POR EVANDRO FERREIRA
Tenho um filho de seis anos muito serelepe. Já está lendo e seu desenvolvimento físico e mental é normal, graças a Deus. Como toda criança, já passou por várias fases que, de uma forma ou de outra, ajudarão a moldar o seu caráter. E muitas outras fases virão pela frente.
Na fase que meu filho está vivendo, a gente precisa ficar atento para corrigir os rumos, incentivar ou reprimir coisas boas e ruins que afloram.
De uns meses para cá, meu filho está passando por uma fase que todos nós experimentamos quando criança - aquela de sempre querer ganhar ou levar vantagem nas brincadeiras ou outras atividades que pratica.
Leia mais:
Coice na democracia
Nesse aspecto, o meu garoto é exagerado: quando perde uma disputa, mesmo a mais boba delas, chora, esgoela e grita que detesta perder.
Mas tenho agido para mostrar a ele que ganhar e perder faz parte da nossa vida e que às vezes a derrota nos ensina lições valiosas.
Com todo o respeito que um senador da República merece, não consigo enxergar na iniciativa do senador Anibal Diniz (PT-AC), de propor um plebiscito sobre o fuso horário acreano, algo típico de um adulto, sobretudo de um senador da República. Só consigo ver na iniciativa a preponderância, o reflexo da fase infantil um dia vivida pelo senador.
É incrível que a gente esteja testemunhando isso nos dias de hoje, mais de 25 anos após o restabelecimento da democracia no nosso país. E pior: a luta pela volta do estado democrático no Brasil foi uma luta de Anibal Diniz e seus companheiros da Frente Popular do Acre, nos quais me incluo como simpatizante e militante da causa desde o início dos anos 1980, quando militei no movimento estudantil ao lado de Marina Silva, Marcos Afonso, Binho Marques, Carioca, Gerson Albuquerque e tantos outros.
Acreditem leitores, no seio do movimento estudantil, durante o período da ditadura, as decisões nunca foram monocráticas. Tudo era decidido, no âmbito dos diversos grupos políticos existentes na época, na base de muito discurso, tratativas de convencimento e, principalmente, voto, eleição. Mesmo quando a reunião tinha apenas três ou quatro pessoas.
Daí o meu espanto com a iniciativa do senador Anibal Diniz de propor um plebiscito para decidir o que o povo acreano já decidiu no voto em referendo, de forma soberana, em eleições limpas e honestas: a volta do fuso horário que fora mudado de forma arbitrária.
Indiretamente, ajudei a colocar Anibal Diniz no cargo que hoje ocupa, pois votei em Tião Viana, o titular da cadeira no Senado que ele assumiu no ano passado.
Como democrata, respeito as regras do estado democrático que prevalecem no país e considero Anibal Diniz um senador legítimo. Ponto.
Entretanto, afirmo que a atitude dele em relação ao plebiscito proposto, embora juridicamente possível sob o ponto de vista legislativo, além de atentar contra princípios democráticos arraigados – resultado de eleição tem que ser acatado –, faz pouco caso do valor dos votos dos acreanos.
Aníba Diniz desconsidera a vontade de 56,87% dos eleitores que votaram favoravelmente pelo retorno do antigo fuso horário acreano.
Tenho certeza que muitos acreanos pensam assim. Mesmo os que votaram pela permanência da mudança do atual fuso horário acreditam que em primeiro lugar deve-se respeitar a decisão do povo, ou seja, a volta do fuso horário.
Já conversei com muitas pessoas e li muitas opiniões e esse princípio democrático não é questionado por ninguém. Na democracia em que vivemos, é possível uma nova votação para saber se a população acreana, mais uma vez, quer ou não mudar o seu fuso horário.
Se o senador, e o grupo político que ele representa, não ficaram conformados com a derrota no referendo de 2010 e se ele, atendendo interesses pessoais, empresariais e mesmo populares, quisesse voltar a discutir a questão, ele tem o poder para propor legislação sobre o tema, pois seu cargo lhe faculta tal ação.
Antes de fazer o que fez, o senador deveria, atento a princípios democráticos, esperar que em primeiro lugar a vontade legítima da maioria dos acreanos fosse consumada. Somente após isso ele deveria propor uma nova consulta.
De outra forma, e ele fez exatamente isso, como podemos interpretar a atitude do senador Anibal Diniz?
