faculdade, onde Marina cursava História, começaram a militar no movimento estudantil, com os irmãos Viana.” Que mentira escabrosa. Jorge e Tião sempre viveram e estudaram em Brasília e Belém. Nunca estudaram na Universidade Federal do Acre. Aliás, eram da Arena e depois do PDS.

"Paulista de Santos, ele foi para o Acre como técnico agropecuário em busca de ajuda de um tio que morava no estado." Outra mentira cabeluda. Fábio é santista, mas veio pro Acre por influência de vários amigos acreanos com quem estudou no interior de São Paulo. Nunca teve tio morando no Acre antes de mudar pra cá. Conheço-o desde o primeiro dia que pisou no Acre.

- Importante ressaltar que, ao contrário do que diz o texto, Marina não foi procurada, em nenhum momento, pela reportagem do jornal para tratar a suposta notícia. Essa conversa teria sido importante para que a repórter Maria Lima não divulgasse informação caluniosa usada pelo então deputado Aldo Rebelo durante a discussão do Código Florestal em 2011 -  diz o Blog da Marina.

Em tempo: o Ministério Público Federal mandou arquivar denúncia caluniosa de Aldo Rebelo contra Fábio Vaz de Lima, destacada pela “reportagem” do Globo. Clique aqui e leia cópia do documento.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Jorge virou grão de milho no papo de Renan

POR JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE 


Por pouco o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB, vixe, vixe), não foi preso. Escapou por um triz. Na véspera de Natal, ele fez um pronunciamento em cadeia nacional. Se fosse na cadeia nacional, estaria até agora trancafiado no Presídio da Papuda, em vez de ficar usando a rede de rádio e televisão em beneficio próprio. A simples contração da preposição com o artigo definido mudaria os destinos do país. O Brasil seria outro.

O discurso delirante do Renan, que durou apenas cinco minutos, foi suficiente para traçar um retrato da vida política brasileira e mostrar o grão de milho no papo da galinha. Mas quem não confrontou o dito com o feito, o discurso com a realidade, não entendeu bulhufas. Com a defesa verbal da decência, da moralidade e da transparência, Renan estava debochando de todos nós?

Quem ouviu e compreendeu o cinismo atroz de Renan foram os surdos, graças à Thamsanga Jantjie, aquele intérprete que atuou no funeral de Mandela e que foi convidado pelo Taquiprati para traduzir Renán na Língua Brasileira de Sinais (Libras).

Voo do implante

O presidente do Senado começou o discurso elogiando sua gestão marcada - imaginem! - "pela transparência e pela ética". Com a maior cara de pau, lembrou as manifestações de junho passado, quando mais de um milhão de pessoas, numa demonstração de cidadania, foram às ruas exigir melhores serviços na área de saúde, educação e transporte publico.

A fala traduzida por Thamsanga, com ajuda do Dicionário de Libras, permitiu ler nas entrelinhas o que disse Renan:

"Ouvi a voz das ruas. Tivemos avanços na saúde, mormente no campo da alopecia. Já aparecem os primeiros resultados. Um paciente atacado de seborreia e pediculose, com perda de pelos no couro cabeludo e no púbis, se recuperou depois de cirurgia de implante capilar no Hospital Memorial São José, em Recife. Foram mais de 10 mil fios de cabelo e de pentelhos implantados pelo cirurgião Fernando Basto, especializado em fazer a cabeça de parlamentares, de arrepiar suas carecas e de otras cositas más".

O intérprete da Língua de Sinais traduziu a parte em que o senador alagoano registrou notável melhoria no transporte de enfermos:

"Os jatinhos da Força Aérea Brasileira (FAB) foram usados outrora para atender interesses privados, como no caso recente do casamento da filha do senador Eduardo Braga (PMDB-AM, vixe, vixe), em Trancoso, na Bahia. Mas hoje tudo mudou, a transparência e o controle social ajudaram a corrigir erros, eliminar vícios e distorções. Hoje, embora o serviço ainda não esteja universalizado, os jatinhos servem de ambulância e transportam, com conforto e gratuidade, alguns pacientes em estado pré-operatório e pós-cirúrgico, como ocorreu no caso da já citada cirurgia em Recife".

Dias antes desta apresentação em cadeia nacional, os jornais flagraram Renan usando jatinho da FAB para ir fazer implante capilar em Recife. Fotografado mamando com a boca na botija, ele consultou o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, para saber se houve alguma irregularidade. "Em caso afirmativo, o senador se compromete a devolver aos cofres públicos o dinheiro gasto no voo da FAB" - afirmou sua assessoria.

Milho no papo

O intérprete Thamsanga Jantjie traduziu a conclusão do que Renan falou ao povo brasileiro. Usou uma expressão bem conhecida: bateu com a mão esquerda espalmada sobre a mão direita fechada e fez como o Fradinho do Henfil: top, top, top. Ou seja, em bom amazonês Renan deu um tremendo cotôco pra todos nós.

O presidente do Senado não ignora, evidentemente, o decreto presidencial 4.244, de 2002 que regulamenta o uso das aeronaves da FAB por autoridades que só pode ser feito "em três circunstâncias: por motivo de segurança e emergência médica, em viagens de serviço ou no deslocamento para seu local de residência fixa".

- Ele estava voltando para sua casa em Maceió, mas mudou de ideia e resolveu 'descer antes' em Recife - justificou correndinho o vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), tentando com essa desculpa esfarrapada legalizar a mutreta do seu colega.

Acontece que o relatório da FAB registra a solicitação do voo para Recife, que além disso está localizada depois de Maceió. Quando andava em companhia de Chico Mendes e de Marina da Silva, Jorge Viana era mais inteligente na defesa de causas mais nobres.

Renan, ex-chefe da tropa de choque de Collor de Mello, tem a folha corrida que tem: seis representações contra ele no Conselho de Ética, pedindo sua cassação, propina da empreiteira Mendes Junior que pagava 12 mil reais por mês à mãe do filho que teve fora do casamento, tráfico de influência junto a Schinchariol na compra de fábrica de refrigerantes, uso de notas fiscais frias em nome de empresas fantasmas, compra de rádios em Alagoas em nome de "laranjas" e por aí vai.

Jorge Viana é, até prova em contrário, um sujeito decente. Pelo menos era. Agora, ele nos engana, colocando seu passado decente a serviço da fina flor da malandragem, do embuste, da trapaça, do nepotismo, do compadrismo, da troca de favores, de tudo aquilo que representa o Brasil obscuro e atrasado.

O pior inimigo do grão de milho não é a galinha, que quando está fraca não pode atacar. É o outro grão de milho que está no papo dela, que está alimentando e dando forças a quem se prepara para atacar todo o milharal. Jorge Viana é o grão de milho no papo do Renan, fortalecendo quem ataca o povo brasileiro. Ele traiu o milharal. Quero que Santa Luzia me cegue se estou equivocado: pior do que Renan Calheiros é Jorge Viana. Um nos ataca, mas a gente já sabe quem é. O outro, em quem confiávamos, nos engana.

sábado, 28 de dezembro de 2013

Vergonha para Rio Branco ao comemorar 131 anos de fundação

Faz 131 anos que o seringalista cearense Newtel Maia fundou Rio Branco ao atracar sua embarcação, em 28 de dezembro de 1882, naquela árvore à esquerda, apelidada como gameleira. Símbolo da cidade, a árvore foi tombada como patrimônio histórico e cultural, construíram e batizaram com o nome dela o calçadão na rua mais antiga, mas a "gameleira" permanece cercada por palafitas onde funcionam bares precariamente. Você está a comemorar o que, cara pálida? Como tratamos a centenária árvore há 131 anos dessa maneira, imaginem a periferia de Rio Branco. Em troca de alguns votos, os prefeitos preferem não enxergar a realidade. Capital da ecologia? Inventem outra piada.

Ciclismo na BR-364

Após 45 anos em construção, tendo consumido mais de R$ 1,2 bilhão nos últimos 14 anos, já é possível percorrer de bicicleta, de Rio Branco a Cruzeiro do Sul, a BR-364, que ainda não foi concluída, sendo alguns trechos apenas de lama e buracos. A prova é patrocinada com verba pública pelo governo estadual.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Liberdade como luz para o caminho do desenvolvimento

POR WESLEY DE BRITO

O economista, e vencedor do Prêmio Nobel, Amartya Sen nos apresenta uma nova e poderosa ideia para que possamos compreender melhor as mudanças sociais e econômicas de uma população, que é a liberdade como luz para o caminho e fim para o desenvolvimento.

Sen propõe que o desenvolvimento deve ser estruturado na melhoria das liberdades básicas dos indivíduos e na abolição das principais fontes de limitação, este último termo é utilizado como sinônimo de pobreza, falta de oportunidade, negligência ou qualquer outro elemento que faz com que os indivíduos tenham poucas escolhas ou poucas oportunidades em sua vida.

As liberdades propostas, como meios de desenvolvimento pleno de uma população, foram classificadas em cinco componentes considerados mais essenciais para a liberdade individual, que são:

- Liberdades políticas: Permitir ao indivíduo determinar sem medo quem deveria governá-lo, como também os meios de observar e criticar as autoridades, plena liberdade de se expressar sobre a política e uma imprensa sem mordaças.

- Liberdades econômicas: Respeito e não intervenção na forma como as pessoas utilizam seus recursos seja por comprar ou produzir e uma preocupação maior na distribuição de renda.

- Liberdades sociais: Dispositivos eficientes para que as instituições e as sociedades se organizem em favor da educação, saúde, segurança, etc., pois as três primeiras influenciam de forma direta na liberdade do indivíduo.

- Liberdade de informação: Pois uma sociedade sólida se constrói por meio da confiança, e a transparência no que o governo faz têm um papel evidente no combate a corrupção e da gestão irresponsável.

- Liberdade de proteção: Instituições que ajudem aqueles que são afetados por mudanças negativas em suas vidas.

