quinta-feira, 14 de junho de 2012

BEM-VINDOS AO PARAÍSO

POR BENEILTON DAMASCENO

Meu Acre continua sendo "tierras no descubiertas" para muita gente da pátria amada - alguns até intelectuoides. Experimentem mencionar seu nome em qualquer ponto do país, e 92 por cento sequer sabe onde ele se situa no mapa do Brasil. Até vizinhos como Amazonas e Rondônia (olhem a ironia!) tripudiam dele, como se fossem grandes coisas.

José Leite, jornalista saudoso, repetia, com inegável sarcasmo: "Ninguém vem ao Acre impunemente". Da estatura da minha inépcia, eu complemento: "Do médico ao professor, do executivo ao advogado, quem faz pelo menos três refeições diárias não tem motivos para vir morar no Acre. Tampouco visitá-lo" (com exceção de quem é degredado por força da profissão itinerante - integrantes do Exército, da PF, por exemplo - ou mochileiros sem eira nem beira). É possível que, tempos depois, apaixonem-se e não voltem mais ao torrão de origem. Normal! Conheço diversos exemplos.

É que o Acre da hanseníase, da malária e da dengue é paraíso dos aventureiros, que recebem cargos na oficialidade por aparentarem ter mente mais evoluída do que nós, cortadores de seringa e catadores de castanha. Foi assim na década de 70, com o governador Dantinha; é hoje, quase meio século depois. Engordam com facilidade, ganham respeito e confiança. Muitos são incompetentes irrecuperáveis, vigaristas, semianalfabetos, mas ostentam o título de "de fora", por isso detêm "notório saber" e credibilidade. E a moribunda casta acreana concorda, resignada.

Até nossos heróis nativos, tipo Glória Perez, Adib Jatene, Jarbas Passarinho, João Donato, chegam a acumular trinta anos sem desembarcar aqui (quem sabe falte dinheiro para custear o traslado até o remoto Norte brasileiro), a menos que sejam convidados de honra do governo, do qual recebem mesuras e tratamento dignos de Vossa Alteza. Do contrário, não enviariam nem um e-mail para a terra que os trouxe à luz. Na minha opinião, são alienígenas, e podem permanecer por onde estão até o juízo final. Não mereciam nem ter placa de estrada vicinal, mas alguns batizam as escolas top de linha do ex-Território, as quais conheceram apenas na cerimônia de inauguração.

Viva o Acre. Vivam os acreanos - os autóctones e os ex-carentes que hoje se integraram a este pedaço de fronteira, procriaram e perto de nós querem ser sepultados.

Beneilton Damasceno é jornaista

7 comentários:

Gabriel De Angelis disse...

Abra a cabeça " Somos todos cidadão do mundo " quem não já se aventurou ? o mesmo jornalista que Escreveu a cima, com certeza tem algum parente ( pai ou avós forasteiro" muito feio escrever isso, mentalidade pequena ( a era medieval já passou.. ou o mesmo Jornalista vai querer por muros cercando todo o Acre? medíocre pensamento !

Gustavo Cardial disse...

Texto pobre. É superficial na abordagem, não cita sequer um caso concreto e apresenta argumentos repisados, maquiados com palavras bonitas.

Como paulistano sem antepassados acreanos, mas que sozinho trocou a correria da cidade natal e o brilho da USP pelas belezas acreanas e a vontade de crescer da UFAC, advirto que se tome cuidado para que a visão aí representada não reforce um triste e retrógrado ufanismo.

Ufanismo que, assim como a sobrevalorização do que é de fora, é prejudicial ao estado.

No mais, sempre percebi que uma das maiores vantagens do povo acreano em relação ao resto do Brasil é justamente receber bem os estrangeiros. E mais: fazê-los se sentir em casa.

Viva o Acre. Vivam os que nele vivem e bem o querem - os acreanos do pé-rachado e os "paulistas" de todo o Brasil.

Janu Schwab disse...

Meu mestre Beneilton, ouro e prata das Letras acreanas, tem sua razão de apontar o que aponta, afinal todo mundo conhece uns e outros que, na dificuldade de ser noutros mercados, são o que podem onde muito não há.

Mas, convenhamos, Benê, vejo na frase do saudoso José Leite uma discriminação dupla: o chauvinismo para com quem vem de fora e o preconceito para com a própria terra.

"Ninguém vem ao Acre impunemente" é de doer o coração de quem veio fugindo da seca e acreditando numa vida melhor, como os nordestinos que vieram às centenas de um milhar.

Dói até mesmo para a história da formação do próprio Acre, já que o gaúcho Plácido de Castro, fugido de não sei porque, veio, a troco de prestígio talvez, mas sobretudo honra, fazer o que fez.

Mas, façamos aqui a análise da própria carne. Conheço uns outros que, acreanos de pé rachado e formação profissional idem, por terem ideias e valores que não correspondem com a moda da terra, são tomados como forasteiros.

Cito um, muito próximo de mim: Daniel Zen. Já ouvi chamarem o cabra de "paulista". E de todos ali da família foi o único que disse: daqui não saio. E ficou.

Cito outro, mais próximo de mim ainda: eu mesmo. Que saí porque quis, voltei porque foi preciso e saí mais uma vez porque não há espaço suficiente para o que faço.

Porém, entretanto, volto quando posso e ainda ouço dos acreanos: com tanto lugar para passar o feriado você vem para o Acre? O

A prova de que só o empirismo salva. É preciso estar forasteiro para saber como um forasteiro se sente. Venham ter um pouco da vida por aqui, seja São Paulo ou Berlin, e sentir como é.

Ainda assim, sei onde o compadre quer chegar. E concordo com ele. Essa terra não é terra de ninguém. Mas para mudar isso é preciso que os próprios acreanos parem de tratá-la como tal.

chedi360 disse...

Viva os soldados da borracha!

Enzo Mercurio disse...

COMO ERA VERDE MEU VALE.

Altemar disse...

Uma vez fui com mãe, Irma e sobrinha as 05:30 da manha para a frente da embaixada americana em Brasília aompanhá-las em espera de vez para obtenção de visto. Era de impressionar a quantidade de Suv e esportivos estacionando e, mais impressionante ainda, era a quantidade de peruas e Pats (e olha q nao considero as meninas de casa assim até porque fomos de corsa 1.0) vestidas, em média, em R$ 5.000. Todo mundo na fila, bem caladinho, escutando direitinho o que diziam os prepotentes guardiões do portal daquele país. Não cheguei a ver muito das cenas porque a galera começou a achar que minhas percepções e opiniões no momento poderiam melar a pretensão tao almejada, voltei pro estacionamento e fiquei aguardando. E conversando ricamente com os ambulantes que orbitam por lá. Entao percebi que o fato de sermos colônia não nos obriga a passar o resto da vida como tal e nem tudo que parece é, minha irmã ia a trabalho e minha mãe e sobrinha iam gastar lá pois ganham o dobro de alguém de mesmo nível, instrução e qualificação lá dos EEUU.
Ao autor dou o maiorrrapoio, a nós acreanos sejamos nós mesmos não interessa o que os outros pensam, somos os melhores acreanos do mundo. Aos de "fora" mais cuidado e lavem a boca com sabão antes de falar do ACRE e dos seus ACREANOS. Viva 15 de junho de 1962.
E bairrista é. o C,,,,

Beneditino disse...

Dantesca xenofobia!