terça-feira, 18 de setembro de 2012

JORGE E TIÃO VIANA EM XEQUE

Cristiane Agostine, do Valor Econômico

Sob uma temperatura de 35 graus, dezenas de bandeiras vermelhas avançam sobre uma rua de terra batida em bairro próximo ao centro de Rio Branco. Com uma camiseta polo e calça jeans, o candidato do PT à prefeitura da capital do Acre, Marcus Alexandre, visita as casas de madeira, desviando de buracos e do esgoto a céu aberto. Moradores, sem reconhecer o candidato, recebem santinho com a frase: Vamos juntos fazer o novo.

No Acre, Estado comandado pelo PT há mais tempo no país, é o candidato petista que se apresenta como a promessa de mudança na disputa pela capital. No quarto mandato estadual e há oito anos na prefeitura, o partido tenta se renovar depois de quase perder nas urnas em 2010 e de registrar no Estado a pior votação proporcional da presidente Dilma Rousseff em todo o país, nos dois turnos. O grupo político que governa o Acre, a Frente Popular, encabeçada pelo PT e comandada pelos irmãos petistas Jorge e Tião Viana, senador e governador, respectivamente, vive uma crise.

O mecânico Ernesto da Cruz, 37 anos, ajuda a explicar alguns dos problemas vividos em Rio Branco. Morador do Taquari, um dos 33 bairros que ficaram alagados neste ano, Ernesto diz que sempre votou no PT, mas nesta eleição ficará com o PSDB. Sua mulher, Naira Kelle, mostra a marca da água na parede da casa, em altura superior aos seus 1,60 m. Já prometeram trazer água, esgoto e até agora nada, diz o mecânico. Já trabalhei muito nas campanhas, não pelo PT, mas pelos irmãos Viana. Resolvi mudar, afirma.

O autônomo Rodrigo Rodrigues, de 37 anos, diz que também trocará o PT pelo PSDB. Ao justificar, reclama do fuso horário do Acre, em 2010. A população decidiu em referendo pela volta do fuso de duas horas a menos em relação a Brasília, mas até hoje o horário é de uma hora a menos, conforme projeto do então senador Tião Viana. Além de o governo deixar de fazer muita coisa pela população, desrespeitou a opinião do povo. Como pode?, diz.

Ao apostar em um nome novo na política, a Frente Popular tenta descolar-se do desgaste acumulado ao longo das últimas eleições. Com perfil técnico e discreto, Marcus Alexandre, com 35 anos, começou a campanha como um desconhecido.

O engenheiro galgou postos nos governos petistas no Acre desde que veio do interior de São Paulo, em 1999, e caiu nas graças dos Viana ao comandar o Departamento de Rodagem do Acre (Deracre), responsável pela obra bilionária de pavimentação da BR 364, que cruza o Estado, de leste a oeste.

Jorge e Tião Viana, padrinhos políticos do candidato, pouco aparecem na propaganda na televisão. Marcus Alexandre minimiza a participação discreta dos irmãos e nega ser uma estratégia para evitar a rejeição à sua candidatura. Vamos apresentar primeiro o candidato e as propostas para depois mostrar as lideranças que nos acompanham.

Em Rio Branco, Tião e Jorge Viana receberam menos votos que seus adversários em 2010. Tião teve quase 3 mil votos a menos para o governo do Estado do que o tucano Tião Bocalom, que nesta eleição disputa a capital. Jorge teve 3,6 mil votos a menos para o Senado do que Sérgio Petecão (PSD), também eleito senador. No Estado, o PT venceu em 2010 por uma margem apertada, de 1%.

Mesmo com o controle das máquinas municipal e estadual e o apoio federal, o PT enfrenta eleição acirrada em Rio Branco. Segundo o Ibope (14 a 16 de agosto), Marcus Alexandre tem 38% das intenções de voto e Tião Bocalom (PSDB), 37%. Fernando Melo (PMDB) tem 5%.

Os irmãos Viana reconhecem a crise enfrentada pela Frente Popular: dizem que erraram nesses últimos anos e que a resposta da população, nas urnas, deixou isso claro. Não tem ninguém que tenha sofrido mais para compreender o que aconteceu do que nós, diz Tião.