No Acre, onde existe ausência de instituições efetivas, onde o governo é lento para cumprir suas promessas econômicas e suas práticas sociais tem um tom sempre eleitoreiro, instituições ilegais como o tráfico de drogas ou ações ilegais ocupam estes espaços vazios, podendo ser até essenciais para certos líderes políticos devido a eterna promessa de que um dia isso irá acabar.

Ainda, caso as instituições governamentais não tivessem restrições políticas e ideológicas, elas seriam primordiais em promover as várias liberdades em nível individual, cooperando com o desenvolvimento social e econômico e suprimindo as limitações das liberdades.

Wesley de Brito é professor, pesquisador, economista e mestre em Desenvolvimento Regional.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Empresário confirma que filho dirigia Mercedes que matou jovem na BR-364

O empresário Francisco Moraes de Sales, dono da Imobiliária Fortaleza, telefonou e enviou nota à reportagem para confirmar que o filho dele, Daniel Barbosa de Sales, estava ao volante da Mercedes Benz que atropelou e matou o jovem Everton Rodrigues Maciel, de 21 anos, por volta das 22 horas de sábado (21).

A vítima, que estava na faixa de pedestre, em frente à Unidade de Pronto Atendimento do 2º Distrito, em Rio Branco, atravessava a estrada com a intenção de comprar na rodoviária, em frente, uma passagem de ônibus com destino ao município de Cruzeiro do Sul. O motorista fugiu sem prestar socorro.

- Estamos profundamente abalados pelo acidente de trânsito envolvendo meu filho, que é o administrador da imobiliária, e o jovem cruzeirense. Lamentamos profundamente o ocorrido - disse o empresário.

Leia mais:

Em alta velocidade na BR-364, motorista de Mercedes mata jovem na faixa de pedestre

O dono da imobiliária garantiu que o filho se apresentou à Polícia Civil nesta segunda-feira para responder judicialmente pelo acidente e vem prestando toda a assistência necessária à família da vítima, incluindo as despesas do funeral.

- Como a família da vítima mora em Cruzeiro do Sul, mandamos buscá-la para o funeral, custeamos todas as despesas, pois entendemos ser essa nossa responsabilidade neste momento - acrescentou.

Moraes confirmou que a Mercedes Benz estava sendo dirigida por Daniel Barbosa de Sales. Ele disse que o filho deixou o carro nas proximidades do acidente para ser periciado.

- A gente está profundamente chocado com o que aconteceu. Realmente muito abalados. Lamentamos que o rapaz tenha morrido. Estamos fazendo tudo o  que podemos para ajudar a família e vamos arcar com todas as consequências do fato. Daniel em momento algum esquivou-se das responsabilidades, não retirou o carro do local. Ele deixou o carro lá para ser periciado e apresentou-se à polícia.

O empresário disse,  a respeito das responsabilidades de Daniel Sales, que o trabalho dos peritos vai comprovar que não houve imperícia nem imprudência por parte do administrador da imboliária.

- Foi realmente uma fatalidade. O sinal estava aberto para o Daniel. Testemunhas dão conta que o rapaz infelizmente tentou atravessar a rodovia correndo. O Daniel não estava bebendo, nem sequer tinha bebida alcoólica naquele carro. Nossa família está prestando toda ajuda financeira e psicológica à família da vítima. Nós vamos arcar com todas as responsabilidades. A família dele está ciente disso - concluiu.

Em alta velocidade na BR-364, motorista de Mercedes mata jovem na faixa de pedestre


Uma Mercedes Benz conduzida em alta velocidade, no trecho da BR-364 conhecido como Via Verde, atropelou e matou o jovem Everton Rodrigues Maciel, de 21 anos, por volta das 22 horas de sábado (21).

A vítima, que estava na faixa de pedestre, em frente à Unidade de Pronto Atendimento do 2º Distrito, em Rio Branco, atravessava a rodovia com a intenção de comprar na rodoviária, em frente, uma passagem de ônibus com destino ao município de Cruzeiro do Sul.

Everton Maciel foi arremessado a mais de 50 metros de distância e teve morte instantânea. O motorista fugiu sem prestar socorro.

A Mercedes Benz, placa MZR-7969, de propriedade da imobiliária Fortaleza, foi encontrada por uma equipe da Companhia de Trânsito a três quilômetros do local do atropelamento.

A imobiliária Fortaleza pertence ao empresário Francisco Moraes, irmão do deputado estadual Manoel Moraes (PSB).

A Polícia Civil instaurou inquérito para tentar identificar o motorista da Mercedes, que foi apreendida e recolhida ao pátio da Delegacia da Segunda Regional.

A Mercedes costumava ser conduzida na cidade pelo diretor comercial da imobiliária, Daniel Barbosa de Sales, filho do empresário Francisco Moraes. Alvo de críticas por causa do acidente, o diretor desativou a página dele numa rede social.

- Como o carro está em nome de uma empresa, a polícia enfrenta dificuldade para identificar o motorista - alegou uma fonte policial.

A fiscalização do trânsito no trecho da BR-364 onde ocorreu o acidente é de competência da Polícia Rodoviária Federal, que não foi comunicada sobre a morte do jovem Everton Maciel.

A imprensa local noticiou vários casos de violência no trânsito de Rio Branco neste final de semana, mas segue ignorando a morte do jovem cruzeirense.

Atualização às 16h11 - Empresário confirma que filho dirigia Mercedes

O empresário Francisco Moraes de Sales, dono da Imobiliária Fortaleza, telefonou e enviou nota à reportagem para confirmar que o filho dele, Daniel Barbosa de Sales, estava ao volante da Mercedes Benz que atropelou e matou o jovem Everton Rodrigues Maciel, de 21 anos, por volta das 22 horas de sábado (21).

A vítima, que estava na faixa de pedestre, em frente à Unidade de Pronto Atendimento do 2º Distrito, em Rio Branco, atravessava a estrada com a intenção de comprar na rodoviária, em frente, uma passagem de ônibus com destino ao município de Cruzeiro do Sul.

- Estamos profundamente abalados pelo acidente de trânsito envolvendo meu filho, que é o administrador da imobiliária, e o jovem cruzeirense. Lamentamos profundamente o ocorrido - disse o empresário.

O dono da imobiliária garantiu que o filho se apresentou à Polícia Civil para responder judicialmente pelo acidente e vem prestando toda a assistência necessária à família da vítima, incluindo as despesas do funeral.

- Como a família da vítima mora em Cruzeiro do Sul, mandamos buscá-la para o funeral, custeamos todas as despesas, pois entendemos ser essa nossa responsabilidade neste momento - acrescentou.

Moraes confirmou que a Mercedes Benz estava sendo dirigida por Daniel Barbosa de Sales. Ele disse que o filho deixou o carro nas proximidades para ser periciado.

- A gente está profundamente chocado com o que aconteceu. Realmente muito abalados. Lamentamos que o rapaz tenha morrido. Estamos fazendo tudo o  que podemos para ajudar a família e vamos arcar com todas as consequências do fato. Daniel em momento algum esquivou-se das responsabilidades, não retirou o carro do local. Ele deixou o carro lá para ser periciado e apresentou-se à polícia.

O empresário disse,  a respeito das responsabilidades de Daniel Sales, que o trabalho dos peritos vai comprovar que não houve imperícia nem imprudência por parte do administrador da imboliária.

- Foi realmente uma fatalidade. O sinal estava aberto para o Daniel. Testemunhas dão conta que o rapaz infelizmente tentou atravessar a rodovia correndo. O Daniel não estava bebendo, nem sequer tinha bebida alcoólica naquele carro. Nossa família está prestando toda ajuda financeira e psicológica à família da vítima. Nós vamos arcar com todas as responsabilidades. A família dele está ciente disso - concluiu.

Filhote de onça

Em Cobija, na Bolívia, Alexandre, servidor da Universidade Amazônica de Pando, cuida de Toto, filhote de onça pintada, de 10 meses de idade

domingo, 22 de dezembro de 2013

Retrato do Acre de Chico Mendes 25 anos após o assassinato em Xapuri


Neste domingo (22) faz 25 anos que o líder sindical e ecologista Chico Mendes foi assassinado em Xapuri (AC) por se opor à pecuária extensiva de corte e à exploração florestal madeireira do Acre, duas atividades predatórias em franca expansão no Estado.

No final da tarde deste sábado (21) fotografei parcialmente uma fazenda na BR-317, palco da luta de Chico Mendes, que agora exibe, como nas demais estradas e ramais, o consórcio da pecuária extensiva de corte com a exploração florestal madeireira, que empregam pouco e são reconhecidamente predatórias.

Como bem assinalou durante a semana (veja) a professora Letícia Mamed, aos empresários rurais no Acre houve concessão de terras, crédito, infraestrutura, renúncia fiscal e inúmeros incentivos, cujos efeitos são a concentração da terra e da renda.

O povo acreano mesmo, sobretudo o que vive na floresta, segue cada dia mais dependente de programas como o Bolsa Família ou Bolsa Verde.

Na margem da rodovia, enquanto fotografava, lembrei de Chico Mendes e do artigo que seria publicado neste domingo, no Blog da Amazônia, em que Marco Antônio Salgado Mendes relata o que o seringueiro disse em 90 segundos - o tempo que teve para se manifestar em Nova York, em 1987, um ano antes de morrer, ao receber um prêmio por causa de sua luta em defesa das florestas do Acre e da Amazônia:

- Fazemos um apelo ao povo norte-americano para que continue exigindo políticas e práticas ambientalmente responsáveis… dos maiores bancos internacionais que financiam o desenvolvimento da Amazônia... Ajudem-nos a enfrentar as multinacionais – inclusive as norte-americanas – que, neste momento, através da exploração de madeira, contribuem para aumentar a devastação...

Artigos e reportagens deste domingo sobre os 25 anos do assassinato de Chico Mendes denunciam o engodo que é o Acre na atualidade.

Apenas o governo estadual segue na insânia de tentar escamotear a verdade. Celebra uma morte no Natal e tenta substituir Papai Noel por Chico Mendes.

