quarta-feira, 28 de março de 2012

HORA DO ACRE VAI CUSTAR CARO AO PT

POR EVANDRO FERREIRA

O jornal A Tribuna informa que divulgará em breve pesquisa sobre a opinião da população a respeito da iniciativa do senador Anibal Diniz (PT-AC) de apresentar proposta de plebiscito sobre o fuso horário do Acre. Segundo o jornal, a pesquisa mostrará que mais de 60% dos entrevistados "quer que seja mantido o horário atual e que não seja implantado o resultado do plebiscito".

Leitores atentos observarão a coincidência do timing entre a divulgação da pesquisa e a proposição do plebiscito pelo senador acreano. Entretanto, o que os editores do jornal e o senador acreano esqueceram, ou estão fazendo de conta que não estão vendo, é que muitos eleitores e observadores de longa data do cenário político acreano sabem que a tal pesquisa foi feita sob encomenda, com perguntas elaboradas de tal forma que os resultados que "eles" esperam serão obtidos. Tem que ser assim, pois a razão de pesquisas desse tipo é encher os olhos, corações e mentes dos que a encomendam.

Foi assim na eleição de 2010 quando diários e sites locais francamente favoráveis aos candidatos da Frente Popular do Acre, divulgaram, na véspera do pleito, uma "pesquisa interna" colocando Edvaldo Magalhães (PCdoB) à frente de Sérgio Petecão (PSD) na disputa pela segunda vaga para o Senado. O resultado da tentativa de marmelada foi que o TRE-AC aplicou multa de R$ 50 mil em cada um dos veículos de comunicação envolvidos.

Parece que a lição não foi aprendida e a prática de realizar "pesquisas de opinião" com perguntas do tipo pegadinha, tendenciosas e outras do tipo, continua firmemente arraigada em parte da imprensa local, que, coincidentemente, depende, para sua sobrevivência, das verbas estatais. Uma prática que, infelizmente, conta com o aval de importantes dirigentes da Frente Popular do Acre que parecem não se esforçar em aprender lições da virtual derrota de 2010.

Quem tem acompanhado a política no Acre nestes últimos 2 ou 3 anos ficou com a nítida impressão de que, de uma hora para a outra, a Frente Popular perdeu o apelo popular porque parece que o povo passou a não ter importância para alguns dos dirigentes da coligação. Quem milita, militou, nutria ou ainda nutre alguma simpatia por ações e iniciativas desse grupo político que fez um excelente trabalho à frente da administração do Estado nestes últimos 12 anos seguramente fica apreensivo, angustiado e muitas vezes revoltado com essa atitude.

Mas onde tudo começou a dar errado? Onde está a gênese dos problemas que levaram a Frente Popular para o corner do ringue?

De minha parte, acredito firmemente que a gênese dos problemas reside na alteração autoritária do fuso horário acreano. Todo mundo – na Frente Popular – sabia que a mudança feita por decreto era um erro muito grave, pois excluía de forma explícita e sem pudor aqueles que alçaram a Frente Popular ao poder, o povo. Mesmo assim pouquíssimas vozes no seio da Frente Popular se levantaram contra o erro capital. Hoje está claro que a aparente unanimidade política da Frente em favor da mudança autoritária do fuso se impôs por questões de sobrevivência política e financeira visto que a realização do referendo em 2010 coincidiu com eleições gerais. E nessa situação, quem tem a chave do cofre que irriga financeiramente as campanhas impõe sua vontade sem a necessidade de abrir a boca ou bajular para conseguir apoios para a maioria de suas pretensões.

A derrota no referendo sobre o fuso horário em 2010 desnorteou a cúpula dirigente da Frente Popular. No lugar de mostrar humildade e tomar atitudes que indicassem claramente que a vontade da população seria respeitada, prevaleceu um rancor que levou alguns expoentes da Frente a trabalhar pela postergação e negação da implementação do resultado do pleito. Com isso eles apenas prolongaram a exposição, sangria melhor dizendo, que a derrota causou ao movimento.

E os prejuízos eleitorais foram significativos, pois abriram perspectivas para a oposição que de outra forma não existiam. Se não vejamos. Jorge Viana fez um excelente trabalho à frente do governo acreano. Binho Marques, pela sua discrição natural, não foi um astro, mas deixou um legado de obras e ações que não o desmerecem. Angelim cumpriu uma excelente administração em seu primeiro período à frente da prefeitura de Rio Branco. E seu segundo período, embora menos intenso, não foi ruim. E mesmo assim, a derrota do candidato da Frente Popular nas eleições para a prefeitura de Rio Branco é quase certa. Quais as razões? Muitos dizem que o povo cansou da Frente Popular. Isso não existe.

A questão do fuso horário e as erráticas atitudes da Frente Popular em relação à mesma é que desnudaram para o povo uma Frente Popular que as vitórias recorrentes ocultavam. Autoritarismo, arrogância, desprezo pela vontade popular, inconformismo com a derrota, desejo de atingir políticos da oposição que se aproveitaram da questão. Todas essas fragilidades afloraram e a oposição soube capitalizar eleitoralmente.

Politicamente isso não é condenável, não é errado. Condenável politicamente é persistir em uma atitude francamente desafiadora do senso comum, da vontade popular já expressada nas urnas. E isso o senador Anibal Diniz e parte da imprensa local insistem em fazer. O preço político a ser pago vai ser alto. Esperem e verão.

Evandro Ferreira é pesquisador do Inpa e do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre. Mestrado em Botânica no Lehman College, New York, e Ph.D. em Botânica Sistemática pela City University of New York (CUNY) & The New York Botanical Garden (NYBG). Escreve no blog Ambiente Acreano.

2 comentários:

Unknown disse...

parabens pelo texto!

mais claro que isto só se desenhar.

Fátima Almeida disse...

Sabe o que eu acho Evandro? Que só eles estão preocupados com isso porque ficaram numa situação desconfortável e parecem precisar de alívio para isso, que viria na forma de um plebiscito com resultado favorável para eles. Além disso, eles não ganharam nada com isso, daí a impressão de que atenderam ao pedido de alguém como nada mais nada menos que o presidente Lula, interessado, por sua vez, em ter a Globo como aliada. Essa hipótese pode explicar o veto da presidente Dilma que me deixou chocada. Ao mesmo tempo que denota desrespeito para os eleitores acrianos, insignificantes ao ponto de não merecerem noticia no noticiário das TVs, produz desconforto pela contradição entre o discurso e a prática.