Na angústia que vivo quando penso nessa questão do fuso horário acreano, só posso achar que o senador agiu exatamente como meu filho, de seis anos, agiria em caso de derrota: chorou, reclamou, se revoltou e quer, a qualquer custo, mudar resultados desfavoráveis a ele.
Se essa é uma iniciativa pessoal do Senador, só ele pode esclarecer. Mas é bom que fique claro que ela vai causar muitos estragos eleitorais ao grupo político ao qual ele pertence.
Afirmo isso com autoridade, pois havíamos, eu, Altino Machado, Toinho Alves e outros, alertado o então senador Tião Viana do custo político de persistir no erro de mudar de forma autoritária o fuso horário. As eleições de 2010 foram a prova e as perspectivas para a eleição de 2012 confirmam o estrago.
Ainda existe tempo para o senador Aníbal Diniz se redimir do grande equívoco, fazer uma autocrítica, olhar para o passado recente e aprender com os erros cometidos por alguns de seus colegas.
A derrota, como tenho dito a meu filho, traz lições valiosas.
Na qualidade de eleitor que o ajudou na sua caminhada até o Senado, só posso pedir uma coisa: pense e aja como um autêntico democrata. Só isso.
Evandro Ferreira é pesquisador do Inpa e do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre. Mestrado em Botânica no Lehman College, New York, e Ph.D. em Botânica Sistemática pela City University of New York (CUNY) & The New York Botanical Garden (NYBG).
Tenho um filho de seis anos muito serelepe. Já está lendo e seu desenvolvimento físico e mental é normal, graças a Deus. Como toda criança, já passou por várias fases que, de uma forma ou de outra, ajudarão a moldar o seu caráter. E muitas outras fases virão pela frente.
Na fase que meu filho está vivendo, a gente precisa ficar atento para corrigir os rumos, incentivar ou reprimir coisas boas e ruins que afloram.
De uns meses para cá, meu filho está passando por uma fase que todos nós experimentamos quando criança - aquela de sempre querer ganhar ou levar vantagem nas brincadeiras ou outras atividades que pratica.
Leia mais:
Coice na democracia
Nesse aspecto, o meu garoto é exagerado: quando perde uma disputa, mesmo a mais boba delas, chora, esgoela e grita que detesta perder.
Mas tenho agido para mostrar a ele que ganhar e perder faz parte da nossa vida e que às vezes a derrota nos ensina lições valiosas.
Com todo o respeito que um senador da República merece, não consigo enxergar na iniciativa do senador Anibal Diniz (PT-AC), de propor um plebiscito sobre o fuso horário acreano, algo típico de um adulto, sobretudo de um senador da República. Só consigo ver na iniciativa a preponderância, o reflexo da fase infantil um dia vivida pelo senador.
É incrível que a gente esteja testemunhando isso nos dias de hoje, mais de 25 anos após o restabelecimento da democracia no nosso país. E pior: a luta pela volta do estado democrático no Brasil foi uma luta de Anibal Diniz e seus companheiros da Frente Popular do Acre, nos quais me incluo como simpatizante e militante da causa desde o início dos anos 1980, quando militei no movimento estudantil ao lado de Marina Silva, Marcos Afonso, Binho Marques, Carioca, Gerson Albuquerque e tantos outros.
Acreditem leitores, no seio do movimento estudantil, durante o período da ditadura, as decisões nunca foram monocráticas. Tudo era decidido, no âmbito dos diversos grupos políticos existentes na época, na base de muito discurso, tratativas de convencimento e, principalmente, voto, eleição. Mesmo quando a reunião tinha apenas três ou quatro pessoas.
Daí o meu espanto com a iniciativa do senador Anibal Diniz de propor um plebiscito para decidir o que o povo acreano já decidiu no voto em referendo, de forma soberana, em eleições limpas e honestas: a volta do fuso horário que fora mudado de forma arbitrária.
Indiretamente, ajudei a colocar Anibal Diniz no cargo que hoje ocupa, pois votei em Tião Viana, o titular da cadeira no Senado que ele assumiu no ano passado.
Como democrata, respeito as regras do estado democrático que prevalecem no país e considero Anibal Diniz um senador legítimo. Ponto.
Entretanto, afirmo que a atitude dele em relação ao plebiscito proposto, embora juridicamente possível sob o ponto de vista legislativo, além de atentar contra princípios democráticos arraigados – resultado de eleição tem que ser acatado –, faz pouco caso do valor dos votos dos acreanos.