Na verdade a morte de Chico Mendes foi transformada em oba oba, circo e festa. Mas é tudo muito medido para disfarçar o drama e impedir a reflexão sobre a verdadeira realidade do Acre.

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Nos EUA, um ano antes de ser assassinado, Chico Mendes anunciou a própria morte

POR MARCO ANTONIO MENDES


Eu viajara a São Paulo para passar o Natal com minha mãe, como sempre fiz enquanto ela viveu. Viagem longa, de Rio Branco, no Acre, onde morava há oito anos, até a “pauliceia desvairada”.

Logo ao desembarcar recebo a notícia: Chico Mendes fora assassinado. Difícil acreditar. Fiquei sem chão. Depois de anos escrevendo para os jornais Varadouro, Gazeta do Acre e Folha do Acre, sobre as ameaças de morte que Chico recebia, estava interrompida para sempre, a sua trajetória viva no planeta que ele tanto se empenhara em preservar.

Mas, acima de tudo, a notícia que me paralisou às vésperas de um Natal em família, era dramaticamente real: o assassinato longamente anunciado consumou-se na noite seguinte ao solstício de 1988. No entanto, aquele episódio se prestaria ao amadurecimento no Brasil, de relevantes questões relacionadas à Amazônia, e por tabela, da questão ambiental; quiçá influenciando outras plagas e rincões.

Na noite do assassinato minha mãe também verteu lágrimas, em meio à tristeza e perplexidade que tomou conta de nós. Ela conhecia muitas histórias a respeito de Chico, e assim como milhares, ou talvez milhões de pessoas vivendo na capital paulistana, nutria admiração e respeito por ele, e pela maneira como defendia a Amazônia. Um sonhador no ocaso do milênio, que não esperou acontecer para fazer a sua hora.

Pouco mais de um ano antes eu o acompanhara numa viagem a Nova York, quando foi premiado por uma ONG grã-fina, a Sociedade por um Mundo Melhor (Better World Society). O manda chuva da ONG era ninguém menos do que Ted Turner, criador da CNN e desde sempre um filantropo da área ambiental. Durante a cerimônia ele foi apresentado como o homem cujo propósito era usar a mídia – em especial a televisão – para envolver as pessoas de forma construtiva, nas ações relacionadas aos destinos do planeta, transformando-o num lugar melhor para se viver.

Hospedamo-nos no Waldorf Astoria, coincidentemente no mesmo momento em que Reagan e Nancy ali também se alojavam, pois o presidente americano encontrava-se em Nova York, para a abertura da Assembleia Geral da ONU.

Ao jantar de premiação, realizado nos chiques salões daquele hotel, compareceram marcantes personalidades da política, da área ambiental, da televisão, das artes, e do meio empresarial nos Estados Unidos.

Aquela viagem representaria mais um impulso na escalada de Chico Mendes, projetando-o e chamando a atenção de pessoas influentes em escala global, para a sua luta à frente dos seringueiros da Amazônia, na defesa de formas tradicionais de subsistência. Tal embate pressupunha a preservação da floresta, clamando por conter o avanço das pastagens, cuja implantação exigia derrubar e queimar um tesouro vivo, e retirar os meios de vida dos povos que nela habitavam.

Um homem meigo, sempre risonho; de bem com a vida. A exemplo de Mandela e de Gandhi, Chico era um homem cordato, e com eles se assemelhava em sua determinação e simpatia. Da mesma forma como eles, trouxe a força da docilidade para uma luta feroz contra os desmatamentos, em favor daqueles que então se nomearam “povos da floresta”.

Pois aquele homem simples - que logo no primeiro banho em Nova York, depois de uma longa viagem desde Xapuri, se enrolou todo e precisou pedir ajuda para identificar o que era, e onde estava o chuveiro da sofisticada suíte de hotel - não titubeava ao solicitar apoio para a causa dos seringueiros. Essa era uma das suas permanentes inquietações; quase como respirar.

Na viagem à “gringolândia”, Chico Mendes contou com o imprescindível apoio de Steve Schwartzman, antropólogo do Fundo de Defesa do Meio Ambiente (Environmental Defense Fund), ONG que tem entre as suas causas a defesa das florestas tropicais. Do desembarque ao último minuto da estadia de Chico nos Estados Unidos, ele o acompanhou, orientou e serviu de intérprete. Um assessor de primeira linha, que com boa vontade se desincumbiu do nó na gravata ao papel de tradutor, mas que, sobretudo, indicou-lhe o caminho, talvez não das pedras, mas dos tapetes de veludo sobre os quais Chico desfilou com desenvoltura a sua simpatia sonhadora. Num certo sentido, Steve foi um importante arquiteto da projeção de Chico no exterior.


Com roupas emprestadas para a cerimônia de gala da noite de premiação (também eu envergava um traje emprestado e, confesso, um pouco grande para o meu tamanho), Chico soube usar os 90 segundos que lhe foram reservados para se dirigir à distinta plateia, para mais uma vez dar o seu recado. Ele foi direto ao ponto:

- Fazemos um apelo ao povo norte-americano para que continue exigindo políticas e práticas ambientalmente responsáveis… dos maiores bancos internacionais que financiam o desenvolvimento da Amazônia... Ajudem-nos a enfrentar as multinacionais – inclusive as norte-americanas – que, neste momento, através da exploração de madeira, contribuem para aumentar a devastação...

Naquela noite Chico circulou um pouco desconfortável no traje, mas emanando a elegância da sua personalidade, entre pessoas eminentes, capazes de influenciar milhões ao redor do planeta. Com a sua modéstia, sorriso e docilidade cativantes, porém, não deixou de denunciar que há anos era vítima de perseguição implacável.

Muitas celebridades presentes ao jantar – entre outros, Phil Donahue, Aga Khan, Lester Brown, Maurice Strong, Roberta Flack, e claro, Ted Turner – estavam de olhos e ouvidos bem atentos para o líder seringueiro das selvas de Xapuri, quando ele mencionou, naquela elegante noite nova-iorquina de 21 de setembro de 1987 (Dia da árvore, no Brasil), as ameaças que frequentemente recebia, muitas das quais eu noticiara nos jornais, na condição de repórter.

Exatamente um ano e três meses depois, no início da trágica noite de 22 de dezembro de 1988, um tiro ecoaria desde Xapuri até Nova York, reverberando uma explosão de comoções, ante a revolta de personalidades de relevância mundial.

A veracidade das denúncias de Chico comprovou-se com um tiro de espingarda quase a queima-roupa. Em consequência, aqueles 90 segundos, algumas horas, ou talvez dias de fama vividos na cidade cosmopolita por excelência, concederam-lhe nova credencial, garantindo seu acesso à confraria dos homens de bem que marcaram a história.

As pessoas envolvidas na morte de Chico Mendes possivelmente pensaram que estavam se livrando de um grande problema. Ao contrário, porém, elas ajudaram a construir um mártir (quem sabe, no futuro, um mito), pois ele havia sido um líder inconteste, de uma causa duplamente inconteste, social e ambientalmente.
 




Ted Turner foi o primeiro a falar durante a cerimônia em Nova York. Naquela noite os aplausos não eram necessários, pois se John Lennon lá estivesse, não titubearia em reiterar que bastava aos presentes chacoalhar as jóias. Além de se referir à admiração pelos valores e garra de Chico, o magnata pioneiro da comunicação global postou-se ao seu lado:

- A Sociedade por um Mundo Melhor coloca-se ombro a ombro com o Senhor Mendes e com aqueles que estão lutando para conter a devastação ambiental em todas as partes do mundo.

Maurice Strong, destacado líder do movimento ambientalista internacional, foi quem entregou o prêmio – de fato uma medalha – ao seringueiro do Acre. Depois de mencionar a importância das florestas tropicais para o planeta, e de lamentar a rapidez com que estavam sendo destruídas, concluiu sua fala oferecendo apoio:

- Ele (Chico) tem dedicado seu conhecimento e liderança para impedir o desmatamento no Brasil. Através de organizações sociais de base. Através de uma ação política. Sua luta afeta a todos nós. Desta forma, nós da Sociedade por um Mundo Melhor, estamos orgulhosos ao declarar nossa solidariedade a Chico Mendes.

Clique aqui para conferir no Blog da Amazônia a sequência do artigo/depoimento. Marco Antônio Mendes é jornalista e escritor, autor de “Delírios a propósito de uma fantasia erótica”.

Reservas extrativistas da Amazônia 25 anos após o assassinato de Chico Mendes

POR CARLOS VALÉRIO GOMES

Em 22 de dezembro de 1988, há 25 anos, o líder seringueiro Chico Mendes foi assassinado na pequena cidade de Xapuri, no Acre, no interior da floresta amazônica brasileira, devido à sua luta por justiça social e pela proteção ambiental da Amazônia.

Como um arquiteto de uma ação coletiva e não violenta, Chico Mendes mobilizou  os outros seringueiros contra a destruição das florestas promovida pela pecuária, e reivindicando o direito à terra e às práticas de manejo sustentável da floresta. Sua morte provocou ondas de indignação por todo o planeta, e foi noticiada na época por centenas de jornais.

O The Guardian trouxe na primeira pagina “brasileiro que lutou para proteger a Amazônia é assassinado”. O The New York Times afirmou que "ele estava defendendo o próprio ar que o mundo respira" (28 de dezembro de 1988), demonstrando que seus ideais eram muito maiores do que se imaginava para um grupo populacional isolado na Amazônia, que na época era desconhecido pela própria sociedade brasileira. Mesmo assim ele foi o primeiro brasileiro homenageado com o Prêmio Global 500 das Nações Unidas (ONU).

Desde então, o movimento de Chico Mendes, de mobilização popular em defesa das florestas e dos direitos de seus habitantes, ganhou admiradores entre diversas  organizações internacionais de direitos humanos e ambientais. A agenda de Chico Mendes foi rapidamente transportada do meio local ao global e ele legitimamente tornou-se um embaixador mundial para o meio ambiente. Seu nome se tornou mítico, sendo descrito como um "Gandhi da floresta tropical”, um “ eco–mártir”, um "ecologista".