Em 2010, Dilma Rousseff (PT) teve 15,83% dos votos em Rio Branco no primeiro turno, menos da metade dos 32,61% registrados no país. A petista ficou em terceiro lugar, atrás de José Serra (PSDB), com 47,96% eMarina Silva (ex-PV), com 35,6%. No segundo turno o PT teve na capital 26,7% ante 73,2% do PSDB. A campanha de Marcus Alexandre reflete a preocupação com esse resultado e a exibição de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é discreta.

Para o governador, uma explicação para o resultado nas urnas, sobretudo na capital, que concentra 45,5% dos eleitores do Acre, é a deficiência na infraestrutura da cidade. No Acre, o PT tem boa votação entre os eleitores com maior escolaridade e renda, que dependem menos no Estado. Mais da metade da população de Rio Branco não tinha água e estava isolada por causa da [falta de] infraestrutura, diz. Tião culpa os governos anteriores, da oposição, de terem destruído o município. Não dava para um prefeito sozinho dar conta. O prefeito Raimundo Angelim (PT) está no segundo mandato.

O governador diz que o Estado tem registrado avanços e cita a avaliação de sua gestão e do governo municipal para defender o PT. A gestão de Tião foi avaliada por 72% como ótima ou boa e por 6% como ruim ou péssima, segundo pesquisa Ibope de agosto, e a administração municipal é tida como ótima ou boa por 67% dos entrevistados e como ruim ou péssimo por 6%.

Jorge Viana, que foi prefeito da capital e governador por dois mandatos, diz que a Frente Popular se afastou do povo. O grupo, que combateu o crime organizado, o narcotráfico e a corrupção que marcaram o Acre até o fim dos anos 90, conseguiu imprimir mudanças econômicas e sociais no Estado, mas se acomodou. Nós ganhamos, mas a eleição mostrou claramente que tínhamos que corrigir nosso projeto, colocar os pés no chão, ter humildade, diz Jorge.

Jorge comenta que o maior problema da Frente Popular hoje é com os ex-aliados e aliados, e não com quem sempre foi oposição.

A disputa pela capital mostra os problemas dos Viana com ex-aliados. Os dois principais adversários do PT são dissidentes do grupo que comanda o Estado. Bocalom, que concorreu contra o PT em 2006, 2008 e 2010, foi secretário de Agricultura do governo Jorge no Estado. O candidato do PMDB, Fernando Melo, foi secretário municipal e estadual de Jorge e deputado federal pelo PT até 2010, quando não se reelegeu. O senador Sérgio Petecão (PSD), cabo eleitoral do candidato do PMDB, presidiu a Assembleia Legislativa nas gestões de Jorge.

A divisão da oposição é um dos principais pontos a favor do PT na capital. Se estivéssemos todos juntos seria mais fácil, diz Petecão. Não encontramos uma pessoa ainda que nos representasse. A população quer mudar, mas ainda não encontrou 'a' pessoa para votar. Fernando Melo era do PT e sua imagem está vinculada ao partido. Já Bocalom não aglutina, afirma Petecão pré-candidato ao Estado em 2014.

Empatado com o petista, o tucano Bocalom apostou no ataque ao PT e gastou o horário eleitoral para acusar o petista de supostos desvios cometidos na construção da BR 364. Com isso, teve sanções do Tribunal Regional Eleitoral.

O ataque direto ao adversário é rejeitado por eleitores como a aposentada Graça Lima da Silva, de 60 anos. Não conheço o Bocalom e não gosto de quem fica só atacando o outro, diz, ao declarar voto no PT.

O tucano mantém propostas que lançou há dois anos, quando disputou contra Tião. Bocalom afirma que dará apoio integral aos produtores rurais. É preciso produzir para empregar, diz. Não pregamos que se acabe com a floresta e com os animais em função do homem, mas não se pode matar o homem sem dar condições de vida digna a ele, só para preservar [a natureza].

Já o candidato do PMDB diz que sua campanha não tem proposta. É melhorar o que está bom e corrigir o que está ruim, diz Fernando Melo, que transformou essa afirmação no mote da candidatura, repetido no jingle da campanha.

Dentro da Frente Popular, os descontentamentos enfrentados pelos Viana com os aliados ganharam destaque com a escolha de Marcus Alexandre para disputar a eleição.