Aníba Diniz desconsidera a vontade de 56,87% dos eleitores que votaram favoravelmente pelo retorno do antigo fuso horário acreano.
Tenho certeza que muitos acreanos pensam assim. Mesmo os que votaram pela permanência da mudança do atual fuso horário acreditam que em primeiro lugar deve-se respeitar a decisão do povo, ou seja, a volta do fuso horário.
Já conversei com muitas pessoas e li muitas opiniões e esse princípio democrático não é questionado por ninguém. Na democracia em que vivemos, é possível uma nova votação para saber se a população acreana, mais uma vez, quer ou não mudar o seu fuso horário.
Se o senador, e o grupo político que ele representa, não ficaram conformados com a derrota no referendo de 2010 e se ele, atendendo interesses pessoais, empresariais e mesmo populares, quisesse voltar a discutir a questão, ele tem o poder para propor legislação sobre o tema, pois seu cargo lhe faculta tal ação.
Antes de fazer o que fez, o senador deveria, atento a princípios democráticos, esperar que em primeiro lugar a vontade legítima da maioria dos acreanos fosse consumada. Somente após isso ele deveria propor uma nova consulta.
De outra forma, e ele fez exatamente isso, como podemos interpretar a atitude do senador Anibal Diniz?
Na angústia que vivo quando penso nessa questão do fuso horário acreano, só posso achar que o senador agiu exatamente como meu filho, de seis anos, agiria em caso de derrota: chorou, reclamou, se revoltou e quer, a qualquer custo, mudar resultados desfavoráveis a ele.
Se essa é uma iniciativa pessoal do Senador, só ele pode esclarecer. Mas é bom que fique claro que ela vai causar muitos estragos eleitorais ao grupo político ao qual ele pertence.
Afirmo isso com autoridade, pois havíamos, eu, Altino Machado, Toinho Alves e outros, alertado o então senador Tião Viana do custo político de persistir no erro de mudar de forma autoritária o fuso horário. As eleições de 2010 foram a prova e as perspectivas para a eleição de 2012 confirmam o estrago.
Ainda existe tempo para o senador Aníbal Diniz se redimir do grande equívoco, fazer uma autocrítica, olhar para o passado recente e aprender com os erros cometidos por alguns de seus colegas.
A derrota, como tenho dito a meu filho, traz lições valiosas.
Na qualidade de eleitor que o ajudou na sua caminhada até o Senado, só posso pedir uma coisa: pense e aja como um autêntico democrata. Só isso.
Evandro Ferreira é pesquisador do Inpa e do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre. Mestrado em Botânica no Lehman College, New York, e Ph.D. em Botânica Sistemática pela City University of New York (CUNY) & The New York Botanical Garden (NYBG).
7 comentários:
PARABENS EVANDRO!
LINDO TEXTO!
Muito bom o texto Evandro. Mais didático impossível. Para alguns todavia, vai ser necessário desenhar!
Evandro para Senador.
Texto maravilhoso
Já que o Nobre senador Aníbal Diniz e o PT não querem aceitar o resultado do REFERENDO vamos nos mobilizar. Vamos mandar uma mensagem a todos os Senadores e Deputados, acessem http://www.senado.gov.br e http://www.camara.gov.br e diga a eles que o povo do acre não concorda com o PDS 77/2012 (Projeto de Decreto Legislativo) do Senador Aníbal e peçam a todos que aprovem com urgência o PL 3078/2011(Projeto de Lei que a Dilma mandou para o Congresso arrependida de ter vetado o nosso horário) que vai restabelecer definitivamente o nosso horário.
Vamos nos mobilizar! Não vamos deixar a Ditadura prevalecer sobre a Democracia! Acorda povo do Acre!
Excelente texto, só faço uma observação: o comportamento do senador-suplente difere de alguma forma do restante da cumpanheirada? Essa tem sido a normalidade do PT no poder, dar as costas ao povo e se aliar aos grandes grupos econômicos.
Contudo, porquê esse infame partido político se diz partido do trabalhador... 1 década no poder, e a arrogância o predispoê. Querem mandar em tudo, persegue trabalhadores, terceirizam áreas à mercer da incompetência, já está na bendita hora de dizer já deu, não queremos mais esmolas, precisamos de verdade.
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