Após 25 anos, a manchete do New York Times noticiando sua morte e o espírito de seu movimento ainda ecoa forte e espalhou-se por toda a Amazônia. Embora hoje muitas histórias de sucesso na defesa da natureza e das populações extrativistas possam ser mencionadas, ainda enfrentam-se muitos desafios para manter vivo o ideal de proteger as florestas e as águas, aliado a melhoria econômica e ao bem-estar das populações extrativistas da Amazônia.

Um dos principais legados de Chico foi a criação das Reservas Extrativistas, onde as populações podem melhorar a vida a partir do uso sustentável dos recursos da floresta e dos rios. O modelo de Reserva Extrativista é defendido como um modelo “ganha-ganha” de desenvolvimento sustentável, no qual as populações extrativistas protegem a floresta ao mesmo tempo que promovem o crescimento econômico e mantêm suas tradições.

As Reservas Extrativistas marcaram uma história de sucesso sem precedentes em ambas direções. Isto se deve não só pela capacidade de mobilização de organizações de base, mas como pelo proativismo na elaboração de políticas ambientais inovadoras para a Amazônia. Hoje existem 67 Reservas Extrativistas Federais e Estaduais na Amazônia, abrangendo um território de cerca de 14 milhões de hectares. Além disso, foram concebidos também novos modelos utilizando os princípios das Reservas Extrativistas, como é o caso das Reservas de Desenvolvimentos Sustentável (RDS) e os Projetos de Assentamentos Extrativistas (PAS), levando esse número para aproximadamente 25 milhões de hectares de floresta.

Apesar das ideias inovadoras de Chico Mendes, que por meio das Reservas Extrativistas têm servido para frear o grande desmatamento nas fronteiras agropecuárias da região amazônica e para garantir os diretos à terra para as populações tradicionais, Chico Mendes representa hoje, para o atual governo Federal, apenas um símbolo. Seu nome é vinculado a meras premiações anuais para congratular atitudes conservacionistas de entidades e profissionais dedicados à conservação ambiental na região. Ou seja, este simbolismo não é transformado em atitude prática, com pouca ou nenhuma ação concreta transformada em política pública a partir dos princípios e ideias de Chico Mendes. Como exemplo disso, as contradições entre a prática e o discurso da presidente Dilma são facilmente observadas.

Clique aqui para continuar a leitura do artigo de Carlos Valério Gomes. Ele é formado em Geografia pela Universidade Federal do Acre e tem mestrado em conservação e desenvolvimento tropical pelo Center for Latin American Studies da Universidade da Flórida e doutorado em Geografia pela mesma universidade.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Amigo da onça


Em Cobija, na Bolívia, registrei, em vídeo e fotos, a dedicação de Alexandre, servidor da Universidade Amazônica de Pando, que cuida de um filhote de onça pintada de 10 meses de idade. Dois cães, sendo um pit bull, convivem com a onça, sem briga, no mesmo quintal.

Tributo a Chico Mendes

POR ISAAC MELO

É possível progresso na Amazônia sem os bois do agronegócio?
É possível agronegócio sem a destruição da floresta?
É possível a floresta sem destruição?

Chico Mendes
Encontrou o momento propício ou fez propício
o momento para a discussão ecológica?

Chico Mendes
se tornou um mito porque era grande a sua causa
Ou a causa se tornou grande por sua luta?

A borracha nunca deu certo, nunca beneficiou o Acre,
Que viveu sempre das sobras que lhe deixaram.

Os seringueiros foram espoliados.
Os patrões faliram.
Os governos fracassaram.

Há mais de um século o Acre vive com
O mesmo modelo de economia,
Degradante, dependente e dispendiosa.

O pequeno agricultor abandona a lavoura
Para se dedicar a criação de gado, pois esta é menos dispendiosa
E mais lucrativa. Já que viver da farinha que produz, do arroz, do milho...
Não é suficiente, nem encontra mercado e valor adequados a estes produtos.
Não há dúvida entre uma saca de farinha e um boi.

Assim, o pobre desmata, o rico desmata.
Aquele um roçado por ano;
este dezenas de hectares por dia.

Mas os governos comemoram os resultados positivos.
A comemoração é a floresta em chamas,
Com as labaredas riscando os céus
Em dantescos fogos de artifícios.

A pobreza grassa os seringais.
Expulsa seringueiros, colonos, ribeirinhos.
Seringueiros de ontem, favelados de hoje.

Pequenas cidades com grandes problemas
Valas à céu aberto, ruas enlameadas, esburacadas
Prefeitos, sorridentes e cínicos, contentam-se com o que fazem
E pousam para fotografias que irão ilustrar
As páginas de seus blogs e jornais
Em títulos de matérias vangloriosas que anunciam o excelente
Trabalho que desenvolvem sempre em prol do povo.

O povo embasbacado e anestesiado
Agradece, contente, a benesse dos governos
Que o mantém na eterna dependência.

Cresce a criminalidade, os muros alteiam-se
As drogas, qual alagação indomável, alastram-se.
O governo cria mais prisão
(corta o investimento da educação)
para o pobre que, privado de pão,
se torna nem sempre o bom ladrão.

Mais penitenciária
Para uma educação precária.

O ribeirinho, o colono, na sua dignidade maltratada
Continua a plantar seu roçado, a criar seu gado
Abandonados pela inexistente política de Estado
Que lhe torce o nariz para investimento técnico e cultural.

Soldados da borracha apátridas caem desfalecidos
Nas trincheiras burocráticas
Assassinados por sua própria pátria
Que os enterrou para sempre
No túmulo, outrora verde, da floresta.
Haverá ressurreição?

Povos indígenas um dia dizimados em correrias
Na onda ‘civilizatória’ da ocupação
E progresso do último grande setentrião.

A cada curva de rio tombou um índio à bala.
Bilós, Cerqueiras e padres completaram
O amansamento do ‘gentio’.
Foram os últimos assassinos do rifle
E da palavra.

Agora índio pra ser índio tem que dançar o mariri
Tomar caiçuma, fantasiar-se com vistosos cocares
E fazer festival para gringo, político e intelectual apreciar.
Nova forma de extermínio?

Acre, acre, ácido,
Terra, como toda terra, de contradição
Porque contraditório é o homem.
Terra de meu amor
Onde viceja também meu ódio.

Fogos, música, satisfação e felicidade
Formam a grande mentira deste Estado.

E Chico Mendes?
Morreu em vão?

Em vão morre todo aquele cujo legado
Acaba-se enterrado, com o corpo, num caixão.

Isaac Melo, natural de Tarauacá (AC), é formado e especializa-se em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Edita o blog Alma Acreana.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Marina Silva pede demissão do cargo de professora e processo gera polêmica


A ex-senadora Marina Silva foi demitida nesta quinta-feira (19), a pedido dela, pelo governador do Acre, Tião Viana (PT), do cargo de professora nível superior P2,  do quadro de pessoal da Secretaria de Estado de Educação e Esporte.

O decreto de exoneração, que foi publicado na edição do Diário Oficial do Acre desta sexta-feira (20), entra em vigor com efeitos a contar de 1º de fevereiro de 2013. A ex-ministra desembarcou em Rio Branco nesta tarde para visitar a família, mas deve retornar para Brasília no sábado.

O secretário estadual de Educação e Esporte, Daniel Zen, disse que Marina Silva pediu a exoneração, após todos os afastamentos legais possíveis. Segundo o secretário, a ex-ministra esteve afastada, sem ônus, para exercício de atividade parlamentar, depois para atividade política e finalmente para tratar de interesses particulares.

- Tudo o que Marina fez estava previsto em lei. Ela fez tudo certinho. Não existe nada na pasta dela que seja desabonador. Quando me avisaram do pedido de exoneração, ainda revi o processo na esperança de que existisse uma saída legal para que ela permanecesse no  quadro, mas não havia possibilidade - disse o secretário.

Daniel Zen acrescentou que Marina Silva era professora nível superior P2 com contrato de 30 horas (20 em sala de aula e 10 em atividade fora, no ambiente escolar).  No Acre, professor nível superior P2 ganha R$ 2.010,95, sendo que pode ter dois contratos.

Polêmica

A demissão de Marina Silva gerou polêmica em redes sociais, no Acre. O ex-deputado e atualmente fiscal de rendas Luiz Calixto, reproduziu imagem do decreto e comentou:

- Há mais de três décadas sem pegar numa barra de giz ou preencher uma pagela, finalmente Marina Silva pediu demissão do cargo de professora no estado do Acre.

O advogado Edinei Muniz ponderou que Marina Silva não estava recebendo salário e considerou injusto o ex-deputado dizer que ela não era professora.

- Pelo que sei, antes de se eleger vereadora, ela vivia de ministrar aulas - acrescentou.

Ao tomar conhecimento da polêmica, Antonio Alves, principal assessor de Marina Silva no Acre, reagiu ao comentário de Calixto.

- Ele sabe que Marina estava lecionando ética ao Brasil e deveria ter prestado atenção. Clixto perdeu um mandato de deputado por ficar fazendo futrica ao invés de fazer política de qualidade.

Porém, o advogado Edinei Muniz disse à reportagem que o secretário Daniel Zen pode ter cometido improbidade, pois o término da licença para Marina Silva tratar de interesses particulares foi em 1º  de fevereiro de 2013.

De acordo com Muniz, não havendo outra licença em vigor, Marina deveria ter reassumido o cargo de professora em 2 de fevereiro de 2013.

- Se não fez, deveria ter sido processada por abandono de emprego. O secretário jamais poderia ter dado efeito retroativo se o pedido de demissão da Marina não foi dessa data. Ele pode ter simulado, pois Marina deveria ter sido demitida por abandono do emprego, pois, de fato, abandonou. Uma coisa é ser demitida por abandono de emprego, outra, bem diferente, é ser exonerada a pedido. Para quem quer ser presidente da República isso faz uma diferença crucial.

