quarta-feira, 17 de outubro de 2012

ALTERNÂNCIA NO PODER É NECESSÁRIA

POR FÁTIMA ALMEIDA
 

A bacia amazônica de solo sedimentar, relativamente jovem, não é um meio adequado para concentrações urbanas. Os povos indígenas que a habitaram, muito antes da chegada do homem branco, eram milhares de grupos, cada um com 300 habitantes em média, fato esse que levou Darcy Ribeiro a conceituá-los como microetnias. Aos povos indígenas andinos, estimados em milhões e que constituem a esmagadora maioria dos habitantes naqueles países, o antropólogo chamou de macroetnias.

Seguindo a lógica implícita no modo indígena de ocupação, pressupomos que o melhor modo para habitação na Amazônia, por grupos não indígenas, seria, daqui para frente, o de ecovilas. Quando o governo do Acre fez o projeto “Cidade do Povo”, teria convidado os antropólogos para debater esse tipo de questão? O referido projeto parece seguir o “fazer o máximo possível com menos custos”, paradigma por excelência do sistema capitalista. É esse tipo de atitude, vindo da Frente Popular do Acre ou da oposição, que precisa mudar, com mais responsabilidade, de fato, para com as gerações futuras.

A reinvenção da República em nossa era foi necessária como um regime de governo que correspondesse ao dinamismo da nova classe dominante - a burguesia. A monarquia gerava parasitismos, além de ser perdulária. O sistema de representação eletiva, com mandatos determinados em quatro ou cinco anos, correspondeu à ideia de transitoriedade no exercício do poder para não se constituir, como ocorria na monarquia, domínio de um grupo por sobre toda a sociedade.

A primeira revolução liberal inglesa ocorreu quando o Parlamento, com maioria de representantes da burguesia, não cedeu às pressões do monarca por elevação de impostos que tinha a finalidade de formar um exército poderoso sob suas ordens. Os burgueses temiam, com razão, que tal exército depois caísse sobre eles próprios. No sistema capitalista, portanto, não é conveniente que um partido permaneça por muito tempo no governo porque ele tenderá a expandir excessivamente o seu domínio e controle sobre a sociedade, com grande prejuízo para a economia.

Depois de uma década no poder, um partido passa a controlar as informações, as instituições e a expandir ad infinitum seu domínio no âmbito da iniciativa privada, forjando situações, quais sejam, levar uns à falência e outros ao aumento dos lucros, usando para isso os próprios braços do Estado, sob seu controle, que vão desde uma simples fiscalização de ordem sanitária a um entrave nas porteiras, numa versão de protecionismo típico dos velhos regimes monárquicos.

O “mensalão” não é um fato isolado e sim o modo como o partido situacionista submete a todos da iniciativa privada que giram em sua órbita a fornecer recursos não contabilizados sob o nome de “caixa dois”, o qual as pessoas sem escrúpulos justificam como modo adequado para ter dinheiro para compra de votos nas campanhas.

A alternância no poder será sempre necessária, historicamente, enquanto perdurar o sistema capitalista que prioriza a livre concorrência.

Fátima Almeida é escritora e historiadora

2 comentários:

Roberto Feres disse...

1. sobre as "cidades do povo" e outras interferências urbanas, recomendo a leitura do Morte e Vida de Grandes Cidades (Jane Jacobs, Ed. Martins Fontes) http://www.casasbahia.com.br/Cidades-Morte-e-Vida-de-Grandes-Cidades-Jane-Jacobs-1599456.html
2. ressalva ao texto: ...levar MUITOS à falência e ALGUNS ao aumento dos lucros...

Acreucho disse...

Se houver no projeto Cidade do Povo "engenheiros" já podemos ficar muito contentes... As obras públicas no Acre costumam ser feitas só por mestres de obras...
Parece que o regime de governo no Acre ainda é o "monarquico" mais puxando para o "anarquico"... Controle das massas por grupos "é" o objetivo! Beneficiar grupos ligados ao Poder e derrubar quem lhes contraria é o dia-a-dia deles... Por aqui ainda se vive no tempo dos Csares e dos Marajás...