Integrantes do grupo, de diferentes partidos, reclamam do autoritarismo dos Viana. Desde que a Frente Popular ganhou o governo do Acre em 1998, os candidatos a cargos executivos foram os dois irmãos ou postulantes com perfil técnico e pouco destaque político - definidos por Jorge e Tião. No comando do Estado, além dos dois irmãos, esteve Binho Marques, que não queria se candidatar e ficou apenas um mandato. No município, além de Jorge, o grupo lançou apenas o prefeito Raimundo Angelim e agora, Marcus Alexandre.

A deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB), a mais bem votada do grupo em 2010, tentou disputar, mas foi isolada. A Frente Popular acabou. Agora é outra coisa, diz Perpétua. Ninguém aguenta ficar em um grupo onde só um tem oportunidade, afirma, sobre o PT. Legendas como o PDT e o PP já saíram da frente, que conta com nove siglas mas teve 14. Apesar das críticas, Perpétua não cogita sair do grupo. Seu marido, Edvaldo Magalhães, é secretário no governo.

Ao analisar esse cenário, Jorge diz não ver problemas em o candidato ser sempre do seu partido. E por que não ser do PT se é o único lugar em que o modo petista de governar município e Estado está sendo implementado? Não há razão, diz.


Clique aqui e leia sobre o distanciamento de Marina Silva e sobre a reconcialiação do PT com antigos inimigos.

Meu comentário

"No Acre, o PT tem boa votação entre os eleitores com maior escolaridade e renda, que dependem menos no Estado", diz a reportagem do Valor. Discordo. Eleitores com maior escolaridade e renda são os que mais "dependem" no Acre. Livres mesmo são as pessoas de baixa renda que podem xingar a vontade e que impulsionam a possibilidade de alguma mudança. Os livres no Acre são os mais desprovidos das tetas públicas.

4 comentários:

Rayssa Natani disse...

Concordo com você, Altino. Quem tem o rabo preso são os que mais se beneficiam e dependem do Estado. Eu não acredito mais nessa possibilidade de se "fazer o novo" votando nos mesmos. E penso que a população de baixa renda, a mais sedenta pela mudança, também crê nisso. Admito que tenho medo do que a oposição pode fazer, mas acho, principalmente pela acomodação dos que aí estão, a mudança mais que saudável e necessária.

Beneditino disse...


DEU NO RICARDO NOBLAT:

COMENTÁRIO

Resta-nos a tarefa de falar mal de todos os bandidos

O senador Jorge Viana (PT-AC) disse há pouco lá no Senado que há neste momento uma ação das elites brasileiras para prejudicar o PT. Ora, ora, ora...

Será que ele se refere ao julgamento do mensalão? O Supremo Tribunal Federal teria aderido aos que se opõem ao PT?

É isso? Ou ele se refere à má situação do PT nas eleições para prefeitos de capital?

O PT foi que não apresentou bons candidatos. E cometeu graves erros, como no Recife.

Talvez o senador queira se referire à publicação pela VEJA das revelações de Marcos Valério sobre o mensalão.

Ora, essa pauta era óbvia. Uma vez já condenado por vários crimes, nada mais lógico que a imprensa corresse atrás de Valério. A VEJA foi mais rápida.

A elite brasileira se deu tão bem no governo passado, ganhou tanto, por que retribuiria perseguindo Lula? Quanto os bancos não lucraram com a política de juros altos, altíssimos, do primeiro mandato de Lula?

O senador Jorge Viana (PT-AC) observa que a história do mensalão está mal contada. Bem, estamos sendo apresentados à história contada pelo Supremo Tribunal Federal. Um Supremo cuja maioria dos ministros foi nomeada por Lula e Dilma.

Provoca o senador Jorge Viana (PT-AC): os que cometeram os mesmos erros do PT não têm moral para falar mal do PT. Pode ser.

Resta-nos então a tarefa de falar mal de todos os bandidos, de todos os partidos. E muito. E sempre. Se não agirmos assim eles prevalecerão.

Ser ou Não Ser... disse...

Pontual seu comentário Altino, eleitores com maior escolaridade e renda dependem das "maravilhosas" CEC´s.

Albuquerque disse...

Noblat acaba com os Vianas. Aqui eles arrotam arrogância e são referenciados pelos puxa-sacos e sangue-sugas do erário. No cenário político nacional pegam cacete direto. Lá o buraco é mais embaixo.