O assessor Antonio Alves disse que houve um atraso da ex-ministra em pedir demissão porque houve um atraso da secretaria de Educação em fazer o comunicado do término da licença e fazer o chamamento ao trabalho.

- Como não estava havendo ônus, ou seja, Marina não estava recebendo salário, o atraso não gera nenhum prejuízo para o Estado e nem configura nenhuma ilegalidade. É apenas um atraso burocrático - disse Alves.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Prefeitura de Rio Branco asfalta rua de condomínio fechado e revolta jovem

Texto e fotos do estudante Luiz Henrique Carvalho Afonso, de 16 anos



Caro Altino Machado,

Documentei um caso que considero de uso impróprio de maquinário público no Residencial Viena, próximo à Uninorte, em Rio Branco. Veja o maquinário da Emurb operando dentro do condomínio fechado, que pertence à imobiliária Ipê. Estão asfaltando a entrada e a parte interna do condomínio. Todos os funcionários da Emurb estão uniformizados e o maquinário exibe a logomarca da prefeitura de Rio Branco. Eu moro no condomínio Atenas, em frente ao Viena, mas o que presenciei e fotografei nesta manhã me causa revolta, pois o asfalto do lado, da rua do lado, que é uma rua principal, está cheio de buracos. Porém, no Residencial Viena moram juízes, deputado etc. Desculpa a qualidade das fotos, pois a minha lente não é tão potente. Envio as fotos porque é meu dever como cidadão fazer isso. E seu blog  é um dos poucos meios que nós temos no Acre para fazer esse tipo de reclamação. Diferente da grande mídia acreana, seu blog é confiável. Eu gostaria de saber do prefeito Marcos Alexandre: o condomínio está pagando à Emurb pelo asfaltamento? Por que a prefeitura privilegia uns em detrimento da maioria?

Um forte abraço,

Luiz Henrique Carvalho Afonso


Rua Itália, a principal via de acesso


Nota do blog

A reportagem tentou obter respostas junto à assessora de imprensa da prefeitura de Rio Branco, Andréia Forneck, mas o telefona dela estava fora de área.

Atualização às 14h10 - Andréia Forneck explica:

- Boa tarde Altino, como é de seu conhecimento, a Emurb é uma empresa pública. Ela foi devidamente contratada pela Imobiliária Ipê para prestar serviços de recuperação asfáltica no Residencial Viena. Estou providenciando cópia do contrato para lhe enviar.

Atualização às 16h47 - Assessoria de imprensa da prefeitura de Rio Branco enviou cópia do contrato assinado pela Emurb com a Ipê Loteamento, de 9 de dezembro, no valor de R$ 68.668,31, para serviços de recapeamento asfáltico no condomínio Viena-Jardim Europa.

Monstruosidade

Trechinho da liminar do Tribunal Superior Eleitoral que manteve Vagner Sales (PMDB) no cargo de prefeito de Cruzeiro do Sul, a segunda maior cidade do Acre:

“No caso dos autos, admito o mandado de segurança por vislumbrar teratologia no acórdão proferido pelo TRE/AC.”

Tive que consultar o Aurélio para saber que teratologia, em patologia, é estudo das monstruosidades.

Ou seja, ao decidirem pelo afastamento do prefeito, os juízes do Tribunal Regional Eleitoral do Acre tomaram uma decisão esdrúxula, monstruosa, notoriamente equivocada, enfim, cometeram uma aberração.

Tapurus

Faz 35 dias que Ray Melo, Lenilda Cavalcante e eu revelamos a presença de tapurus em marmitas servidas aos pacientes do setor de nefrologia do Hospital das Clínicas do Acre e fomos acusados pelo governo estadual como sabotadores.

Tão logo foi instaurado inquérito na Delegacia de Combate ao Crime Organizado, diziam que as investigações estavam avançadas e que a sociedade ia tomar conhecimento dos nomes dos sabotadores, insinuando até que os três repórteres seriam criminalizados.

Excetuando-se o terrorismo habitual, alguém conhece o resultado da investigação?

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

“Nova classe média rural no Acre”, a estranha invencionice do discurso oficial

POR LETÍCIA MAMED


O artigo “A nova classe média rural e o legado de Chico”, assinado por profissional da equipe governamental de comunicação, representa a costumeira miséria do debate sobre o Acre, sua realidade e, claro, o dito legado de Chico Mendes, aquela figura heróica forjada para viabilizar os mercadores da natureza e seus negócios ambientais.

Leia:

Faixa de renda familiar das classes

O título do artigo sugere haver uma “nova classe média rural” no Acre. Como se sabe, a técnica de dizer o que quiser, repetidamente, manejando parcialmente os dados que interessam, é a regra básica da mídia oficial, exasperada no Acre. Mas não pretendo discutir técnicas de manipulação da linguagem ou táticas de discurso político populista. Meu foco é o conceito de classe. Vamos aos fatos.

O artigo afirma: “Com uma política baseada na diversificação da produção, o que possibilita a retirada de uma renda média de mais de quatro salários mínimos por mês e não apenas na época da safra com um único produto, como era no passado, o governo tem feito surgir uma nova classe média rural no Acre”.

Como é possível considerar que exista uma “nova classe média rural no Acre” se nossa economia está centrada na pecuária extensiva de corte e na exploração florestal madeireira? Aos empresários rurais houve concessão de terras, crédito, infraestrutura, renúncia fiscal e inúmeros incentivos, cujos efeitos são a concentração da terra e da renda. Mas essas atividades empregam pouco e são reconhecidamente predatórias.

Por sua vez, os seringueiros e pequenos produtores não têm acesso a elas, pois somente participam delas os possuidores de crédito e capital. À margem de lucrativos negócios, os trabalhadores da floresta tentam sobreviver à base da Bolsa Família/Bolsa Verde. Afinal, se não todas, quase todas as famílias que vivem do Projeto de Assentamento Agroextrativista Chico Mendes, por exemplo, estão cadastradas no programa social do Governo Federal.

Caso as famílias tivessem condições de viver do que produzem, seria necessário o aporte social do governo? Não, não seria. Ao passo que os empresários rurais enriqueceram, pequenos produtores passaram a figurar nos cadastros de programas sociais. O resultado de tudo isso se traduz no aumento da concentração de renda, aprofundamento da desigualdade e pobreza, associados à degradação ambiental.

E o que é classe? Bem, isso a autoria do artigo parece desconhecer. O dado de que pequenos produtores rurais possuem uma “(...) retirada média de mais de quatro salários mínimos por mês e não apenas na época da safra com um único produto (...)” ainda precisa ser demonstrado. Como ele está sendo medido? Quais os indicadores? Como se dá a tributação em torno dessa renda? Mesmo questionando o dado, é possível trazê-lo para a análise, mas ainda assim ele não se bastaria em si. Isso porque o critério de renda não é o apropriado para se pensar a estrutura de uma sociedade.

O critério marxista é o mais adequado para entender a estrutura de classes em uma sociedade capitalista e explica que o definidor da divisão de classes é a maneira como cada um se relaciona com o seu trabalho, ou seja, os que detêm a capacidade de empregar pessoas, enquanto outros não têm outra alternativa a não ser a de vender a sua força de trabalho, sendo empregados, ou tentar exercer uma atividade por conta própria, em condição mais precarizada, sem proteção e garantias sociais pactuadas.

Assim, é um equívoco entender a elevação de renda como mudança de classe social. Basta estudar que no pós-guerra, por exemplo, nos EUA e na Europa, houve uma elevação de renda que permitiu às pessoas avançar apenas no consumo e, assim, dinamizar a economia. O padrão de consumo aumenta, mas não se muda de classe somente por isso. Classe média é um segmento que consegue acumular e investir. Por outro lado, o trabalhador é aquele que gasta tudo o que ganha no mês, sem condições de poupar, planejar e encampar um projeto de vida maior.

O caso dos nossos seringueiros e pequenos produtores rurais é este último. Eles continuam trabalhadores, vivendo com profunda dificuldade, amparados por auxílio governamental. Logo, eles não constituem uma “nova classe média rural”. E isso não passa de mais uma inversão do real, para encobrir o caos e a miséria do contexto social acreano.

Por respeito à realidade, aquela que existe a despeito das nuvens ideológicas, e à luta dos trabalhadores, esta é uma pontual contribuição ao debate.

Letícia Mamed é professora de Teoria Social do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Acre e doutoranda em Sociologia na Unicamp

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Caminhão do Exército tomba com soldados, jabuti, cobra, macaco e tatu na carroceria

Soldado retira tatu pelo rabo

Leia no Blog da Amazônia.

Caminhão do Exército tomba na curva do Tucumã


Um caminhão do Exército, com recrutas na carroceria, acabou de tombar em Rio Branco, na famosa curva do Tucumã, na AC-40. Há feridos, mas não se sabe ainda se há alguma vítima fatal.
Em meio aos destroços do caminhão, um jabuti sobreviveu. Alguém vai ficar sem ter o que comer no quartel na virada do ano.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Vida desigual e miserável em Assis Brasil


Em trabalho de parto, mulher é transportada em rede até a ponte que o governo do Acre construiu e desabou na semana passada em Assis Brasil (AC), na fronteira com Peru e Bolívia. Clique aqui para saber mais.

sábado, 14 de dezembro de 2013

No Acre, educação atrasada impede desenvolvimento econômico

POR MARCIO BITTAR

O desenvolvimento econômico do Acre exige verdadeira transformação da educação no Estado.  Será preciso um esforço especial para superar as mazelas do ensino e da falta de qualidade na educação pública atual. Dessa transformação dependerá o futuro do Acre e do seus habitantes.

Da mesma forma, sem uma educação pública robusta, capaz de qualificar as pessoas e oferecer oportunidades ao desenvolvimento de talentos, não haverá superação da pobreza. O assistencialismo que é praticado apenas adia e escamoteia o problema. A educação, quando de qualidade e edificante, liberta as pessoas da pobreza e cria perspectivas reais de ascensão social pelo aumento da renda do trabalho. Em outras palavras, melhora a vida das famílias. Nenhum programa assistencialista, nenhuma ação demagógica, por mais mirabolante que seja, é capaz de se equivaler positivamente ao poder de uma educação de qualidade.

É prioridade para quem quer o bem e o desenvolvimento do estado transformar o ensino no Acre. Hoje, imperam problemas de todas as ordens e os indicadores são bastante ruins. O IDH mede a qualidade de vida das populações e abarca indicadores de três dimensões: renda, longevidade e educação. Veja, então, o que ocorreu no país e no Acre com o IDH Educação.

Em 1991, o Brasil tinha um índice de 0,279, considerado como de muito baixo desenvolvimento; em 2000, alcançou 0,456, ainda de muito baixo desenvolvimento. Em 2010, auferiu 0,637, IDH Educação de médio desenvolvimento. O comportamento do índice no Acre é de lenta ascensão desde 1991, em patamares muito insatisfatórios. No início da década de 90, o índice acreano foi de apenas 0,176, inferior ao nacional e de muito baixo desenvolvimento, em 2000 de 0,325, insuficiente para mudar condição de muito baixo desenvolvimento. Dez anos depois, foi de baixo desenvolvimento humano, com índice de 0,559. São indicadores muito preocupantes sobre o patamar de ensino que está sendo oferecido à população. São vergonhosos!

Considero obrigação de governantes sérios e comprometidos com o desenvolvimento e a superação da pobreza reverterem a cristalização da má qualidade educacional no estado.  Tenho a convicção de que a educação é o principal instrumento de um povo para superar as condições de subdesenvolvimento e de pobreza. Países pobres conseguiram galgar posições consideráveis depois de investirem e aplicarem políticas corretas na educação. Coréia do Sul já é um exemplo clássico de como a educação ajuda no desenvolvimento das pessoas e do país.

Como desenvolver, aproveitar os recursos naturais e transformá-los em produtos, aumentar produtividade, fortalecer a competitividade e inovar sem, ao mínimo, oferecer à juventude oportunidades de qualificação profissional e técnica? Que tipo de futuro estão construindo para os acreanos? Deveria ser uma completa vergonha perder jovens para o narcotráfico e a marginalidade. Muitos desses jovens delinquentes sequer tiveram a chance de conhecer outras formas de ganhar a vida.

Qualquer governante sabedor de suas funções públicas deverá ampliar e fortalecer o ensino profissional e técnico no estado, além de qualificar, de verdade, a educação básica do Acre.  Segundo o IBGE, em 2010, somente 39,6% dos acreanos ocupados com 18 anos ou mais possuíam o ensino médio completo. É preciso estabelecer grandes parcerias educacionais com as empresas que irão explorar os recursos naturais do Estado. A educação coorporativa, fortalecida pela parceria com o governo, poderá profissionalizar milhares de pessoas diretamente no aproveitamento dos recursos naturais, qualificando parte importante dos jovens e oportunizando chances reais de uma vida melhor.

Creio que para resolver problemas é preciso admiti-los como reais e conhecê-los em profundidade. O baixo desenvolvimento educacional do Acre precisa ser superado para que o desenvolvimento econômico ocorra de modo salutar e para todos. E não será com falsa propaganda ou promessa vazia que se dará tal superação. É preciso seriedade, compromisso e competência para reverter os indicadores negativos da péssima educação oferecida aos acreanos hoje.

Marcio Bittar é deputado federal do Acre pelo PSDB, primeiro secretário da Câmara dos Deputados e presidente da executiva estadual do PSDB.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

MP quer investigação criminal de “terrorismo virtual” contra promotora

Veja “nota de repúdio” distribuída pela Procuradora-Geral de Justiça, Patrícia de Amorim Rêgo:

“O Ministério Público do Estado do Acre, na pessoa de sua Procuradora-Geral de Justiça, tendo em vista a veiculação de notícia falsa na rede mundial de computadores, publicada no dia 12/12/13 no facebook, dando conta de que a “Promotora Alessandra Marques, depois de ter recebido dezenas de ameaças de morte, é encontrada morta” – com imagens da Promotora de Justiça supostamente mutilada –, vem a público manifestar seu repúdio a esse ato de terrorismo virtual, que em última análise pode ser compreendido claramente como uma ameaça pública à vida e à integridade física de um dos mais combativos membros do Ministério Público.

O Ministério Público repudia atos manifestados com tamanha torpeza, que outra finalidade não tem senão tentar coagir e intimidar os membros da Instituição no seu relevante desafio de defender os interesses da sociedade. Ao mesmo tempo esclarece que a atuação do Ministério Público é impessoal, una e indivisível, e que a ameaça a um de seus membros atinge a todos os integrantes da Instituição. Dessa forma, é ilusão tentar intimidar a atuação de qualquer Promotor de Justiça, porque a mesma atuação, quiçá de forma ainda mais veemente, será desempenhada por outros.

Considerando que a falsa notícia, ilustrada com imagens, associa o suposto crime de homicídio da Promotora de Justiça a um caso que está sub judice, popularmente conhecido como TELEXFREE, e que a nota que acompanha as imagens faz expressa referência ao mesmo termo pejorativo com que a referida Promotora de Justiça foi agredida verbalmente por um dos divulgadores da empresa, após a audiência de conciliação realizada no dia 14 de novembro de 2013, o Ministério Público informa que está requisitando a abertura de investigação criminal para apurar a autoria da referida publicação e que tomará todas as medidas cabíveis no sentido de responsabilizar os autores das ameaças.

Por fim, em face da gravidade do fato de que aqui se trata, o Ministério Público conclama a todos os seus membros a se manterem unidos em torno dos ideais que norteiam a instituição, e que não se deixem intimidar por nenhum tipo de ameaça, relembrando que somente duas espécies de pessoas temem a atuação do Ministério Público: os ignorantes, porque não o conhecem; e os bandidos, porque o conhecem muito bem.

Rio Branco-AC, 13 de dezembro de 2013.

Patrícia de Amorim Rêgo
Procuradora-Geral de Justiça
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Pescaria de jaú

Pescaria de jaú no igarapé Embuia, afluente do Xinane, nas cabeceiras do Rio Envira, região habitada por índios isolados, na fronteira Brasil-Peru. Um dos maiores peixes brasileiros, o jaú mede até 1,5m e pesa até 120kg. Foto: José Meirelles.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

No TCE, impasse sobre salários é resolvido com diálogo de conselheiros e servidores


Surtiu efeito a mobilização dos servidores do Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Acre contra a proposta que a direção do órgão enviaria à Assembleia Legislativa para reajuste salarial de 42% para ocupantes de cargos comissionados e de 6,5% para servidores efetivos.

O presidente do TCE, Valmir Ribeiro, recebeu na tarde desta quarta-feira (11) os diretores do sindicato dos servidores e dialogaram com franqueza. Eles chegaram ao entendimento de que a proposta não será mais mais enviada aos deputados.

Leia mais:

Sindicato repudia reajuste salarial de 42% para comissionados e de 6,5% para servidores do órgão

Ribeiro ponderou os apelos dos servidores e decidiu que a polêmica seja resolvida em 2014, quando será apresentado aos parlamentares a minuta de um projeto de lei dispondo sobre o Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração.

- Nós vamos continuar a construir esse processo com a transparência necessária. Os servidores terão sempre participação direta na discussão do projeto. Faremos o melhor possível coletivamente - disse o presidente do TCE.

Desde a criação do TCE, foi a primeira vez que os servidores realizaram manifestações públicas, valendo-se de blogs, redes sociais e ocupando parcialmente a rua do órgão. Foi também a primeira vez que os conselheiros se renderam à necessidade de dialogar com os servidores e com a sociedade.

Nota de esclarecimento

O Tribunal de Contas do Estado do Acre vem a público prestar os seguintes esclarecimentos em virtude da várias notícias divulgadas pelo Sindicato dos Servidores do Tribunal de Contas – SISCONTA.

O Tribunal apresentou ao Sindicato proposta de aumento salarial das tabelas dos Cargos Efetivos e de realinhamento dos vencimentos dos Cargos Comissionados, frisando que estes não tiveram qualquer reajustamento desde o ano de 2008, diferentemente das remunerações dos Cargos Efetivos.

Este realinhamento trazia o nivelamento remuneratório dos ocupantes de Cargos Comissionados, igualando a remuneração dos não efetivos àquela já percebida pelos ocupantes que também pertencem ao quadro do Tribunal.

Como não houve aceitação na proposta e atendendo a uma solicitação do Sindicato, a Corte de Contas decidiu estender a discussão para o ano vindouro de 2014, na análise da proposição do Plano de Cargos, Carreiras e Remunerações apresentada pelo Sindicato, que será apreciada pelos Conselheiros.

Frise-se que o aumento oferecido à categoria para nivelamento dos Cargos Comissionados entre seus ocupantes, efetivos ou não, tinha como objetivo apenas o realinhamento remuneratório com paridade em seus pagamentos, uma vez que a maioria dos servidores ocupantes destes cargos e que fazem parte do Quadro Efetivo, já recebem as remunerações propostas.

Esclarece-se, ainda, que o impacto total na folha de pagamento, com os aumentos oferecidos, seria de 6,5% na folha dos efetivos e 5,3% na folha dos comissionados.

Cons. Valmir Gomes Ribeiro
Presidente do Tribunal de Contas do Estado do Acre


Cultura do lixo em Rio Branco

POR TIAGO DOS SANTOS 


Prezado Altino,

Há alguns meses acompanho teu blog e gosto muito das tuas publicações, mesmo que, em alguns casos, os textos não sejam produzidos por você. Como estamos em uma democracia, acho muito interessante a tua maneira de colocar as notícias, dando oportunidades para todos, independente da situação em que se encontre.

Moro no conjunto habitacional Manoel Julião há dois anos e estou verificando uma situação que achei impossível não fotografar e mandar para você, sugerindo que seja feita uma reportagem sobre o assunto.

Como pode ser observado na foto, tirada nesta terça-feira (10), às 6h da manhã (horário do Acre), na Rua Luiz Z. da Silva, nas proximidades da parada final do ônibus, numa das principais vias do bairro, havia uma quantidade enorme de lixo espalhada, fora das caixas apropriadas, bem como uma quantidade grande de entulho que permanece esperando alguém para retirar do local.

A sujeira é tanta que ônibus e veículos pequenos que circulam pelo local têm que usar a pista contrária (andar na contramão) para desviá-la.

Com relação ao lixo, percebo que os caminhões até fazem o recolhimento, mas depois de recolhido, deixam as caixas coletoras no meio da rua, atrapalhando o trânsito. Em algumas situações isso é feito por causa do estado das caixas, pois não possuem mais “rodinhas” que facilitariam a colocação das mesmas em local apropriado.

Outro detalhe é que algumas pessoas, que imagino sejam proprietárias de casas de carne, colocam as ossadas nessas caixas, gerando mal cheiro e trazendo para o local diversos animais indesejados, como ratos e baratas.

Olhando a quantidade de entulho que está à espera de ser retirado, também pode ser observado o descaso, pois, pelo conhecimento que tenho sobre o assunto, não há nenhuma obrigação do poder público (prefeitura) de recolher entulhos. A obrigação é de quem gerou o mesmo, mas existe uma cultura que só conheço no Norte do País, onde as prefeituras fazem o recolhimento do entulho em vez de fiscalizarem e punirem quem coloca a sujeira em via pública.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O prato mais brasileiro

Bem aventurados os que têm um prato com farofa de ovo caipira, carne moída, banana, feijão e arroz

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Chico Mendes é usado no Acre para abafar incentivo do governo à pecuária

POR JOÃO MACIEL DE ARAÚJO 


É sabido que os governos da coligação Frente Popular do Acre (FPA) nestes 15 anos estão repletos de contradições e forçoso discurso otimista difundido pelos seus programas de propaganda e marketing e absorveu completamente a imprensa local e as pseudo-lideranças de movimentos sociais, outrora progressistas e militantes da justiça social e da causa dos “povos da floresta” -uma terminologia assentada no cansativo repertório dos políticos que a proferem exaustivamente.

Ao longo destes anos, as vozes que se opuseram a aceitar passivamente as figuras falaciosas criadas e propaladas pelos articuladores dos governos da FPA foram sistematicamente amordaçadas, desqualificadas, caluniadas e hostilizadas por uma imensidão de oportunistas que incham a máquina pública, fartamente financiada pelos empréstimos feitos junto a bancos internacionais, nacionais e pelas abundantes transferências voluntárias feitas pelo governo federal durante o mandato de Lula, muito embora o atual mandato do executivo estadual seja marcado pela confissão de que o Acre se encontra numa profunda crise financeira.

O núcleo da hipocrisia do governo estadual assenta na apropriação e tosca manipulação da imagem de Chico Mendes, e de seus ideais, como um dos principais líderes de um legítimo movimento de resistência protagonizado pelos seringueiros do Acre durante os anos 1970 e 1980. Inegavelmente, aquele movimento constituía um importante grupo no processo de criação do PT no Acre e por reunir uma série de características e reinvindicações que competiam para o rompimento de uma herança maldita, legada do autoritarismo do seringalismo. Aquele movimento forneceu o principal argumento que sugeria a “mudança”, aspiração da maior parte da sociedade acreana.

Como já foi exaustivamente explorado por estudiosos da história recente da região, num embate que opunha frontalmente os interesses das oligarquias políticas herdeiras da falida economia da borracha de um lado, aos interesses dos representantes do processo de integração das terras acreanas a frente de expansão da fronteira agropecuária, os seringueiros emergiam como uma terceira via, muito mais identificada com a massa da população local. Daí pra frente, os desdobramentos desses processos no plano político-eleitoral já são conhecidos e as consequências diretas perduram.

No primeiro mandato da FPA, os interesses dos seringueiros pareciam estar contemplados naquilo que teoricamente seria um governo também deles. Lei de Subsídio Estadual da Borracha, criação de uma Secretaria Executiva de Floresta e Extrativismo (Sefe), fortalecimento de iniciativas ligadas à viabilização da produção florestal não-madeireira (apoio à pesquisa e a cooperativas de comercialização), medidas destinadas a comprovar que a proposta de reservas extrativistas seria de fato uma alternativa de promoção da dignidade dos povos da floresta, além da falácia contida no que chamaram “florestania”.  Tudo uma ilusão de ótica.   Já no segundo mandato o “extrativismo” da Sefe, que estaria voltada a atender os anseios dos seringueiros, foi extinto, restando aí uma Secretaria de Florestas (Sef), imbuída de deslanchar a produção madeireira que seria para os seringueiros, em seus territórios de reservas extrativistas, mas seria, principalmente, para os madeireiros empresários. Mesmo assim, ainda não estamos livres do efeito da ilusão de ótica. Entre os seringueiros, a exploração de madeira não deslanchou como fonte de renda, segundo os moldes impostos pela regulamentação puxada pelo governo do Acre. Porém, entre os madeireiros, houve concessão de terras, crédito, infraestrutura, renúncia fiscal e toda a sorte de incentivos cujos efeitos são a concentração da terra e da renda.

Em outra frente, sorrateiramente e em nome da “governabilidade”, o governo da FPA, por mais que revestido de uma aura de ambientalista (e mesmo cheio de “ambientalistas”), manteve seu apoio incondicional à expansão da pecuária bovina no meio agrário acreano, de maneira a proporcionar-lhe renda incomparável a qualquer outro produto que aí se possa produzir. Fiel aos princípios da política tributária em nível nacional, que privilegia o agronegócio (ver, por exemplo Convênio ICMS 100/97), o governo do Acre não vacilou em editar documentos neste sentido.   Diferentemente do preço da carne no mercado local e nacional, a base de cálculo para incidência de ICMS sobre operações com gado bovino permaneceu praticamente inalterada neste período. Sendo justo, destaque-se uma pequena tentativa de reação durante o governo de Binho Marques, mas que foi rapidamente colocada sem efeito. Não fosse o bastante, enquanto o consumidor, trabalhador acreano, paga elevados impostos na aquisição de bens elementares, a alíquota de ICMS para operação de envio de gado bovino a outros Estados se mantém sempre reduzidas, isso quando não se reduz a própria base de cálculo a valores irrisórios.

É impressionante a quantidade de decretos e portarias expedidos pelo governo para beneficiar a pecuária. Aliás, não seria de se admirar que uma análise mais detida sobre estas medidas logo revelasse que o executivo estadual incorre em crimes fiscais. As generosíssimas medidas, que nos ajudam a compreender o crescimento da pecuária, passam praticamente despercebidas, inclusive pela base dos “movimentos sociais” de apoio ao governo do Acre. Do ponto de vista da história do avanço da pecuária em território acreano, o governo da FPA concedeu exatamente o que esta requeria nesta fase, ou seja, não mais somente os benefícios do Proterra nos anos 1970, não mais somente o crédito do Banco da Amazônia para instalar fazendas nas décadas de 1970 e 1980, mas, agora, o benefício fiscal na hora de vender o gado.

Não se pode negar que a política tributária do governo da FPA em relação à pecuária, que favorece a concentração de renda e o monopólio da terra pela pecuária, é muito eficaz e efetiva. Na realidade, com raríssimas exceções, mesmo nas áreas de reserva extrativista (considerando também os projetos de assentamento agroextrativistas), a principal fonte de renda obtida pelos moradores através da exploração da terra, provém da pecuária. Pecuária que é veementemente reprimida por instituições governamentais e não-governamentais de proteção ao meio ambiente sob a alegação de que distorce a função de reservas extrativistas, onde não pode haver grandes rebanhos. Ora, a pecuária totalmente regulada pelas vontades do mercado se fortaleceu a tal ponto que, em última análise, o morador de uma reserva extrativista tornou-se um “trabalhador” para o grande pecuarista exportador, assim como a própria reserva extrativista atende ao interesse de expansão de seu rebanho, seja pelo arrendamento direto de pastagem ou pelo falso domínio do próprio morador.

Reparem a quantidade de casas agropecuárias que foram criadas nos últimos 15 anos no Acre. Elas não servem para o beneficiamento de castanha, óleo de copaíba, ou outro produto da floresta. O capim brachiária é o vegetal mais familiar do povo acreano, e não a seringueira ou qualquer outro vegetal nativo. É deste período, de 15 anos, o surgimento em todos os municípios do Vale do Acre, de inúmeros bairros que abrigam precariamente uma população refugiada do campo, sobretudo em Rio Branco.  Aliás, não é coincidência o escândalo do Operação G-7, uma vez que o setor que mais emprega os refugiados do campo na cidade é a construção civil, tornando, portanto, os empreiteiros a outra face do patronato alimentado pelo governo.

De outra parte, sem qualquer apologia à figura em si, recorro à uma fala do fazendeiro Darly Alves, que foi condenado por mandar matar Chico Mendes, em entrevista concedida ao repórter Leonencio Nossa, do jornal O Estado de S. Paulo, na semana passada. Além de ser uma ironia do destino, é também muito esclarecedora e reveladora do quanto o governo do Acre tem sido contraditório. Explica Darly ao ser perguntado sobre sua chegada no Acre:

- Eu vim para plantar 12 mil covas de café. [...] Eu era fanático por café. [...] Mas é o bicho que mija para trás (boi) que leva a gente para frente. Comecei a criar gado.

Já pensou? Não conheci Chico Mendes, mas acredito que o cenário atual do Acre em nada se assemelha ao que ele e seus companheiros vislumbraram. Depois de manter uma política tributária que contribui determinantemente para desgastar a proposta de reservas extrativistas e municiar as críticas conservadoras que dizem ser esta uma proposta inviável e equivocada, o governo estadual ainda tem o cinismo de sair com este “Chico Mendes Vive Mais”. Duvido que qualquer uma das caras que aí estão para as eleições de 2014 tenham a intenção de fazer diferente.

João Maciel de Araújo é cientista social e mestre em desenvolvimento regional pela Universidade Federal do Acre

Adeus, Leão

José Aldúcio Oliveira Leão, 49, o coronel Leão, ex—ajudante de ordens do governador e que trabalhava como segurança do atual senador Jorge Viana (PT-AC), perdeu a luta de dois anos contra um câncer. Não era de elevar o tom de voz para preservar autoridade. Sempre o admirei pela humildade e discrição. Personagem imprescindível para quem estivesse a escrever perfil ou biografia de Jorge Viana.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Reportagem do Globo destaca o "sonho traído de Chico Mendes"

CHICO OTÁVIO



XAPURI (AC). Durante curso recente de formação de lideranças no Acre, um jovem seringueiro foi convidado a expressar, em desenho, o que pensava sobre o futuro da Reserva Extrativista Chico Mendes, um bolsão verde de 970 mil hectares que atravessa seis municípios e simboliza a luta ambientalista no estado. O rapaz, de uma comunidade tradicional da floresta, não hesitou: em traços rápidos, desenhou um prédio.

A reserva é um dos legados da tragédia de 22 de dezembro de 1988, quando um tiro de escopeta encerrou, em Xapuri (a 175km de Rio Branco), a luta de Chico Mendes contra a destruição nos seringais do Acre. Ele acreditava que a sobrevivência do caboclo dependia da mata em pé. Vinte e cinco anos depois, este sonho padece sob a pata do boi e a lâmina das motosserras. Enquanto a borracha sucumbe à lógica de mercado, a pecuária, a extração de madeira e a modernidade conquistam corações e mentes dos povos da floresta, incluindo seringueiros que lutaram ao lado de Chico.

Até a entidade que o líder seringueiro presidia quando assassinado admite agora como sócios dois filhos do pecuarista condenado por matá-lo. Guinaldo e Darlyzinho, filhos de Darly Alves da Silva, punido com 19 anos de prisão por ter sido o mandante do crime, estão entre os 3.500 sócios do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri. O atual presidente, José Alves da Silva, disse que não havia como barrar os dois irmãos, já que preenchiam todas as exigências legais de sindicalização. Com o aval do sindicato, Guinaldo e Darlyzinho passaram a ter acesso a linhas de crédito rural.

— Chico Mendes era um defensor da floresta. Mas não era o dono do sindicato. O sindicato pertence aos associados. Não vimos motivos para eles (filhos de Darly) não serem sócios — argumentou o presidente.

Produção de 12 mil toneladas 1990 despencou para 470 toneladas

Alves da Silva, um ex-seringueiro de 36 anos, disse que a chegada da pecuária na região representou o declínio da borracha. Hoje, afirma o dirigente, apenas 10% dos filiados à entidade continuam extraindo o látex, cujo principal comprador local é a fábrica de preservativos masculinos Natex, construída pelo governo estadual em Xapuri. A criação de gado, no entanto, mobiliza 80% dos associados e consolida-se, de longe, como o carro-chefe da economia da região, secundada pela indústria madeireira.

— O que está acontecendo hoje no Acre não tem nada a ver com o sonho de Chico Mendes, mas com o seu pesadelo — lamenta o cientista social Élder Andrade, professor da Universidade Federal do Acre (Ufac).

O drama a que se refere Andrade pode ser medido pelos indicadores econômicos do estado. Dados do IBGE sobre extração vegetal informam que em 1990, logo após a morte de Chico Mendes, o Acre produziu 12 mil toneladas de borracha natural. Em pouco mais de duas décadas, a quantidade encolheu para 470 toneladas anuais (2012). Na contramão desse ocaso, um estudo de Élder Andrade revela que a pecuária extensiva de corte e a exploração de madeira praticamente triplicaram em uma década. O rebanho bovino passou de 800 mil para quase três milhões de cabeças. A produção de madeira saltou de 300 mil para um milhão de metros cúbicos anuais.

Ao contrário da borracha e de outros produtos naturais, cujo mercado paga pouco e a longo prazo, uma novilha ou tora de madeira retirada clandestinamente é remunerada à vista. Um quilo de látex rende ao seringueiro R$ 7,80. A lata de 18 quilos de castanha vale R$ 23 — as cooperativas pagam um pouco mais aos fornecedores de castanha, mas só na safra seguinte. Já um bezerro recém-nascido pode render ao seringueiro R$ 300, sem que ele tenha de cumprir as jornadas exaustivas de trabalho na mata.

A madeira ilegal segue a mesma lógica. Se o mercado oficial paga por metro cúbico certificado no Acre R$ 60, o mesmo produto, retirado clandestinamente, pode render até R$ 350. As espécies mais procuradas são o cumaru, a garapeira, a mirindiba, o cedro-rosa e a cerejeira. O ipê, mesmo em áreas protegidas, já está próximo da extinção.

— Não somos contra a preservação, mas defendemos o direito das famílias daqui à sobrevivência. Está provado que as grandes poluidoras do planeta são as grandes mineradoras e a indústria petrolífera. Ninguém é reprimido. Quem tem de pagar, então, é o pequeno produtor do Acre? — critica Alves da Silva, do sindicato de Xapuri.

Brasileia: 32 marcenarias e nenhuma área de extração legal

Em tese, a indústria moveleira do Acre só está autorizada a trabalhar com madeira certificada, procedente de áreas de exploração regularizadas. Porém, a engenheira agrônoma Silvana Lessa, chefe da Reserva Extrativista Chico Mendes (governo federal), alertou que Brasileia, cidade vizinha à de Xapuri e onde Chico Mendes iniciou a carreira sindical, abriga 32 marcenarias sem que exista, em toda a região, uma única área de extração madeireira legalizada.

Brasileia é também o município do Alto Acre onde Osmarino Amâncio, o serigueiro que chegou a ser apontado como sucessor de Chico e foi capa da revista americana “Newsweek”, mantém a sua área ou “colocação”, a Pega Fogo, no seringal Humaitá. No passado, era um dirigente conhecido pelos discursos radicais. Hoje, pelos resultados da fiscalização da reserva, Osmarino tornou-se um dos maiores fornecedores de madeiras ilegais da região. Foi punido, segundo Silvana, com “multa gigantesca”, devido a 200 toras apreendidas. Processado judicialmente, Osmarino nega o corte ilegal e se diz vítima de perseguição política.

Criada em 1990, a reserva extrativista de quase um milhão de hectares tem só sete funcionários para fiscalizá-la. Dentro dela, vegetais e animais silvestres dividem espaço com dez mil pessoas e pelo menos 20 mil cabeças de gado. O último levantamento, em 2010, apontava 7% de área devastada. Mas Silvana Lessa admite que a extensão pode ser maior. Seus funcionários já descobriram dois policiais civis loteando áreas da reserva e vendendo-as ilegalmente em Brasileia, com anúncios nos jornais. Nos seringais Nova Esperança, Santa Fé e Rubicom, o desmate já ultrapassa 50% do território.

— Alguns desses loteamentos clandestinos, que têm até registro em cartório, se parecem com vilas rurais. Ali, um hectare de terra custa até R$ 1 mil — lamenta Silvana.

PT perde prefeituras históricas

Os grandes pecuaristas, facilmente descobertos pelo rastreamento dos satélites, mudaram a estratégia para chamar menos atenção. Passaram a fazer parcerias com os antigos adversários, os seringueiros, estimulando-os a formar pastos em suas pequenas propriedades, nas quais os rebanhos são fracionados. Além de esconderem-se melhor, eles também conquistam a simpatia dos vizinhos da floresta, ampliando seus domínios sem fazer alarde.

Ao longo da BR-317, que liga Rio Branco a Xapuri e Brasileia, imensos campos de pastagens estão repletos de gado. Embora a legislação que criou a reserva exija um cinturão verde de três quilômetros de raio (zona de amortecimento), já não há praticamente árvores em pé nos ramais (estradas vicinais) que levam ao coração da reserva extrativista.

O governo estadual de Tião Viana (PT) tenta frear o ritmo do desmatamento. Fez parceria com a reserva, para reforçar a fiscalização, e montou complexo industrial de madeira certificada em Xapuri, forçando assim que os seringais aprovem planos de manejo comunitário para produção de madeira certificada (retirada de forma planejada para causar o menor impacto possível à natureza). Mas o cenário político não é hoje favorável a ações mais duras. Em 2012, o PT perdeu as prefeituras de Xapuri e Brasileia, berço das lutas de Chico Mendes, e tenta agora recompor o patrimônio eleitoral perdido.

— É inadmissível que o seringueiro que nasceu e se criou aqui não possa ser compensado pelo que fez sem agredir a natureza. O manejo madeireiro já existe desde os tempos de Chico Mendes. A diferença, agora, é que o debate foi ampliado para os meios acadêmicos. A madeira pode ser um componente importante da renda da comunidade. Só não pode ser o mais importante — defende Júlio Barbosa, amigo de Chico e ex-prefeito de Xapuri pelo PT.

Mas nem todos os antigos aliados de Chico Mendes estão de acordo com o protagonismo da madeira e da pecuária na região.

— Não há em nenhum lugar do mundo um exemplo de manejo sustentável da madeira que tenha dado certo. Não há como comprovar. Se Chico Mendes estivesse vivo, acho que ele inicialmente toparia fazer. Mas, passados dois, três anos, diria: “Peraí, agora chega” — critica o advogado Gomercindo Rodrigues, uma das últimas pessoas a ver Chico vivo.

Em Xapuri, os históricos “empates”, quando Chico Mendes e outros seringueiros enfrentavam os jagunços para evitar a derrubada da mata, ficaram no passado. Agora, a briga mais renhida do município opõe antigos companheiros de lutas. No centro da disputa, com desdobramentos na Justiça, está o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, base estratégica para a política cevada pelos créditos rurais.

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